Vou correr para escrever e publicar logo esse texto antes que “Suas Excelências”aprovem o PL da
“Censura” (PL 2630)e , em decorrência desse
“crime” que estou cometendo ,seja decretada a minha prisão,em homenagem
à “liberdade constitucional de pensamento e sua expressão”.
Fico pasmo com a guerra deflagrada entre os apoiadores do
Presidente Jair Bolsonaro e os seus opositores,cada qual reivindicando para si
próprio a qualidade de “democrata”,excluindo o “concorrente” dessa condição.
Para os bolsonaristas,a oposição,predominantemente de esquerda,não
passa de um bando de ladrões que destruíram o país; por seu turno,os seus
opositores, da esquerda,denunciam o espírito “ditatorial”como principal marca do governo. Em suma,cada qual se julga mais
“democrata” que o outro !!!
Bolsonaro usa como argumento da sua “democracia” a vitória
que teve no pleito eleitoral de outubro de 2018,derrotando o candidato de
esquerda,Fernando Haddad. E a esquerda
se julga ser só ela mesma a “democrata”, porque o governo federal estaria
montado com muitos militares à sua volta, com isso insinuando que seria a
reimplantação do Regime Militar de 1964.
A verdade é que os dois lados reivindicam,
concomitantemente, a titularidade de defensor da democracia.
Mas da mesma forma que a gente deve desconfiar daquele sujeito
que em todas oportunidades que lhe surgem faz absoluta questão de sempre dizer
bem alto que é “honesto”, quando na maioria dos casos é exatamente o contrário,com a democracia se dá
o mesmo. Quanto mais o “cara” grita que é um democrata,provavelmente menos
democrata ele será.
Há poucos dias tive a (in)felicidade de assistir o ridículo
de uma enorme quadrilha de “esquerdopatas”,composta por autoridades e
ex-autoridades públicas,políticos,artistas,”famosos”,e outros “bagulhos”
mais,que não deixaram nenhuma “saudade” enquanto estiveram no ou ao lado do poder, defendendo
uma “democracia”,que no frigir dos ovos
se confunde com os seus próprios interesses,em
grande parte “feridos” por perderem a “teta” governamental onde
sempre mamaram e roubaram ,em 1º de janeiro de 2019.
Mas tenho para mim que nenhum desses dois grupos,situação,ou oposição,é verdadeiramente“democrata”,seja por contrariá-la,
na prática,seja por não possuir a mínima
noção do que seja a verdadeira democracia,embora possam preencher e se
enquadrar nos falsos requisitos da sua definição
previstos nas leis, nos manuais políticos,e nos “discursos” “democráticos”dos políticos delinquentes que dela fazem uma profissão permanente.
Uma verdadeira democracia pressupõe “qualidades
democráticas” nos seus dois polos,primeiro no eleitorado,depois nos políticos
concorrentes a algum cargo eletivo nos poderes executivo ou legislativo. Mas
geralmente a “qualidade” dos políticos eleitos vai estar em estreita sintonia
com a “qualidade” dos seus eleitores. Bons eleitores, escolhem bons políticos. Mas o contrário
também acontece. E acontece muito. Particularmente no Brasil. Não fora isso,o
povo brasileiro não teria sido
“contemplado” com o “lixo” humano que o
presidiu, de 1985 a 2018.
Nelson Rodrigues deixou uma frase que ficou imortalizada :”A
maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos
idiotas,que são a maioria da humanidade.”. Também o filósofo francês Joseph
Marie de Maistre andou “garimpando” esse assunto, garantido que “o povo tem o
governo que merece”.
Não basta,por conseguinte, previsão na constituição e nas
leis para configurar uma verdadeira democracia,a qual na prática só se mostra útil para o bem comum quando as duas partes nela envolvidas possuem “qualidades”
democráticas.
O filósofo Aristóteles,da Antiga Grécia, desenhou bem essa situação. Em “Política”,ele
classificou as formas de governo em duas grandes vertentes: as formas PURAS e
as IMPURAS. Na primeira (PURAS),estariam a “Monarquia”(governo de um só),a
“Aristocracia”(governo dos melhores),e a
“Democracia”( (governo do povo) ; nas segundas (FORMAS IMPURAS),que
respectivamente seriam as formas corrompidas das primeiras, estariam a
“Tirania” (tipo ditadura),a “Oligarquia” (degeneração da oligarquia); e a
“Demagogia”(corrupção da democracia).
Mais tarde o geógrafo e historiador também da Antiga
Grécia,Políbio,manteve a classificação aristotélica,porém substituiu a
“demagogia” pelo que ele chamou de OCLOCRACIA,com isso “ampliando” os vícios da
democracia. Na oclocracia são chamados a
fazer política exatamente a pior escória da sociedade. E parece não ser preciso
ir muito longe para detectá-la “ao vivo”.
Sérgio Alves de Oliveira
Advogado e Sociólogo
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