BLOG ORLANDO TAMBOSI
Aos 92 anos, Rupert Murdoch continua em cena no seu império de comunicações e ainda aprova as decisões mais complicadas. Vilma Gryzinski:
Tucker
Carlson foi demitido de surpresa e pelo telefone: na sexta-feira
passada apresentou seu programa ao vivo na Fox e na segunda recebeu a
chamada da CEO, Suzanne Scott.
A
decisão foi tomada por Lachlan Murdoch, o herdeiro presuntivo – nunca
nada é definitivo, como sabem os que acompanham a série Succession – do
império de notícias, entretenimento e o que mais estiver no meio dessas
categorias.
Mas
é impossível que não tenha passado pelo crivo do pai, Rupert Murdoch.
Apenas poucas semanas antes, o bilionário – 22 bi – de 92 anos havia
jantado com o apresentador que metade dos Estados Unidos ama odiar e a
outra metade simplesmente ama.
Enfiar
a faca, pelas costas ou pela frente, praticamente vem no currículo dos
que saem do quase nada – um jornal deixado pelo pai no interior da
Austrália – e chegam ao topo. Não existe nenhum outro empresário de
mídia tradicional que chegue perto dele em matéria de influência, com
seu colar de jornalões e jornaizinhos, nos Estados Unidos e na
Inglaterra: Wall Street Journal, Times e Sunday Times de Londres, The
Sun, New York Post, além de várias dezenas de publicações na Austrália.
Em
junho do ano passado, Murdoch terminou a união de quatro anos com Jerry
Hall através de um email bem sucinto: “Jerry, infelizmente eu decidi
pôr um fim no nosso casamento”.
“Nós
certamente tivemos bons momentos, mas eu tenho muito a fazer. Meu
advogado de Nova York entrará em contato com os seus imediatamente”.
A
ex de Mick Jagger ficou pasma. Não tinha percebido nenhum sinal de que
alguma coisa não ia bem. “Amigos” contaram para a New York Magazine que
Murdoch mandou seguranças vigiarem quando ela deixou a casa principal do
casal, obrigando-a a mostrar recibo de objetos de valor. No acordo de
divórcio, ficou estabelecido que ela não pode “dar ideias” aos
roteiristas de Succession.
Agora,
ela mais do que desconfia que Murdoch já estava tendo um relacionamento
com Ann Lesley Smith, a mulher com quem ele anunciou um noivado breve,
com o obrigatório anelão de diamante, e igualmente cancelado a seco.
A
revista especula que Jerry Hall tinha ideias progressistas demais e Ann
Lesley, ao contrário, inclinava-se muito para a direita evangélica,
tendo chegado a dizer que Tucker Carlson era um mensageiro de Deus.
A
demissão do apresentador, transformada no assunto mais comentado dos
Estados Unidos e comemorada em todas as redações rivais (e também na da
Fox, onde ele era uma figura detestada por muitos), se sobrepôs ao
acordo sem precedentes de estarrecedores 787,5 milhões de dólares para
encerrar o processo por difamação aberto pela Dominion, por alegações
feitas pela turma linha dura da Fox de que a vitória de Joe Biden em
2020 havia sido fraudada.
Outros
fornecedores de urnas eleitorais podem entrar com processos similares,
agora que o caminho foi aberto – um caminho perigoso, considerando-se os
valores punitivos envolvidos. A Dominion, por exemplo, pedia
indenização de 1,6 bilhão de dólares.
Processos
por difamação ou calúnia são o modo correto de retificar erros
jornalísticos graves e propositais e a Fox pode bancar acordos
estratosféricos que arruinariam outros veículos.
E
se o precedente começar a valer para esses outros também? Estará
instaurado um clima de medo prejudicial ao espaço livre em que os
jornalistas devem se mover.
Murdoch
também está no centro das atenções na Inglaterra por causa do processo
que o príncipe Harry e uma coleção de artistas estão movendo contra a
News Corporation, o seu conglomerado britânico, pela prática repugnante
de interceptar telefones de celebridades.
