BLOG ORLANDO TAMBOSI
Com as ações do Hamas, o terrorismo evoluiu e atingiu seu clímax em 2023 e tornou-se pura ciência da comunicação. Luiz Felipe Pondé para a FSP:
Nada
é menos criativo entre as atividades humanas neste ridículo século 21
do que a infeliz disciplina do marketing. Suas invenções mais recentes,
como gerente de felicidade de uma empresa ou o conceito de marca
pessoal, atestam a completa incapacidade criativa dessas ciências
sociais aplicadas que são o marketing —não se engane, a ideia de um
gerente de felicidade numa empresa é puro marketing de gestão.
Mas
não quero falar dessas fake news no ambiente do trabalho neste século
21 sem futuro. Quero falar de algo menos inovador, mas que continua
circulando pelo mundo corporativo, que é o "conceito de liderança". As
aspas se devem ao fato que a ideia de liderança não merece toda essa
credencial da categoria de conceito. Imagine Kant ou Hegel se dedicando
ao "conceito de liderança corporativa".
E,
na sequência, quero dizer de onde virá a verdadeira transfusão de
sangue que dará a infeliz disciplina do marketing novos horizontes de
criação no que se refere a liderança.
Tenho
poucos amigos, mas eles sempre me fornecem elementos para enxergar o
mundo no seu pior. Um deles, que atende pelo carinhoso codinome de
"Canalha" —claro, descendente direto do canalha honesto do Nelson, hoje
em extinção porque todos os canalhas fazem MBA em ESG— me chamou a
atenção numa conversa recente para o fato que o personagem bíblico
Moisés deveria ser o paradigma do líder quando as pessoas se colocam a
questão do que seria a liderança no mundo corporativo —ou fora dele.
Vejamos a hipótese de mais perto, agora, com a atenção que um conceito
merece.
Antes
de tudo, um reparo. Liderança é matéria política. Portanto, é poder, e,
por consequência, é violência, apesar das mentiras de hoje em dia. O
marketing de gestão fez da liderança uma conversa fiada corporativa,
inclusive, atrapalhando a própria liderança no mundo corporativo.
Segundo
essa infeliz disciplina, liderança é algo que deve desaguar em abraços
corporativos e happy hours —com a lembrança de que a antiga função
desses happy hours, a saber, pegar a colega gostosa da empresa, está
proibido pelo compliance que odeia o Eros.
A
liderança é uma função mais próxima de um trágico que caminha sozinho
pelo deserto, mesmo quando acompanhado. Já que falamos em deserto, vamos
voltar a Moisés, o homem que liderou por 40 anos, no deserto do Sinai,
um povo que acabara de sair de uma escravidão no Egito, segundo a
Bíblia, por muito mais do que 40 anos. Como era a relação desse líder
com seu "time"?
Esse
povo só deu dor de cabeça para o homem que o libertou da escravidão no
Egito. Ingratos, alguns chegaram mesmo a dizer que a vida na escravidão
era melhor do que aquela liberdade toda.
Evidente
que no caso da narrativa bíblica, há um Deus em jogo e Moisés é um mero
intermediário na realização da vontade desse Deus. Enquanto Moisés se
reunia com Deus no monte Sinai para pegar os dez mandamentos, que
deveriam pautar a vida desse povo não mais escravo, alguns ao pé do
monte inauguram um culto a um bezerro de ouro, o que leva Deus a ter que
puni-los. Fruto da impaciência, imediatez, pressa, preguiça, parte do
povo está sempre pronto a trair Moisés e seu Deus.
Foi
da mesma região geográfica, a terra prometida, que veio a grande
disrupção na infeliz disciplina do marketing neste último ano. O grupo
terrorista Hamas
fez uma ação de marketing revolucionária dia 7 de outubro de 2023 que
deu inúmeros frutos para seus criativos. Ao chacinar, estuprar, humilhar
pessoas de diferentes idades e sexos, o Hamas acertou em cheio.
Dias depois, Israel,
tomado pela fúria da agressão sofrida, realizou exatamente o que os
marketeiros terroristas queriam: fulminaram Gaza e grande parte da sua
população tentando resgatar reféns israelenses e matar terroristas. Com
cada palestino morto, criança ou adulto, o Hamas vibrou e comprovou que o
futuro do marketing está em ações agressivas, imorais e sangrentas. Vem
por aí mais um ano novo que promete. O terrorismo evoluiu e atingiu seu clímax em 2023: tornou-se pura ciência da comunicação. Hamas, um case de sucesso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário