O grande problema é o socialismo peronista e kirchnerista. Daniel Lacalle para o Instituto Mises:
O
Banco Central da Argentina não precisa desvalorizar o peso devido à
vitória de Javier Milei nas primárias. O Banco Central da Argentina e o
governo peronista vêm desvalorizando o peso e afundando a moeda há anos.
A desvalorização de agora não é por conta de Milei, mas porque o Banco
Central ficou sem reservas.
A
Argentina não enfrenta uma ameaça “antissistema” ou de “extrema
direita”. Eles já têm um governo de extrema esquerda e antissistema: as
políticas monetárias e fiscais extrativistas e confiscatórias do
socialismo do século XXI, defendidas pela peronista Cristina Kirchner.
Essa é a chamada política monetária “inclusiva”, como a denominou Axel
Kicilloff, ex-ministro da Economia de Cristina Kirchner.
A
política peronista de máximo intervencionismo, bem como
irresponsabilidade fiscal e monetária, destruiu a Argentina e deixou o
Banco Central sem reservas.
O
peso perdeu mais de 90% do seu valor em relação ao dólar americano
desde que Alberto Fernández assumiu o cargo, e a inflação na Argentina
já ultrapassa os 120% anualizados, com mais de 40% da população vivendo
na pobreza.
Descontrole monetário
Nos
anos dos governos do “socialismo do século XXI” de Cristina Kirchner e
Alberto Fernández, um aumento completamente descontrolado da base
monetária destruiu a moeda local. O governo de centro-direita de
Mauricio Macri, que tomou posse brevemente entre Kirchner e Fernández,
cometeu o erro de pensar que medidas graduais e suaves poderiam conter a
espiral inflacionária, especialmente porque não considerou as
evidências da bomba-relógio deixada por Cristina em compromissos futuros
de emissão monetária por meio de dívidas de curto prazo a taxas muito
elevadas acumuladas no Banco Central (Leliq, Lebac e Pases).
Essa
dívida remunerada pelo Banco Central cresceu em 22 bilhões de dólares
americanos equivalentes durante os anos de Cristina Kirchner. O governo
Macri reduziu a dívida em 26 bilhões de dólares. Estas emissões de
dívida “remunerada” do Banco Central são futuros aumentos da base
monetária e inflação garantida.
O
governo de Alberto Fernández deixou uma bomba-relógio de Leliq e Pases
que ultrapassa os 12% do PIB. Assim, é garantida uma desvalorização
gigantesca do peso, uma vez que os passivos do Banco Central excedem
várias vezes as suas reservas. É por isso que o Banco Central deve
desvalorizar o peso.
Segundo
dados publicados pelo Banco Central da República Argentina em agosto de
2023, a Argentina realizou a maior experiência monetária da região,
perdendo apenas para a Venezuela. A base monetária aumentou 46,2% ao
ano, 117,2% em dois anos e 172% em três anos. No entanto, a base
monetária, incluindo os depósitos e o referido Leliq, disparou 392,6% em
três anos. Esse desastre é o legado deixado pelo governo Fernández.
Expropriação de riqueza no mercado cambial
O
peronismo abraçou o “socialismo do século XXI” e implementou os mais
prejudiciais “grampos cambiais” (cepo cambiario), que drenam as reservas
dos setores exportadores e os forçam a converter os seus dólares a
taxas de câmbio fictícias. Esse é um roubo patrocinado pelo estado que
destruiu a entrada de novas reservas no país. Em vez de maximizar as
reservas, esta política travou o crescimento das exportações.
Com
a recente criação do chamado “dólar soja”, uma taxa artificial para os
produtores agrícolas liquidarem sua moeda estrangeira, existem mais de
dez taxas de câmbio na Argentina.
Como
pode um país ter dez taxas de câmbio em relação a uma moeda? A resposta
é simples. Todas essas taxas de câmbio impostas pelo governo são formas
de expropriação de riqueza para confiscar os dólares dos exportadores e
dos cidadãos a uma taxa irrealista.
O
governo expropria os destinatários dos dólares americanos com uma troca
pelo peso que o próprio governo não encontraria em nenhuma transação no
mercado aberto.
