Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais deste domingo:
O famoso Queiroz, amigo de Bolsonaro, arrecadador da rachadinha no
gabinete de Flávio Bolsonaro, disse aos poderosos que tomassem cuidado e
procurassem ajudá-lo, pois o Ministério Público “tinha uma pica do
tamanho de um cometa para enterrar na gente”. Bom, saiu uma medida em
favor de Queiroz: por liminar do Superior Tribunal de Justiça, foi-lhe
concedido o direito a prisão domiciliar. Sua mulher, foragida, também
ganhou o direito à prisão domiciliar, para cuidar do marido. Mas os
deuses, diziam os gregos, quando queriam destruir alguém, atendiam a
seus desejos. O que Queiroz sabe, ou não, ainda não foi apurado; mas a
crença geral é que sabe muito. Em casa, preso, com endereço conhecido,
mais a tornozeleira informando o tempo todo onde está, Queiroz precisa
de algo mais: uma vigilância armada, contínua, bem treinada. Não para
impedi-lo de fugir, mas para garantir-lhe a vida. Quando prende alguém, o
Estado assume responsabilidade pelo preso. E Queiroz, na condição
presumida de arquivo vivo, corre risco efetivo, real. Arquivos são
implacáveis, mas são também apagáveis.
O ex-PM Adriano, que foi colega de farda de Queiroz, era considerado
também um arquivo vivo. Foi morto na Bahia e, entre as versões sobre o
tiroteio em que morreu, está a de que não lhe foi dada a oportunidade de
se render. É de se esperar que seja oferecida ampla proteção a Queiroz,
seja ele culpado ou inocente.
É horrível imaginar que, preso, estaria mais seguro.
Banho maria
Nenhuma das investigações até hoje realizadas no centro do poder
chegou ao presidente Bolsonaro. Mas todas estão em áreas próximas a ele.
A última chegou a poucos metros de seu gabinete: o Facebook,
investigando as redes de desinformação em onze países, identificou no
Brasil 88 contas, páginas e grupos que trabalhavam com identidade falsa
em favor do atual Governo. Um dos alcançados trabalha com um dos filhos
do presidente, Carluxo, o 02, no que se costuma chamar de Gabinete do
Ódio. É Tércio Arnaud Queiroz, assessor especial da Presidência da
República, colaborador antigo e fiel, que trabalha no Palácio do
Planalto. Essas redes operam desde a campanha que levou Bolsonaro ao
poder. E as informações levantadas pelo Face poderão ser solicitadas
pelo Tribunal Superior Eleitoral, que investiga as acusações de que
houve abuso de poder econômico na campanha eleitoral. Claro que esse
tipo de pena depende mais da temperatura política do que do problema
legal. Mas a lei diz que pode levar à cassação da chapa e a novas
eleições.
É coisa nossa
Bolsonaro se irritou e defendeu, em live, os acusados de criar falsos
perfis no Face. Disse que há uma onda de dizer que há assessores que
recebem dinheiro público para promover o ódio. “Me apontem um texto meu
de ódio ou dessas pessoas que estão do meu lado. Apontem uma imagem
minha de ódio, no meu Facebook, dos meus filhos. Não tem nada”.
Mas o Face não retirou as páginas pelo conteúdo, mas pela
falsificação de perfis. O presidente tomou outra iniciativa: afastou os
vice-líderes mais belicosos e trocou-os por parlamentares do Centrão,
mais afeitos a acordos. Neste momento, acossado, Bolsonaro tende mais ao
amor do que à guerra.
Pau a pau
É provável que tenha sido coincidência, e não ação combinada entre
duas empresas do mesmo grupo, Facebook e WhatsApp. Mas, há poucos dias, o
WhatsApp cancelou dez canais administrados pelo PT. Segundo a empresa,
os bloqueios ocorreram devido ao envio de mensagens em massa ou operadas
por robôs. Um dos canais é administrado pelo gabinete da presidente
nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann. Outro é o grupo de divulgação
oficial das notícias do partido, o Zap do PT. O partido, em nota, diz
que não distribui mensagens em massa nem divulga desinformação. A
deputada Gleisi Hoffmann diz que estuda as medidas judiciais cabíveis. O
Zap do PT, de acordo com o partido, muda para o aplicativo Telegram.
Boa notícia 1
Enquanto o Governo brasileiro sofre pressão de investidores
estrangeiros para cuidar do meio-ambiente, do desmatamento da Amazônia
(que, diz o jornal francês Le Monde, bateu os recordes dos últimos onze
anos) e para reduzir as emissões de carbono, a Advocacia Geral da União,
AGU, obteve o bloqueio de R$ 570 milhões de bens de desmatadores da
Amazônia. Este bloqueio serve para garantir a reparação de danos
ambientais e o pagamento de indenizações por danos morais coletivos, em
caso de condenação. Os recursos bloqueados são de seis desmatadores de
Gaúcha do Norte, MT.
Boa notícia 2
A informação é da Serasa Experian: a busca de crédito cresceu 13,1%
em maio, com relação ao mês anterior. É o primeiro aumento da série
mensal em três meses, e atingiu todas as faixas de renda. Uma parte é
renegociação de dívidas; mas há indicações de que parte é para a
recuperação de consumo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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