BLOG ORLANDO TAMBOSI
Os representantes da esquerda consideram que os ciganos são uma raça. É bom saber-se onde moram as piores ideias, até para as podermos combater. Margarida Bentes Penedo para o Observador:
O
grupo dos deputados “não inscritos” – eleitos nas listas do PS em
representação do radicalismo mais fanático – levou a debate na
Assembleia Municipal de Lisboa uma recomendação para “promover a cultura
e história da comunidade cigana”. Vinham armados de ONU, bandeira
cigana, hino cigano, e Dia Internacional da Pessoa Cigana. O que não
traziam era vestígio de conhecimento sobre “cultura” ou “história
cigana”; se trouxessem, sabiam que não existe uma “cultura cigana”,
existem várias. Basta ver cinema. Emir Kusturia, quase todos; Guy
Richie, com Snatch – Porcos e Diamantes; Carlos Saura, com Flamenco; ou
Etienne Comar com Django, de 2017, sobre a vida e a música do
extraordinário Django Reinhardt. Todos eles mostram comunidades ciganas,
diferentes umas das outras.
O
documento era racista. Postulava a seguinte lógica: quem não vê as
coisas como estes deputados, é “contra os ciganos”; obviamente, “fomenta
preconceitos” e comete o crime de “racismo” (sic). Sucede que o racismo
é um preconceito formado a partir de uma distinção de raça. Os
digníssimos deputados que assinaram aquele pedaço de acusação consideram
que os ciganos são uma raça. Ou seja, o racismo mora ali, nas cabeças
dos autores do documento. Mais um motivo para defender a liberdade de
expressão, verbal ou escrita: todas as ideias devem ser expressas,
sobretudo as piores, até para serem combatidas. É bom saber-se onde elas
estão. Nenhum partido da direita portuguesa aceita a existência de
raças. Mas elas existem na retórica, e portanto, nas cabeças, dos
representantes da esquerda.
Convinha
que a direita compreendesse bem este ponto: não somos obrigados a
aceitar os pressupostos nem os termos da esquerda. Todos os assuntos
podem e devem ser discutidos, sim, mas nos nossos próprios termos. Quem
não sabe definir os termos de uma discussão, não sabe pensar sobre
aquele assunto e dificilmente discute seja que assunto for. No momento
em que a direita aceita os termos da esquerda, já perdeu o debate. É uma
regra sem excepção. Como se viu aqui, neste assunto dos ciganos,
assente no maniqueísmo: ou a direita concorda com a visão identitária da
esquerda, ou é liminarmente culpada de “racismo”. A esquerda já não se
limita a impor os seus argumentos, também precisa de criminalizar os
adversários. De resto, mostrou mais uma vez esta sua prepotência na
reacção crapulosa aos cartazes na manifestação dos professores.
“Racismo” é tudo o que o PS decidir, em cada momento, e de acordo com a
conveniência do PS. No fundo, “racismo” é, a partir de agora, toda a
dissidência e toda a crítica ao comportamento do PS.
Por
último, não se chegou a saber qual era a parte da “cultura cigana” que
estes deputados querem promover. No papel que apresentaram não se deram
ao trabalho de nos informar. Mas nós sabemos que a esquerda gosta de
promover estereótipos, basta olhar para as marchas do “orgulho gay”. De
maneira que podemos imaginar. É viverem nos acampamentos, sem
privacidade, sem protecção do frio ou calor, sem condições de higiene? É
casarem as miúdas, aos treze ou catorze anos, com os tios e os primos
adultos? É levantarem as crianças, às cinco horas da manhã, para vender
camisolas na feira? É abandonarem a escolaridade obrigatória?, como a
miúda de Avis, a quem um tribunal português dispensou de estudar para ir
“realizar-se” de acordo com “as tradições” e “a cultura do seu povo”,
pelo expediente libertador de “ajudar a mãe nas tarefas domésticas”?
Peço
licença para discordar. Isto não é “cultura”, é miséria. Seria como
apontar aquelas comunidades operárias ou agrícolas do Portugal da década
de 1950, de pessoas pobres, descalças, magras e remendadas, sem
escolaridade, onde as crianças trabalhavam a partir dos 10 anos, e
declarar: tenhamos “orgulho”, vamos “promover a cultura portuguesa”.
Sim, estamos no mesmo nível de abominação. Repito, “cultura” é outra
coisa, isto é pobreza e miséria. Não deve ser promovido, deve ser
combatido. Estas pessoas, os ciganos de agora, como os portugueses de
50, dispensam a humilhante “promoção”; precisam é de ser ajudadas,
trazidas para a nossa sociedade, para os nossos valores, para a nossa
cultura e para a nossa maneira de viver.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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