BLOG ORLANDO TAMBOSI
Embora, na campanha eleitoral, tenha circulado a narrativa de que o amor venceria e a sociedade se pacificaria, o que esá se vendo é justamente o oposto, um esforço continuo para dividir ainda mais a sociedade entre “nós” e “eles”. Luciano Trigo para a Gazeta do Povo:
Um
terço do primeiro ano do governo já passou, sem que o clima de
polarização da sociedade tenha arrefecido. Ao contrário, embora, na
campanha eleitoral, tenha circulado a narrativa de que o amor venceria e
a sociedade se pacificaria, o que esá se vendo é justamente o oposto,
um esforço continuo e, aparentemente, deliberado, para dividir ainda
mais os brasileiros entre “nós” e “eles”. Os acontecimentos de ontem
apenas comprovam que não se trata de acaso ou improviso, mas de
estratégia e método.
Dará
certo? Como, no Brasil, até o passado é imprevisível, não dá para
cravar o que vai acontecer. Mas não há motivos para otimismo. Isso
porque essa estratégia e esse método partem de um conjunto de premissas
que me parecem equivocadas. Mas quem sou eu na fila do pão...
De
qualquer forma, seguem seis premissas que parecem nortear o
comportamento do governo neste início de mandato – e que podem estar
levando o país para um caminho inesperado e surpeendente, para muitos.
Premissa errada número 1: perseguir o adversário aumentará a popularidade do governo
Não
aumentará. A perseguição pode até reforçar a convicção dos já
convertidos e dos apoiadores incondicionais do presidente, mas não
atrairá o apoio de ninguém fora da bolha. Pior ainda, pode gerar o
sentimento, naquelas pessoas comuns não comprometidas com ideologias, de
que estão passando do ponto. Brasileiros tendem a simpatizar com quem é
perseguido e a hostilizar quem persegue. Aliás, essa lição deveria ser
óbvia, já que, ao ser preso em um passado recente, o próprio presidente
virou mártir junto a uma parcela significativa do eleitorado. Muitos
brasileiros não votaram com a razão, mas com a emoção. Nada impede que a
emoção da maioria se volte contra o governo.
Premissa errada número 2: bodes expiatórios protegerão o governo, em caso de acirramento da crise econômica
Não
protegerão. Fora da bolha, a sociedade não quer culpados para apontar o
dedo, e sim que as coisas dêem certo. Se a inflação e o desemprego
saírem do controle, os brasileiros comuns não vão querer saber se a
culpa foi do presidente malvadão do Banco Central que se recusou a
baixar os “juros genocidas” (sim, já estão usando essa expressão, basta
pesquisar no Google). Eles vão cobrar do governo que foi eleito as
promessas de campanha. Isso também não é novo: Dilma foi reeleita
fazendo promessas de um novo ciclo de crescimento, mas bastaram poucos
meses para que o povo e o sistema que a reelegeram se voltassem contra
ela.
Premissa
errada número 3: práticas de articulação junto ao Congresso que
funcionaram de 2003 a 2008 também funcionarão no atual mandato
Não
estão funcionando. Em mais de 120 dias o governo ainda não conseguiu
aprovar nenhuma proposta relevante no Congresso Nacional. Pior ainda,
fracassou miseravelmente nos dois primeiros testes (o PL 2630, cuja
votação foi adiada por iminência de derrota, e a derrubada acachapante –
296 x 136 votos – de trechos do novo marco do saneamento). Isso apesar
de toda a campanha a favor feita pela velha mídia e por integrantes do
Judiciário (porque, no Brasil, mídia e Judiciário parecem ter lado – e
nem fazem questão de esconder – como se isso fosse normal: é a
democracia de um lado só. Fato é que, pelo menos na Câmara, os
parlamentares deixaram claro que o governo não terá vida fácil. E os
problemas tendem a piorar com a instalação da CPMI de 8 de janeiro e a
CPI do MST – principalmente esta, que tem grande potencial de estrago,
apesar de estar recebendo pouca atenção.
Premissa errada número 4: narrativas triunfam sobre a realidade
Podem
até triunfar, temporariamente, mas no fim do dia a realidade sempre se
impõe. Fora da bolha, a sociedade está muito mais interessada em
resultados que em palavras. E já aumenta a impaciência de quem estuda e
trabalha com a lacração de quem não trabalha nem estuda, de quem acha
que o Estado tem obrigação de resolver todos os seus problemas. Pelo
menos metade dos brasileiros já entendeu que, como afirmou o
ex-presidente americano Gerald Ford, “um governo grande o suficiente
para lhe dar tudo o que você quer é um governo grande o suficiente para
tirar de você tudo o que você tem”.
Premissa errada número 5: a grande mídia tem o mesmo poder de antes de comandar a opinião pública
Não
tem. As redes sociais mudaram tudo, ao mesmo tempo em que grandes
grupos de comunicação aderiram ao ativismo jornalístico e abriram mão de
seu principal capital junto aos leitores: a credibilidade e a isenção. E
esse caminho não tem mais volta: depois de tudo que aconteceu nos
últimos anos, mesmo que censurem e amordacem todas as redes sociais,
ninguém fora da bolha voltará a confiar na grande mídia como confiava
antes.
Premissa errada número 6: o tempo anda para trás
Não
anda. Essa premissa engloba e explica todas as outras. Diariamente, o
governo passa a impressão de acreditar que ainda estamos em 2003, sem se
dar conta de que todos envelhecemos. Mas muita coisa aconteceu nesses
20 anos, e a sociedade brasileira mudou muito: ela está mais desconfiada
em relação à retórica populista, ao bom-mocismo progressista, às
referências antigas e ultrapassadas, bem como à narrativa de monopólio
do bem e da preocupação coma justiça social. Quero crer que mesmo os
mais jovens, apesar de toda a lavagem cerebral nas salas de aula das
escolas e universidades com partido, já se mostram menos vulneráveis e
suscetíveis à doutrinação e à sedução dessas narrativas. O Brasil
mudou. O tempo não anda para trás.
Postado há 2 days ago por Orlando Tambosi

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