JORNAL A REGIÃO
No final de agosto, veio a público a continuação da Vaza Toga através de uma série de reportagens da Revista Oeste. Assinadas pelos jornalistas Edilson Salgueiro, Rachel Diaz e Carlo Cauti, as reportagens apontaram a existência de um “gabinete paralelo” tocado pelo ministro Al3xandre de M0raes para perseguir adversários políticos.
Além disso, os vazamentos revelaram a participação de empresas privadas e ONGs para o monitoramento, classificação e criação de narrativas políticas na internet. O material mostra que o monitoramento foi executado por um consórcio de ONGs, analistas e empresas privadas que operavam diretamente com o gabinete de M0raes.
Durante as eleições de 2022, o TSE monitorou palavras-chave como “voto auditável”, “eu autorizo”, “fraude nas urnas” e até nomes de ministros do Supremo, como Al3xandre de M0raes e Luís Roberto Barroso. A ordem era rastrear, mapear e reportar essas expressões em redes sociais e aplicativos de mensagens, tudo sob a justificativa de combater a desinformação.
Entre os parceiros do TSE estavam o Instituto Democracia em Xeque (DX) e a empresa de tecnologia Palver Consultoria, que fornecia à Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do TSE o acesso a um banco de dados com mensagens extraídas de centenas de milhares de grupos de WhatsApp, Telegram, Gettr e outras redes.
Durante as eleições de 2022, a Palver firmou um convênio com o TSE para fornecer acesso direto ao seu painel de monitoramento. Na prática, isso significou que conversas da população - em especial da direita bolsonarista - passaram a ser monitoradas em massa, etiquetadas e entregues ao tribunal para embasar suas decisões.
O contrato previa o fornecimento gratuito da plataforma de monitoramento, sigilo sobre as informações trocadas e elaboração de relatórios sob demanda - mas sem estabelecer limites claros para o escopo da coleta nem oferecer qualquer transparência pública sobre os dados capturados.
Os funcionários da Palver informavam, em tempo real, o crescimento de conteúdos críticos ao sistema eleitoral, à urna eletrônica e ao próprio STF. Em 24 de setembro de 2022, por exemplo, um alerta interno registrou que o termo “voto auditável” estava próximo de atingir um “pico histórico” nas redes - acendendo o sinal de alerta entre os operadores do tribunal, às vésperas do primeiro turno.
Naquele momento, o país vivia um embate institucional entre o governo Bolsonaro e o tribunal em torno do voto impresso, uma demanda antiga da sociedade e do Congresso, reiteradamente rejeitada pelo STF e pelo próprio TSE. O tema foi posteriormente usado pela Polícia Federal como peça-chave na narrativa de que Bolsonaro teria tramado um golpe de Estado para contestar o resultado das urnas.
As mensagens da Vaza Toga mostram que havia uma estrutura organizada, coordenada e conectada diretamente ao gabinete de Al3xandre de M0raes: a chefe de gabinete, Cristina Yukiko Kusahara, supervisionava diretamente as operações. O analista Thiago Rondon, ligado ao Instituto Democracia em Xeque (DX), aparece requisitando que expressões como “golpe nas urnas”, “Estado de Defesa” e “anular as eleições” fossem incluídas nas buscas.
Ao lado da Palver, o DX monitorava redes sociais com foco em narrativas críticas ao STF, ao TSE e ao processo eleitoral. Financiado por fundações como a Heinrich Böll Stiftung (ligada ao Partido Verde alemão) e por entidades do ecossistema Open Society, o instituto tem Neca Setubal como conselheira e foi citado pelo ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA, Mike Benz, como elo entre a inteligência americana, a USAID e programas de censura no Brasil.
O viés de esquerda de integrantes do DX fica explícito nos comentários de Beto Vasques, diretor de Relações Institucionais do DX, que, em artigo, atacou parlamentares pró-Bolsonaro, defendeu a cassação de mandatos e classificou ações da direita como “milicianas” e “mafiosas”.
Esse aparato foi mantido ativo até julho de 2023, atravessando o 8 de janeiro e se entrelaçando com a engrenagem revelada pela Vaza Toga e pelo Twitter Files Brasil. O que começou como uma ferramenta de marketing ganhou uso político, com risco de ser usado não para informar a sociedade, mas para vigiá-la e manipulá-la.
Reportagem de David Agape. Leia ela completa, com muito masi informações, aqui neste link.
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