Bruno Boghossian
Folha
O governo de Nicolás Maduro atualizou sua lista de inimigos do regime, lacaios da Casa Branca e operadores de uma conspiração contra a Venezuela. Agora, esse rol nada seleto inclui o brasileiro Celso Amorim. A chancelaria de Maduro emitiu uma nota em que chama o assessor de Lula de “mensageiro do imperialismo norte-americano”.
Os delírios da ditadura são um recibo em papel passado da mágoa com o governo brasileiro pelo veto à entrada da Venezuela no Brics. Maduro não queria apenas a carteirinha de sócio de um clube frequentado por países influentes. Ele procurava uma credencial para romper o isolamento e lustrar a fraude que comandou para permanecer no poder.
MARTELO BATIDO – O Brasil frustrou esse plano. Antes da cúpula do Brics, Lula teve uma longa conversa com o chanceler Mauro Vieira. Com a participação no evento cancelada por orientação médica, o presidente instruiu o ministro a seguir adiante com o veto. O martelo havia sido batido na semana anterior, mas o petista não seria mais o portador da notícia.
Maduro sabe que a ordem partiu de Lula. O regime, no entanto, preferiu direcionar suas últimas críticas a Amorim, um operador que liderou a reação do governo brasileiro à fraude na Venezuela de forma cautelosa e, em larga medida, até constrangida.
O ditador ainda parece acreditar que a pressão fará Lula acordar um belo dia para ver que está cercado por ianques infiltrados.
QUEBRA DE CONFIANÇA – Até aqui, o que se tem é o contrário. O episódio alinha as posições de Amorim (que passou a falar em “quebra de confiança” na relação com Maduro), do Itamaraty (que sempre defendeu uma postura menos concessiva) e do presidente (que topou a jogada do veto à Venezuela no Brics). O ataque do regime, com tintas conspiratórias, é um presente adicional para Lula.
Diplomatas enxergam a atitude do presidente e o tom usado pelo regime como uma oportunidade para Lula envergar credenciais democráticas e reduzir a humilhação imposta pelo ditador. Melhor assim.
O problema é que Maduro sempre foi desse jeito, e, até outro dia, o petista e seus aliados juravam que seria possível ter uma conversa limpa com o venezuelano.
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