Em
“Destino Varanasi”, obra lançada pela editora Claraboia, a autora
aborda temas como destino, redenção, a busca pela felicidade e por um
sentido de vida
Tudo
o que acontece tem um sentido? Até que ponto podemos influenciar no
nosso destino? Devemos aceitá-lo para atingir certa paz e, talvez,
também a felicidade? Essa busca por um sentido de vida, pela superação
de traumas, por explicar o inexplicável, é o que une os caminhos dos
personagens principais de “Destino Varanasi” (258 pág.), romance de estreia da escritora e advogada Patricia Ruhman Seggiaro (@destino_varanasi),
autora paulistana radicada na Argentina há quase três décadas.
Publicada agora no Brasil pela Paraquedas, selo da editora Claraboia, a
obra foi lançada anteriormente na Argentina em espanhol e está
disponível nas livrarias locais como "Camino a Varanasi".
Logo
no início da narrativa, o leitor já se depara com uma rica descrição da
Índia feita pela autora. É nesse país repleto de cores, aromas e
sabores, que os caminhos da brasileira Nina, do fotógrafo argentino
Pedro e do escritor e jornalista israelense Noah se cruzam. Cada um
deles viaja com um objetivo distinto: Nina deseja esquecer um passado
perturbador e retomar o controle de sua vida; Pedro, que luta contra
seus fantasmas pessoais, ambiciona concretizar um projeto profissional
junto a Noah, enquanto este anseia curar traumas de guerra.
Mas
a Índia recebe os peregrinos com seus próprios planos. Ao trio de
viajantes se somará Vishnu, um indiano da casta dos intocáveis, que Nina
conhece assim que chega a Mumbai e que lhe transmite tradições do
Oriente ancestral, misteriosamente próximas à sua alma. Cidade após
cidade, os viajantes descobrirão um povo de costumes fascinantes. A
caótica Déli, a Mumbai de Salman Rushdie, as miragens do Chand Baori, as
cavernas de Ajanta e de Ellora, o exotismo do Rajastão destilam aromas,
sabores e cores que não deixarão de surpreendê-los. Quando os quatro
caminhos confluírem em Varanasi e no Ganges imortal, cada um deles
levará uma oferenda para encontrar o sentido de sua própria busca.
Neste
percurso às vezes intrincado -como a própria vida- emerge um
aprendizado comum entre os personagens, acompanhado da história índia e
dos 15 lugares onde transcorre o romance, adicionado à cultura e
religiosidade local, que os leva a refletir na tentativa de curar suas
feridas. Segundo a autora, a personagem principal do romance é a Índia,
quem recebe os viajantes com seus próprios planos. “É uma história de
espiritualidade e tradições, de diferenças e aproximações”, completa
Patricia.
Um relato, um diário, uma viagem e a necessidade de escrever
Patricia
Ruhman Seggiaro nasceu em 1965 em São Paulo, Brasil, onde passou a sua
infância e juventude. Viveu alguns anos em Londres e Nova York, com seu
marido, antes de se estabelecer na Argentina, onde reside nos arredores
de Buenos Aires. Advogada, é apaixonada pela literatura, pela história,
pela arte, o contato diário com a natureza.
Desde
pequena, a autora identificou uma necessidade inerente de expor suas
ideias e defender posições, através das palavras, tanto no discurso
oral, quanto escrito. A inclinação para a carreira do Direito foi a
consequência de um processo interno, natural e orgânico.
Ler
sempre foi um prazer e ao mesmo tempo um vício constantemente presente;
entre suas principais referências literárias estão os autores Salman
Rushdie, Margaret Atwood, Jorge Luis Borges, Leon Tolstoi, Truman
Capote, Marcos Aguinis, Mario Vargas Llosa, Marguerite Yourcenar,
Junichiro Tanizaki e Philippe Claudel. Porém, ela nunca se considerou
criativa, até que um evento movimentou sua vida. Há alguns anos, seu
principal cliente de longa data não precisou mais de seus serviços, a
deixando com tempo livre para empregar em um novo projeto pessoal. “O
que em um primeiro momento foi desilusão, logo se transformou em uma
grande oportunidade. Decidi que necessitava de um novo projeto”, conta.
Em
adição, a mãe da advogada, uma historiadora, faleceu pouco antes,
deixando de herança uma rica biblioteca, onde a autora encontrou vários
tesouros, entre eles o diário da viagem à Índia escrito na década de
oitenta. “Ela viajou à Índia quando eu tinha uns 20 anos, nunca esqueci
seus relatos orais e aqueles transcritos em suas cartas. Escreveu um
diário de viagem; mais de 30 anos depois foi usado como inspiração para
planejar a nossa viagem familiar à Índia. Por tudo isto, é a ela a quem
dedico este livro.”
Nesta
viagem, Patricia foi tocada intimamente pela multiplicidade cultural e
pela religiosidade da Índia. “Acho que todas as viagens impactam em cada
um de distintas formas. Poderia dizer que esta viagem em particular foi
uma imensa sacudida, tocou fundo em cada um de nós. No meu caso,
provocou a erupção de uma criatividade interna até então desconhecida
para mim”, evidencia a escritora que atualmente continua escrevendo.
“Comecei um segundo romance há alguns meses, provisoriamente na gaveta
até que ‘Destino Varanasi’ encontre seu caminho no mercado brasileiro.”
Confira um trecho da obra:
"Caminhou pausadamente os quilômetros que separavam
o mercado da Cidade Velha da casa onde Mahatma Gandhi, ‘o
grande espírito’ ou ‘alma grande’ — conforme batizado pelo
poeta indiano R. Tagore —, tinha passado seus últimos cento
e quarenta e quatro dias de vida, até ser assassinado por um
radical hindu, aparentemente vinculado a grupos indianos de
extrema direita, no final de janeiro de 1948."
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