Harry
alega que o próprio pai fez um acordo espúrio com o grupo Murdoch: os
processos seriam suspensos em troca de cobertura favorável a Camilla e a
ele, quando subissem ao trono.
Murdoch
teve que fechar o tabloide mais comprometido, o News of the World.
Enfrentou sessões constrangedoras na justiça e o momento “tiger wife”,
quando sua esposa na época, a chinesa Wendy, pulou para defendê-lo de um
manifestante.
O
casamento acabou, também sem muita cerimônia, quando Murdoch descobriu
que Wendy se encontrava com o ex-primeiro-ministro Tony Blair numa das
mansões do casal nos Estados Unidos.
Segundo
o Wall Street Journal, colocado na sempre constrangedora posição de
escrever sobre o dono, Tucker Carlson ficou mal perante a família
Murdoch por causa de emails com termos grosseiros sobre executivas da
empresa e outras mulheres.
A
própria família também era criticada. No processo da Dominion, apareceu
uma mensagem em que Tucker diz que “odeia Trump apaixonadamente” – e
nem mesmo isso demoveu o público fiel do apresentador que,
evidentemente, só defende o ex-presidente em público.
Segundo
os tais “amigos”, um dos motivos do espanto de Jerry Hall com o fim
brusco do casamento foi que ela tinha sido uma fiel “enfermeira”,
cuidando do marido idoso quando pegou uma Covid brava e também quando
sofreu uma fratura complicada num tombo no iate do filho. Outros
problemas enfileirados na reportagem da New York Magazine: convulsões,
duas pneumonias, arritmia cardíaca, ruptura do tendão de Aquiles e
sequelas de uma fratura de coluna, sofrida quando a ex, Wendy, o
empurrou em cima de um piano.
Ter
muito dinheiro e resolver quem vai ficar com os negócios da família
depois que a natureza seguir o seu curso com figuras titânicas como
Rupert Murdoch são o modo mais garantido de sizânias familiares. Bernard
Arnault, o francês do conglomerado de luxo atualmente na posição de
homem mais rico do mundo (235 bilhões, dez vezes mais do que Murdoch)
tem almoços de trabalho com os cinco filhos em que coloca questões
empresariais específicas e anota as respostas, como num episódio do
antigo Aprendiz, para decidir quem vai ficar com o quê.
James
Murdoch, um dos filhos do patriarca, rompeu com o pai por causa das
posições conservadoras da Fox, uma das criações mais brilhantes da
história da mídia: um canal a cabo, concebido por Roger Ailes, para
atender a parcela do público americano que simplesmente não tinha
representação nos grandes veículos, cada vez mais inclinados a ideias
progressistas. James seria um dos que “dão ideias” aos roteiristas de
Succession.
Ailes
e outros nomões da Fox, como Bill O’Reilly e, agora, Tucker Carlson,
rodaram por assédio sexual ou atitudes discriminatórias contra mulheres.
Uma ex-produtora de Carlson está processando a Fox, acusando o
apresentador de criar um ambiente de trabalho tóxico, com uso de termos
chulos contra mulheres, inclusive colegas que aparecem diante das
câmeras, e até antissemitismo.
Segundo
o New York Times, os Murdoch, com Lachlan à frente, decidiram fazer o
pesadíssimo acordo com a Dominion para impedir que os emails
comprometedores de Carlson ou até dele próprios fossem revelados. Talvez
o novo processo tenha que ser decidido, também, com um acordo.
Como
é o dono, Murdoch paira acima disso tudo. O poder e o dinheiro o
blindam de uma forma difícil de entender para os mortais comuns. Até a
língua viperina de Tucker Carlson terá efeito apenas passageiro – e
muito dinheiro provavelmente selará um acordo com cláusulas de
confidencialidade.
“Agora,
estou convencido da minha imortalidade”, disse Murdoch depois de se
curar de câncer de próstata, em 1999. Quem, em seu entorno, diria o
contrário?
Postado há 5 days ago por Orlando Tambosi

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