MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 21 de março de 2020

A ditadura comunista chinesa e o vírus da covardia


A China dos massacres, da perseguição política e outras especialidades do totalitarismo não têm moral para falar grosso com nenhum país. Artigo de Jones Rossi para a Gazeta:

A briga entre o deputado federal Eduardo Bolsonaro e a embaixada da China no Brasil serviu para mostrar - a despeito de quem tem razão na história - o modus operandi da ditadura comunista chinesa. Eduardo Bolsonaro fez uma provocação pueril e incompatível com com quem não faz muito tempo queria ser embaixador, um cargo por natureza conciliador. Mas a resposta chinesa mostra o jeito de ser Cid Gomes em cima da retroescavadeira do regime chinês. Não basta responder, é preciso atropelar.
A postura é compatível com as recentes mudanças no país. Depois de décadas de abertura econômica que levaram a China ao posto de segunda maior potência mundial, agora é hora de dominar em outras frentes. No último congresso do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, o atual ditador, decidiu ser mais ditador do que já é, oprimir mais do que oprimia. Vai continuar no poder e ordenou que a população o cultuasse como autoridade máxima, como fazia Mao Tsé Tung, talvez o maior assassino da história da humanidade.
Desde que a China se tornou comunista, depois de uma sangrenta guerra civil que matou milhões de fome (os episódios mais leves dessa guerra incluem pessoas famélicas comendo cascas de árvore porque os partidários de Mao as encurralaram até não restar nenhuma outra opção), houve momentos de dar inveja ao mais cruel dos ditadores. Durante a revolução cultural, estudantes cegos pela ideologia caçavam os opositores até a morte. Em outro episódio que parece ter sido tirado de um filme de terror, alunos de uma escola de elite perseguiram a diretora e a mataram a pauladas (se você acha que inventei essa história, está tudo no livro ‘Mao, a História Desconhecida’, publicado no Brasil pela Companhia das Letras).
No mesmo período, mais de sete mil monumentos históricos foram destruídos pelo Guardas Vermelhos, capangas encarregados de todo tipo de violência, inclusive apagar o passado “proibido” do país. O ministro do carvão foi torturado até a morte. Torturá-lo não bastou. Ele ainda foi retalhado e esmagado contra um piso de concreto. Isso aconteceu em 1967 e apesar fazer mais de 50 anos, o governo que cometeu tal ato barbárico é o mesmo que está no poder. Os nomes mudaram, a ideologia segue igual.
A prova é que hoje, sob Xi Jinping, a China mantém campos de concentração com mais de um milhão de prisioneiros. As vítimas são muçulmanos chineses da etnia uigur. Nestes campos, eles são obrigados a abandonar a religião, jurar lealdade ao Partido Comunista ou enfrentar as consequências, que incluem detenções por tempo indeterminado, sem direito nenhum à defesa. Kairat Samarkan, um ex-prisioneiro, foi mantido nas mesma posição por 12 horas, até obedecer os guardas, conforme contou à Anistia Internacional. É comum que os prisioneiros recebam comida em estado de putrefação ou não tenham direito a tratamento médico. Famílias são separadas para sempre, sem que o governo informe o paradeiro de quem é detido. E para não cair em desgraça com a China e perder contratos valiosos, nenhum país muçulmano tem coragem de denunciar a situação.
Os cristãos não têm sorte melhor. Igrejas são fechadas compulsoriamente e são feitas fogueiras públicas com bíblias e outros livros religiosos. Sem alarde, ao feitio da ditadura quando deseja agir com maldade, a China condenou Wang Yi, um dos principais pastores do país, a nove anos de prisão, depois de ser preso em 2018 juntamente com cem fiéis. Ele ainda foi multado em 50 mil yuanes (algo em torno de R$ 30 mil). Outro grupo religioso, o dos budistas, é oprimido no Tibete desde o fim da Segunda Guerra Mundial, perdendo aos poucos sua crença e sua cultura.
Recentemente, o governo chinês tentou dar um golpe na liberdade de Hong Kong, ao tentar passar uma lei que possibilitaria extraditar os honcongueses para a China continental. Evidentemente isso acabaria com a liberdade política no país. Hong Kong poderia prender quem quisesse, sob qualquer alegação, e esta pessoa seria levada à China com as previsíveis consequências. Somente após massivos protestos o governo local voltou atrás.
Por essas e outras, a China não tem moral para falar grosso com nenhum país do mundo, mesmo um país tão falho quanto o nosso.
É triste constatar que, no Brasil, muita gente que enche a boca para falar da infeliz ditadura militar pela qual passamos não tenha coragem de denunciar o opressor e mortífero - em todo e qualquer sentido - Império Chinês. O vírus da covardia, ao que parece, também é altamente contagioso.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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