A China dos massacres, da perseguição política e outras especialidades
do totalitarismo não têm moral para falar grosso com nenhum país. Artigo
de Jones Rossi para a Gazeta:
A briga entre o deputado federal Eduardo Bolsonaro e a embaixada da
China no Brasil serviu para mostrar - a despeito de quem tem razão na
história - o modus operandi da ditadura comunista chinesa. Eduardo
Bolsonaro fez uma provocação pueril e incompatível com com quem não faz
muito tempo queria ser embaixador, um cargo por natureza conciliador.
Mas a resposta chinesa mostra o jeito de ser Cid Gomes em cima da
retroescavadeira do regime chinês. Não basta responder, é preciso
atropelar.
A postura é compatível com as recentes mudanças no país. Depois de
décadas de abertura econômica que levaram a China ao posto de segunda
maior potência mundial, agora é hora de dominar em outras frentes. No
último congresso do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping, o atual
ditador, decidiu ser mais ditador do que já é, oprimir mais do que
oprimia. Vai continuar no poder e ordenou que a população o cultuasse
como autoridade máxima, como fazia Mao Tsé Tung, talvez o maior
assassino da história da humanidade.
Desde que a China se tornou comunista, depois de uma sangrenta guerra
civil que matou milhões de fome (os episódios mais leves dessa guerra
incluem pessoas famélicas comendo cascas de árvore porque os partidários
de Mao as encurralaram até não restar nenhuma outra opção), houve
momentos de dar inveja ao mais cruel dos ditadores. Durante a revolução
cultural, estudantes cegos pela ideologia caçavam os opositores até a
morte. Em outro episódio que parece ter sido tirado de um filme de
terror, alunos de uma escola de elite perseguiram a diretora e a mataram
a pauladas (se você acha que inventei essa história, está tudo no livro
‘Mao, a História Desconhecida’, publicado no Brasil pela Companhia das
Letras).
No mesmo período, mais de sete mil monumentos históricos foram
destruídos pelo Guardas Vermelhos, capangas encarregados de todo tipo de
violência, inclusive apagar o passado “proibido” do país. O ministro do
carvão foi torturado até a morte. Torturá-lo não bastou. Ele ainda foi
retalhado e esmagado contra um piso de concreto. Isso aconteceu em 1967 e
apesar fazer mais de 50 anos, o governo que cometeu tal ato barbárico é
o mesmo que está no poder. Os nomes mudaram, a ideologia segue igual.
A prova é que hoje, sob Xi Jinping, a China mantém campos de
concentração com mais de um milhão de prisioneiros. As vítimas são
muçulmanos chineses da etnia uigur. Nestes campos, eles são obrigados a
abandonar a religião, jurar lealdade ao Partido Comunista ou enfrentar
as consequências, que incluem detenções por tempo indeterminado, sem
direito nenhum à defesa. Kairat Samarkan, um ex-prisioneiro, foi mantido
nas mesma posição por 12 horas, até obedecer os guardas, conforme
contou à Anistia Internacional. É comum que os prisioneiros recebam
comida em estado de putrefação ou não tenham direito a tratamento
médico. Famílias são separadas para sempre, sem que o governo informe o
paradeiro de quem é detido. E para não cair em desgraça com a China e
perder contratos valiosos, nenhum país muçulmano tem coragem de
denunciar a situação.
Os cristãos não têm sorte melhor. Igrejas são fechadas
compulsoriamente e são feitas fogueiras públicas com bíblias e outros
livros religiosos. Sem alarde, ao feitio da ditadura quando deseja agir
com maldade, a China condenou Wang Yi, um dos principais pastores do
país, a nove anos de prisão, depois de ser preso em 2018 juntamente com
cem fiéis. Ele ainda foi multado em 50 mil yuanes (algo em torno de R$
30 mil). Outro grupo religioso, o dos budistas, é oprimido no Tibete
desde o fim da Segunda Guerra Mundial, perdendo aos poucos sua crença e
sua cultura.
Recentemente, o governo chinês tentou dar um golpe na liberdade de
Hong Kong, ao tentar passar uma lei que possibilitaria extraditar os
honcongueses para a China continental. Evidentemente isso acabaria com a
liberdade política no país. Hong Kong poderia prender quem quisesse,
sob qualquer alegação, e esta pessoa seria levada à China com as
previsíveis consequências. Somente após massivos protestos o governo
local voltou atrás.
Por essas e outras, a China não tem moral para falar grosso com nenhum país do mundo, mesmo um país tão falho quanto o nosso.
É triste constatar que, no Brasil, muita gente que enche a boca para
falar da infeliz ditadura militar pela qual passamos não tenha coragem
de denunciar o opressor e mortífero - em todo e qualquer sentido -
Império Chinês. O vírus da covardia, ao que parece, também é altamente
contagioso.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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