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Uso
de biossimilares completa 10 anos no Brasil com mais acesso a terapias
de ponta e redução de custos para o SUS e saúde suplementar
Há
uma década, o Brasil registrava seu primeiro medicamento biossimilar, o
infliximabe, usado no tratamento de doenças inflamatórias autoimunes.
Desde abril de 2015, essas medicações transformaram o acesso a terapias
de alta complexidade no país. Os biossimilares são versões de
medicamentos biológicos de referência, produzidos após a expiração da
patente do produto de marca original, mas com custo em média 30% menor,
mesma segurança e eficácia, e aprovação da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) — gerando impactos expressivos no sistema
de saúde brasileiro ao promover a ampliação do acesso a tratamentos
biológicos e a redução de custos.
Estudos
apresentados no ISPOR (evento realizado pela Sociedade Internacional de
Pesquisa em Economia da Saúde e Desfechos Clínicos) destacam os
benefícios dos biossimilares no Brasil, tanto no SUS quanto na saúde
suplementar. No sistema público, uma Parceria para o Desenvolvimento
Produtivo com o anticorpo monoclonal rituximabe gerou aumento de 47% nas
doses distribuídas e redução de 20% nos custos para o governo.
Já
na saúde suplementar, a adoção de biossimilares cresceu de 39% para 86%
em dois anos, com uma queda significativa no custo médio por paciente e
ampliação do número de pessoas tratadas. “Os medicamentos biológicos
representam uma das maiores revoluções da medicina e transformaram o
tratamento de doenças complexas e crônicas, como câncer e doenças
autoimunes, porque permitem o desenvolvimento de terapias personalizadas
e direcionadas, mas com um custo altíssimo de desenvolvimento e
produção. Os dados apresentados no ISPOR apontam para essa direção”,
explica Nanci Utida, diretora associada de assuntos médicos da
Organon.
Para
a executiva, a chegada dos biossimilares ao mercado brasileiro
representou um divisor de águas: “O uso de medicações biológicas era
restrito e poucos pacientes tinham acesso a essas terapias inovadoras,
especialmente no sistema público, porque o custo dos biológicos
pressiona fortemente o orçamento do SUS e dos planos de saúde,
especialmente em áreas como oncologia, reumatologia e doenças raras. Com
custos menores, os biossimilares permitem o tratamento de um número
maior de pacientes com os mesmos recursos e o uso mais eficiente do
orçamento público”.
Oncologia, reumatologia e hematologia
As
áreas mais beneficiadas pela adoção dos biossimilares são oncologia,
com a adoção de trastuzumabe (para tratamento de cânceres de mama e
gástrico) e bevacizumabe (para tumores sólidos); reumatologia,
dermatologia e gastroenterologia, com o uso de adalimumabe, etanercepte e
infliximabe, para artrite, psoríase, espondilite anquilosante (que
afeta a coluna vertebral) e doenças inflamatórias intestinais; e
hematologia, com o filgrastim — primeiro biossimilar inteiramente
desenvolvido no Brasil, liberado pela Anvisa em outubro de 2015,
indicado em casos de glóbulos brancos no sangue abaixo do normal e após
quimioterapias à base de agentes citotóxicos.
Para
se ter uma ideia da economia de recursos gerada pelos biossimilares, o
infliximabe, por exemplo, pode custar a metade do seu biológico
originador — o medicamento de referência. "Os tratamentos com
biossimilares propiciam uma redução significativa nos custos da
assistência à saúde. Estudos publicados pelo Jornal Brasileiro de
Economia da Saúde revelam evidências de que um programa bem conduzido
para o gerenciamento de trocas de medicamentos de marca por
biossimilares pode levar a economias acima de 50%. Isso permite uma
melhor gestão de recursos e os libera para investimentos em outras áreas
prioritárias tanto para o poder público quanto para as operadoras de
saúde, e queremos ser parceiros nesse processo”, conta o diretor de
biossimilares da Organon, Marcel Zetun.
Apesar
dos avanços, estudos mostram que 40% dos pacientes ainda relutam em
trocar o medicamento biológico pelo biossimilar por medo, em um fenômeno
chamado "efeito nocebo". Uma das causas desse receio é a falta de
informações sobre os biossimilares em si, todo o processo envolvido no
seu desenvolvimento e estudos clínicos obrigatórios para sua
aprovação.
"O
efeito nocebo é o nosso grande desafio para ampliar o uso de
biossimilares. Pacientes que não são bem-informados por seus médicos ou
têm dúvidas sobre a equivalência dos biossimilares podem relatar mais
efeitos adversos ou uma percepção de piora clínica após a troca de
medicamentos, mesmo que seus exames mostrem estabilidade, afetando
terapias biológicas nas quais a sua adesão e confiança são fundamentais
para o sucesso do tratamento”, explica Marcel Zetun.
Campanhas de informação
A
solução para esse problema passa por campanhas de educação direcionadas
a médicos e pela confiança que transmitem a seus pacientes. "No início,
alguns médicos eram resistentes ao seu uso, mas isso vem mudando com
educação e experiências de tratamento positivas. É fundamental investir
em estratégias de comunicação eficazes com os pacientes e em educação
médica continuada para os profissionais de saúde. Quando médicos confiam
na segurança e eficácia dos biossimilares e conseguem transmitir isso
com clareza aos seus pacientes, os resultados são bem melhores”,
completa Nanci Utida.
Um
passo importante foi dado no ano passado, quando a Sociedade Brasileira
de Reumatologia publicou um consenso que reconhece a possibilidade de
troca entre biossimilares e originadores sem necessidade de nova
autorização médica, o que aumentou a confiança no uso desses
medicamentos.
Resistências
à parte, as perspectivas para os biossimilares nos próximos dez anos
são promissoras no Brasil e no mundo. Diversas medicações biológicas
perderão suas patentes até 2028, abrindo espaço para o desenvolvimento e
comercialização de biossimilares, como o denosumabe (para osteoporose e
prevenção de metástases ósseas), pertuzumabe (câncer de mama),
blinatumomabe (leucemia linfoblástica aguda), ustequinumabe (psoríase,
artrite psoriásica e doença de Crohn) e pembrolizumabe (para diversos
tipos de câncer).
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