Diante do que o STF está fazendo em nome de sua honra já manchada, o que
falta para as receitas de bolo voltarem às capas dos jornais?. Paulo
Polzonoff Jr, via Gazeta do Povo:
Imagine se, em plena luz do dia, um grupo de soldados, a mando do
presidente de um governo militar, mandasse invadir um jornal ou revista
cheio de notícias sérias, mas também de celebridades, de piadas, de
infindáveis bobagens cotidianas. Agora imagine se, uma vez lá dentro da
empresa, os soldados tirassem à força os profissionais autores de
notícias, piadas e bobagens com as quais o mandatário não concordasse.
Se isso acontecesse, como de fato aconteceu durante a Ditadura, as
reações seriam as mais escandalosas possíveis. Um escândalo contido,
meio que sussurrado, talvez expresso apenas com o olhar de quem teme a
tortura. Mas ainda assim escândalo! Absurdo! Violação da Constituição!
Violação dos Direitos Humanos!
Pois o cenário se repetiu na tarde de hoje (24). O jornal invadido
não foi exatamente um jornal, e sim uma plataforma de microblogs, como
dizem os mais velhos. A invasão tampouco foi uma invasão como aquela com
o estardalhaço das botinas que se ouvia antigamente. Foi uma invasão
limpinha, com mandado judicial – expediente que confere uma falsa aura
de legitimidade a um ato autoritário vindo de quem mais deveria zelar
pela Constituição. O Presidente? Não. Digo, também. Mas, neste caso,
quem cometeu a ignomínia foi um ministro do Supremo Tribunal Federal.
Os atingidos são pessoas com as quais pode ser difícil se
solidarizar. Elas vão desde o jornalista Allan do Santos até o
empresário Luciano Hang, passando por Roberto Jefferson, aquele mesmo
que foi condenado no Mensalão do camarada Lula, e pela militante Sarah
Winter. São pessoas que professam verdades que, em geral, não condizem
com as minhas, tanto pelo tom bem acima do que considero aceitável
quanto pelo conteúdo questionável. Pode ser difícil se solidarizar com
essas pessoas, mas é necessário.
O que está em jogo
O que está em jogo, aqui, não é só o conceito abstrato da liberdade
de expressão. Pelo qual, aliás, já se lutou muito nesse país. Até ontem
mesmo não estávamos todos ultrajados com a flagrante censura perpetrada
contra a revista Crusoé? Voltando um pouquinho no tempo, me lembro de
medida semelhante tomada contra o jornal O Estado de São Paulo para
proteger a família Sarney. Isso sem falar nas peças canceladas, músicas
retalhadas e até novelas proibidas pelos censores da Ditadura.
Ah, Paulo, você vai dizer e eu vou ouvir de braços cruzados, com toda
a paciência do mundo. Ah, mas se eles não tivessem feito “coisa errada”
o STF não teria feito uma coisa dessas. Se eles só ficassem publicando
meme de gatinho, por exemplo. Você já viu alguém sofrer ação do STF por
causa de meme de gatinho? E tem mais: você não pode ficar aí defendendo a
liberdade de Allan dos Santos ou Sarah Winter. Pega mal. Eles são
contra a democracia, sabia? Eles são fascistas! Eles...
Desculpe, mas vou ter de interrompê-lo aqui. Porque este tipo de
argumento é de uma imoralidade que me fura os tímpanos. Não há coisa
errada que justifique o atropelo da Constituição. Ora, no Brasil até
latrocida tem direito à ampla defesa e ao devido processo legal. Quando o
que vigora é a presunção da culpa e do dolo, o próximo passo é qual?
Execução sumária dos inimigos?
Quanto a defender pessoas pelas quais não nutro qualquer simpatia
(desculpe, Sarinha), o que está em jogo aqui não é este ou aquele nome
ou pseudônimo. O que está em jogo aqui é a defesa de um princípio, o de
que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade”.
Receita de bolo
Do contrário, o que falta para termos, aqui mesmo na capa da Gazeta
do Povo (ou no UOL, Estadão, Crusoé, Brasil Sem Medo, ou ainda no blog
da Maricotinha e no do Ben10BR) receitas de bolo no lugar de críticas
severas (quando e se merecidas) aos ministros do STF e aos chefes dos
demais poderes?
Está na hora de substituir os novos slogans cheios de boas intenções
progressistas, por algo mais antigo, cheirando a naftalina até, mas
também mais sólido e mais enfático. Está na hora de abandonar as
camisetas do Che e vestir o rosto nada atraente do provavelmente
comunista Sérgio Porto, o famoso Stanislaw Ponte Preta.
Que, em plena ditadura (não esta, velada, a outra, explícita) cunhou a
frase: “Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos”.
[Se você gostou deste texto, mas
gostou muito mesmo, considere divulgá-lo em suas redes sociais. Agora,
se você não gostou, se odiou com toda a força do seu ser, considere
também. Obrigado.]
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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