Inspirado pela artista plástica Eliana Kertész, Jan Araújo diz gostar de fazer peças “cheinhas”
Nascido em Salvador, mas criado em Lençóis, na Chapada Diamantina, Jan Araújo
começou no artesanato por influência de seu pai, que também é
ceramista. Com ele, trabalhou dos 13 aos 26 anos, quando decidiu deixar o
ofício para se aventurar em outras áreas. Longe do fazer manual e em
outras cidades, ele trabalhou em um campo de Golf e também em lojas de
equipamentos para trilhas, visto que a região da Chapada é reconhecida
por suas montanhas. “Por mais que a gente tente se afastar da arte,
aquele que é artista sempre acaba se reaproximando dela”, revela. E
assim ele o fez. Em 2011, depois de voltar ao ateliê, ele levou algumas
peças para uma feira de negócios para artesãos realizada pelo Sebrae.
“Lá, eu vendi todas as obras e saí com várias encomendas. Foi o sinal
que eu precisava para seguir com este trabalho”, afirma Jan.
Embora
não siga uma religião de matriz africana, ele diz que a relação com os
orixás é parte do cotidiano da Bahia. Como isso, desde muito cedo, as
entidades do Candomblé costumam fazer parte de seu portfólio. Para os
orixás e outras peças, Jan desenvolveu um estilo próprio que, segundo
ele, é influenciado pelas obras da artista baiana Eliana
Kertész (1945-2017), reconhecida por esculturas de mulheres volumosas e
com formas arredondadas. “Eu gosto desta ideia de peças gordinhas e, no
meu caso, eu acho que a cerâmica favorece este formato. Por isso, a
minha Iemanjá é assim, mais cheinha, mas continua carregando os
elementos que remetem ao movimento do mar”, completa.
Aless Teixeira Salvador
| | Aless utiliza os metais para dar vida às suas criações
Os primeiros trabalhos de Alessandro Teixeira, mais conhecido como Aless,
foram ainda na adolescência, por volta dos 16 anos de idade, por
influência do pai, que também é artesão. Trabalhando com o latão, o
cobre e diferentes tipos de metais, ele passou a criar peças bastante
populares no artesanato baiano, como a figura do peixe e as pencas de
balangandãs, também conhecidas como jóias de crioulas. Depois de sair do
ateliê de seu pai em 2002, ele abriu o próprio espaço, porém, em seus
processos de criação, passou a estudar as contribuições artísticas de
outros nomes baianos nas artes como Jorge Amado, Mário Cravo, e também o
escultor Tatti Moreno, com quem teve a chance de trabalhar por 12 anos.
“Eu trabalhava metade do tempo na minha oficina e a outra metade com o
Tatti. Neste período, fui aperfeiçoando minhas técnicas e desenvolvendo a
minha identidade estética”, diz Aless.
Sua
relação com os orixás vem de sua religião, o Candomblé, onde ele é Ogã
suspenso por Iemanjá, o que significa que elé um tipo de sacerdote que,
durante os rituais litúrgicos, atua como uma espécie de zelador da casa,
mantendo a segurança e dando suporte a todos aqueles que incorporam os
orixás, além disso, é responsável pelo toque dos atabaques e pelas
oferendas. “O terreiro que eu frequento é regido por Iemanjá e a minha
relação com ela é muito forte. Por isso, no meu trabalho, eu gosto de
manter as características litúrgicas, não só com ela, mas com qualquer
entidade religiosa. Acho que é importante manter as características
originais”, completa.
Karla Issa Salvador
| | Karla Issa faz pequenos oratórios em homenagem a orixás e santos católicos
Nascida e criada em Salvador, Karla Issa
começou a se interessar pelo artesanato aos 15 anos, quando passou a
fazer as próprias roupas, a produzir colares com estética africana
feitos com pedrarias e a vendê-los no centro histórico da cidade. “Por
parte de mãe, quase todos tinham alguma habilidade artística
desenvolvida de forma autodidata. Além disso, nos anos 1970, ainda
existia uma aura meio hippie no mundo que nos incentivava a criar
coisas”, revela. Mais tarde, ela se formou em Assistência Social,
profissão que exerce até hoje e que divide o tempo com os trabalhos
artesanais.
Sua
relação com os orixás também vem de sua religião. No Candomblé, Karla é
Ekedi, posto feminino de alta importância, cuja função é zelar pelos
seus companheiros em transe tomados pelos orixás no momento dos rituais.
Utilizando materiais majoritariamente reciclados, seus trabalhos estão
fortemente ligados às liturgias religiosas. Karla faz escapulários e
oratórios, utilizando retalhos de couro, caixas de fósforo e técnicas de
pintura. Dentre elas, as peças mais procuradas por clientes costumam
ser de Iemanjá.
Mestre Gerard e Elson Barra
| | Gerard tem ensinado seu ofício a dezenas de artesãos ao longo do tempo
No
oeste da Bahia, às margens do encontro entre o Rio São Francisco e o
Rio Grande, está a cidade de Barra, onde nasceu o artesão José Geraldo Machado da Silva, mais conhecido como Mestre Gerard,
por conta de um apelido de infância que ele adotou como nome artístico.
Católico de criação e candomblecista por iniciação, ele utiliza o barro
dos rios que cortam a cidade para criar esculturas que refletem o
sincretismo religioso. De forma autodidata e inspirado pelas histórias
que ouvia quando criança, de que os escravizados cultuavam os orixás
usando santos católicos, ele cria peças que retratam duas imagens em
uma. Assim, Oxóssi se mistura com a bravura de São Jorge e as vestes de
Nossa Senhora das Candeias com as de Iemanjá, formando peças nas quais
as duas crenças convivem em harmonia.
Além
de artesão, Gerard é Babalorixá do terreiro Pai Xangô das Cachoeiras,
local onde mora e no qual também funciona seu ateliê escola, onde tem
ensinado gratuitamente diversos artesãos. Elson Alves,
seu primeiro discípulo, trabalha em conjunto com o mestre desde 1994,
não só no ateliê, mas também nas atividades do terreiro. “Ele é meu tio
de segundo grau e, boa parte do que sei foi ele quem me ensinou. Dia 2
de fevereiro, para nós é uma data importante, porque fazemos um cortejo
especial para Iemanjá que atravessa parte da cidade celebrando a
grandeza desta orixá”, finaliza Elson.
Todas as peças podem ser encontradas na Paiol: www.lojapaiol.com.br | @lojapaiol.
FOTOS PARA IMPRENSA
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