Essa
loucura monetária financia gastos políticos descontrolados, já que o
estado argentino não pode ser financiado através de dívida, pois não há
confiança na sua solvência como emissor, uma vez que entrou em default
em diversas ocasiões.
Não
existe uma verdadeira procura local ou global de pesos, pois os
investidores e os cidadãos sabem que o governo continuará a imprimir
moeda sem controle.
Peso, uma moeda sem valor
Na
Argentina, em 57% das províncias, o emprego estatal é maior que o
emprego privado. O estado aumenta os gastos públicos mais do que as
receitas fiscais e a inflação, financiando-os através da impressão de
mais pesos, o que cria mais pobreza e uma inflação mais elevada.
Entretanto, a tributação implementada pelos governos peronistas é uma
das mais confiscatórias da região, atingindo 106% dos lucros de uma
pequena/média empresa que paga todos os seus impostos, segundo o
relatório Doing Business.
Assim,
o governo promete enormes subsídios numa moeda que perde constantemente
valor e se apresenta como a solução para o problema criado pelas suas
próprias políticas fiscais e monetárias. O peronismo “doa” dinheiro que é
impresso massivamente e não tem valor. O resultado: mais de 18 milhões
de cidadãos pobres.
Muitos
grandes economistas argentinos analisaram detalhadamente a importância
da dolarização para acabar com essa espiral de incentivos perversos que
leva o governo a tornar os cidadãos mais dependentes através da emissão
de uma moeda sem valor nem procura. De Nicolas Cachanosky a Steve Hanke e
muitos outros, lembram-nos que o Equador, o Panamá ou El Salvador
dolarizaram com sucesso.
O
problema da Argentina não é a dolarização, mas a evidência de que
possui uma moeda inviável e fracassada. A Argentina já está em grande
parte dolarizada, porque os cidadãos estão fugindo da moeda local.
Por que o peso é uma moeda sem valor? Porque o governo e o Banco cCentral têm implementado a sua própria Teoria Monetária Moderna
sob a ideia de que os problemas do país podem ser resolvidos através da
emissão de mais moeda. Após anos de destruição monetária, a procura
global e nacional pelo peso está em mínimos históricos.
O
peso é, novamente em 2023, uma das piores moedas do mundo em relação ao
dólar americano, enquanto o aumento da base monetária do Banco Central
da Argentina é de insanos 46% no acumulado do ano até aqui. E algumas
pessoas se perguntam por que a inflação está acima dos 120%.
O problema não é o Milei
Não,
a Argentina não enfrentará um abismo se Milei se tornar presidente. A
Argentina, um país rico e com enorme potencial, já está no abismo.
Tal
como o Chavismo na Venezuela, os governos peronistas destruíram a moeda
e o tecido produtivo para impulsionar os gastos políticos e transformar
o país num deserto econômico, onde os salários e as poupanças dos
cidadãos são confiscados através de elevados impostos diretos e
indiretos, inclusive o imposto inflacionário.
Milei
quer acabar com essa insanidade monetária e fiscal com políticas que
não sejam radicais, mas sim lógicas. Acabar com a monetização insana dos
gastos do governo, acabar com as perigosas medidas inflacionárias do
Banco Central, dolarizar, cortar gastos políticos excessivos, reduzir os
impostos, abrir a economia e permitir que o livre comércio e o
investimento fluam de volta para a Argentina.
Algo
está muito errado no mundo desenvolvido quando alguns consideram Milei
um radical perigoso e nada dizem sobre o radicalismo implementado nos
anos Fernández-Kirchner.
A
Argentina deve implementar políticas fiscais e monetárias sérias para
alcançar o seu enorme potencial. As propostas de Milei não são
antissistema, são pró-lógica.
O
problema da Argentina não é Milei. O problema é que implementaram ponto
a ponto as políticas fiscais e monetárias que muitos dos chamados
partidos “progressistas” exigem.
Esse artigo foi originalmente publicado em https://mises.org/wire/javier-milei-not-problem-argentina-socialism
Postado há 5 weeks ago por Orlando Tambosi
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