Não defendo, como alguns, a ideia de um insulto ser justificado por insulto anterior. Nada disso. O meu ponto é que usar “racismo” como forma de não aceitar a crítica é falsear o que está em causa. Fernando Leal da Costa para o Observador:
Transcrevo
um comentário que escrevi numa rede social, a única que uso, onde já
consegui chamar a atenção de detratores anónimos. Demorou algum tempo,
mas finalmente surgiram os comentários pouco educados. É caso para
dizer, “missão cumprida”. Alguém percebeu a perigosa justeza das minhas
tíbias reflexões, nem sempre na melhor prosa, injustificadamente com
erros ocasionais de sintaxe e ortografia. Foi a prova de que ainda há
quem vá lendo as minhas notas e sinta necessidade de ripostar. Essa
necessidade de contrapor com insultos ao que eu vou escrevendo reforçou a
minha certeza, já facilmente discernível nalguns comentários que neste
jornal vão aparecendo, de que há uma “Máquina” de vigilância, montada
nos jornais e nas redes sociais, para não falar nos comentaristas a
soldo em algumas rádios e TVs. Repito o que já publiquei, em itálico,
agora com acrescentos.
Não
vejo racismo nos cartazes que alguns professores entenderam exibir na
manifestação do 10 de junho. Uma alusão ao Porco de Orwell? Acho que
sim. Ao Porco que vigia, controla, cheio de certezas, avesso a críticas,
prepotente e impenitente. Percebo a preocupação dos comentadores. Todos
os membros dos Governos do Dr. Passos Coelho, sem exceção, foram
insultados sem dó ou pudor. Até num Rock in Rio me lembro de comentários
infelizes de um dos membros do grupo rock James. Seguramente um
profundo conhecer dos meandros da política lusa. Ninguém se queixava.
Ninguém nos protegia. Mas o PS tem uma excelente “Máquina” de proteção
dos “ataques” ao grande líder.
Democracia
é direito à indignação. O Dr. António Costa desconhece ou recusa esse
direito. Chama de racista a quem discorda dele, já o fez na AR com
alusão sabuja à sua tez “industânica”, e voltou a fazê-lo quando
confunde o suíno com um protótipo de etnia. Ignora que os humanos nem
têm raças, coitado. Lembram-se de quando, em campanha eleitoral, quase
bateu num idoso? Irrita-se. Nada de estranho. Mas falta-lhe estofo e
distanciamento para perceber ao que não deve responder. Nem precisa. Tem
a “Máquina”.
Os
cartazes demonstram falta de gosto e são esteticamente débeis. Não
apreciei as cores e os lápis destoam do que se pretendia mostrar. Tenho a
impressão de que são um pelágio. Insultaram? Acho que sim. Reprováveis?
Sem dúvida. Falta educação na política em Portugal, mas o nosso
Primeiro-Ministro está longe de ser um modelo de elegância. Nem lhe
interessa ter compostura. A “Máquina” cuida da imagem, disfarça, altera,
distorce.
Fui
pessoalmente insultado por políticos, jornalistas, cidadãos,
comentadores, sindicalistas, Colegas e até dirigentes nacionais da Ordem
dos Médicos. Circularam cartazes, cartoons, filmes, fotografias,
desenhos e dichotes. Lobectomizado, nazi, gatuno e assassino. Não
fizeram por menos. Alguém se indignou? Na verdade, pese embora a falta
de civismo e educação, confesso que alguns até me divertiram e tinham
graça. Não há dois Costa iguais. Lembro-me, com carinho, de uma
manifestante idosa, indignada com o facto de eu estar a inaugurar uma
estrutura que a iria servir. Exibia um cartaz onde estava escrito
“asessinos”. Simpática, aceitou a minha explicação de que o que ela
queria chamar-me era “assassino”. Ou seria asinino, por estar ali a
aturar tudo aquilo?
Pois
foi esta alusão aos insultos que recebi o que mais irritou os que
entendem haver no Dr. António Costa um sacrossanto direito a que não se
lhe diga nada, não se mostre, nem se mencione o que possa irritá-lo.
Quem sou eu, mero cidadão, para me queixar e comparar com o elevado
espírito que é o Dr. António Costa? É verdade. Insultar um Costa não é o
mesmo que insultar O Costa. Achincalhar um cidadão qualquer não é o
mesmo que apoucar o primeiro-ministro. Quem somos nós, eleitores que não
lhe deram a maioria, para nos queixarmos de um político que tem feito
mal o seu trabalho?
Não
defendo, como alguns têm dito, a ideia de que um insulto pode ser
justificado por insulto anterior. Nada disso. O meu ponto é que usar
“racismo” como forma de não aceitar a crítica é falsear o que está em
causa. O senhor Primeiro-Ministro é useiro em se esconder e vitimizar. É
uma forma de estar. Neste caso, em que houve mau gosto de manifestantes
e Primeiro-Ministro, bastaria ter ignorado e seguir o seu caminho. Não
houvesse a “Máquina”.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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