Luiz Vassallo
Estadão
Sem um plano de governo pronto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foge de sabatinas com empresários. O petista tem se esquivado de debates públicos com executivos para evitar desagradar aliados antes de haver consenso sobre as propostas a serem apresentadas na disputa pelo Palácio do Planalto. Para esses eventos, Lula tem escalado apoiadores mais próximos.
Sob a condição de reserva, integrantes da pré-campanha do ex-presidente afirmaram que ele foi abordado por agentes econômicos, principalmente do mercado financeiro. No entanto, Lula está intransigente e não aceita participar de conversas abertas que possam implicar escrutínio na presença de eventuais desafetos.
CONVITES RECUSADOS – Entre os eventos que Lula já recusou está a participação no CEO Conference, do BTG, em fevereiro. Em evento promovido pela XP Investimentos neste mês, por exemplo, o ex-presidente teve como emissário o ex-ministro da Saúde e atual deputado federal Alexandre Padilha (SP).
O Estadão apurou que ele tratou de temas caros à Faria Lima, como a reforma trabalhista, que Lula já criticou e agora fala em revisar. Padilha disse que o empresariado fará parte das discussões sobre o tema.
Padilha afirmou que foi “convidado como ex-ministro da coordenação política e atual deputado federal”. Ele participou também de outro evento da empresa, no mês passado, nos Estados Unidos. “Em Washington, fui nessa condição (de ex-ministro e deputado) e, nos debates das chapas, o PT estava representado por Guilherme Melo (economista da Unicamp)”, afirmou. O deputado disse desconhecer se Lula evite debates.
CONFIRMAÇÃO – A estratégia de Lula, porém, foi confirmada por aliados. “Ele tem tratado (de economia) em conversas mais reservadas. Para as agendas mais abertas, (o presidente Jair) Bolsonaro mandava o povo dele lá, e saiam dizendo tudo diferente”, afirmou o ex-governador Wellington Dias (PT), um dos articuladores e conselheiros de Lula.
Dias afirmou ainda que Lula quer “ouvir e compreender mais os desafios das empresas em cada área”, das pequenas às grandes. “Ele (ex-presidente) está preocupado com o efeito da inflação, dos juros altos e da queda da renda na economia, colocando grande dificuldades para empreendedores, e são eles que geram emprego.”
Apesar de driblar empresários, o ex-presidente tem participado de eventos de apoiadores, onde, por exemplo, já atacou o teto de gastos – regra constitucional que limita o aumento das despesas públicas à inflação e hoje é a única âncora fiscal do País.
PORTAS FECHADAS – Para encontros a portas fechadas, Lula tem recorrido a antigos aliados do meio empresarial. Um deles é José Seripieri Filho, conhecido como Junior, fundador da Qualicorp, intermediadora de planos de saúde.
Na casa de Junior, por exemplo, foi promovido um jantar reservado com Lula, Fernando Haddad – pré-candidato ao governo de São Paulo –, e empresários como o presidente do conselho do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, e o executivo da Votorantim Cláudio Ermírio de Moraes, em fevereiro.
O encontro foi revelado pelo jornal O Globo e confirmado pelo Estadão. Na conversa, segundo uma fonte presente ao jantar, Lula disse que está disposto a olhar para frente e deixar desavenças no passado. Junior, Trabuco e Moraes não se manifestaram.
ESTRATÉGIA – As reuniões a portas fechadas, com seletos convidados, vão perdurar até que Lula alinhe seu plano de governo com aliados. “A nossa ideia é elaborar um programa mais enxuto”, disse o presidente do PSB, Carlos Siqueira, após uma reunião para debater as propostas em São Paulo.
Durante o evento, por vídeo, o ex-ministro Aloizio Mercadante afirmou que o PT deveria divulgar o plano de governo somente no início da campanha, em agosto. Segundo ele, há o risco de Bolsonaro, ainda no cargo, “roubar” propostas.
Mencionou, por exemplo, que o PT e Lula defenderam abertamente ações para socorrer endividados do Fies, e o governo federal logo editou uma Medida Provisória que dispõe sobre a negociação de dívidas dos estudantes.
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