Em
evento na Câmara de Comércio França-Brasil, executivos da Coface
fizeram análise do cenário atual do comércio internacional e citaram
seguro de crédito como ferramenta eficaz para manter os negócios
externos saudáveis
A
guerra comercial que vem sendo travada pelo governo de Donald Trump
poderá contribuir para a desaceleração da economia mundial em 2025.
Desta forma, as insolvências das empresas devem permanecer em patamares
elevados em várias partes do mundo. Diante desse cenário e das
incertezas que marcam as trocas comerciais, atualmente, as empresas,
particularmente as exportadoras, precisam cada vez mais proteger seus
negócios.
Esse
panorama foi apresentado nesta semana, por executivos da Coface, líder
global em seguros de crédito, durante o evento “Gestão de Riscos no
Comércio Exterior – A relevância das fontes de informação para navegar
em mares turbulentos”, promovido pelas Comissões de Comunicação &
Marketing e de Comércio Exterior da Câmara de Comércio França-Brasil
para empresários, como parte da agenda comemorativa de 125 anos de
atividades da instituição no País e do bicentenário das relações
comerciais entre a França e o Brasil.
Isabelle
Heude, Chief Commercial & Operations Officer da Coface, disse que
uma das estratégias de proteção mais eficazes é o seguro de crédito, mas
que ainda é baixa penetração desse produto em âmbito mundial, mesmo
diante da alta representatividade das exportações no Produto Interno
Bruto (PIB) da maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Na
Alemanha, por exemplo, as vendas externas representam cerca de 35% do
PIB; enquanto na China se aproximam dos 20% e no Brasil estão em torno
de 15%.
“Entretanto,
o mercado de seguro de crédito, ainda está restrito a cerca de 15% do
total transacionado globalmente”, observou a executiva, afirmando que em
muitos países, como o Brasil, questões culturais são prevalecentes
diante da baixa maturidade desse mercado. No mercado brasileiro,
estimativas mostram que menos de 1% das exportações está coberta por
seguro de crédito.
“As
empresas fazem seguros de todos os seus ativos, de maquinários, dos
trabalhadores, de matérias-primas, mas esquecem do ‘contas a receber’”,
ressaltou Heude. O seguro de crédito, ela prosseguiu, é o seguro de vida
das companhias, uma vez que “contas a receber” é o maior ativo das
corporações. “Cerca de 80% das empresas enfrentam inadimplência, sendo
que 25% das falências estão vinculadas a faturas não pagas”, explicou.
A
dinâmica do comércio internacional favorece cenários de inadimplência,
pois a maior parte das vendas é realizada a prazo: 87% das empresas
oferecem essa elasticidade no pagamento, cujo tempo médio de recebimento
foi de 60 dias, em 2024, com mostra pesquisa da Coface.
Ricardo
Costa, Middle Market Country Head da Coface, enfatizou a importância do
seguro crédito mesmo para aquelas companhias que já conhecem bem seus
clientes, com quais negociam há muito tempo. Costa lembrou vários
exemplos de empresas sólidas que fecharam as portas por diversos
problemas ou em decorrência de crises.
“Com
o seguro de crédito, é possível preservar a estabilidade da empresa,
reduzir custos e garantir crescimento, com proteção dos negócios. É
possível expandir para novos mercados, obter melhores linhas de
financiamento, proteger o caixa, eliminar o risco político e as reservas
destinadas à inadimplência”, disse Costa sobre as principais vantagens
do produto para as exportadoras.
Segundo
explicou o executivo, além da proteção contra falências de empresas no
exterior e inadimplências, o seguro pode cobrir riscos políticos, como
quando um país impõe restrições cambiais que impedem o importador de
efetuar pagamentos internacionais.
A
Coface desenvolve estudos, sempre baseadas em dados de fontes
confiáveis, que medem não apenas riscos políticos em 160 países, sejam
eles estruturais ou cíclicos, como também acompanha riscos setoriais,
especialmente os vinculados a commodities e mais representativos em
determinadas economias.
Desaceleração mundial, impacto dos EUA
Patricia
Krause, Economista-Chefe para a América Latina da Coface, destaca que a
seguradora tem monitorado de perto os impactos da nova política
tarifária dos Estados Unidos, especialmente na relação com a China, e
seus efeitos sobre a economia global e os países em que opera. Apesar de
as negociações bilaterais terem suavizado relativamente os impactos
negativos iniciais no comércio internacional, o ambiente permanece
instável e incerto.
“A
expectativa é de um crescimento mais fraco da economia mundial,
estimado em 2,1% este ano, após 2,8% em 2024. Também observamos uma
queda nos preços das commodities, impulsionada por uma demanda
enfraquecida, principalmente as industriais e energéticas. No caso das
commodities energéticas, o aumento da oferta em diferentes países também
influencia as cotações”, afirmou Krause. A Coface prevê que a guerra
comercial reduzirá a expansão econômica dos Estados Unidos de 2,7% para
0,6%. Para a China, a estimativa de crescimento é de 4,3%, abaixo dos 5%
registrados em 2025. No Brasil, a desaceleração será de 3,4% em 2024
para 2% em 2025, sendo que o principal fator limitante para a expansão
será o aperto das condições de crédito.
Na
América Latina, o México é o país mais vulnerável às incertezas
provocadas pela política comercial dos Estados Unidos, já que mais de
80% de suas exportações—equivalentes a quase um terço do PIB
nacional—são destinadas ao mercado norte-americano. A Coface projeta que
a economia mexicana desacelere de um crescimento de 1,5% em 2024 para
apenas 0,2% em 2025. No Brasil, o impacto das tensões comerciais é
atenuado, dado que as exportações para os Estados Unidos correspondem a
aproximadamente 1,8% do PIB e que as tarifas impostas ao país foram as
mínimas, de 10%. No entanto, os impactos indiretos, como a desaceleração
da economia global e a queda nos preços das commodities, podem ser
relativamente mais significativos para o Brasil, concluiu Krause.
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