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A matemática é como é: exata e implacável. Já a desejada por Lula é impossível, e aprofunda o abismo econômico. Guilherme Macalossi para a Gazeta do Povo:
Ainda
no início de abril, o ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso
Pastore, fez um vaticínio pessimista sobre o impacto do arcabouço fiscal
apresentado pelo governo. Segundo o economista, sua eventual aprovação
no Congresso Nacional será “uma licença para aumentar gastos”. Para ele
“a equação só fecha com aumento brutal da carga tributária”. Isso porque
a tal regra se alicerça eminentemente numa obrigatória elevação das
receitas. Em outras palavras: arrecadação maior.
A
ministra do Planejamento, Simone Tebet, fala que, para tanto, serão
necessários mais R$ 150 bilhões ingressarem nas contas públicas. A
receita só sobe dessa forma ou com atividade econômica robusta, ou com
elevação de carga tributária ou com cortes nas despesas. Não há cenário
fácil, entretanto.
A matemática é como é: exata e implacável. Já a desejada por Lula é impossível, e aprofunda o abismo econômico.
As
projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 e 2024 não são das
melhores. As condições internas e externas impedem que o país repita o
desempenho visto entre 2007 e 2010. Os próximos anos serão de estagnação
e crescimento tímido. Por sua vez, a visão econômica predominante no
governo é contrária ao controle das despesas. Pelo menos é o que Lula
diz de forma muito clara. Ele acha que gastar mais é melhor. De modo que
restaria a elevação de impostos, que só seria aprovada mediante um
desgastante debate no Legislativo. O governo nega que busque essa
solução, até porque sabe que dificilmente qualquer proposta desse tipo
seria rejeitada.
O
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entretanto, garante que os tais
cortes virão. E parece já ter escolhido o vilão da história: as
desonerações. “Ao invés de medida correta de apoio aos trabalhadores,
ficamos sustentando ineficiências econômicas. Isso tem que acabar. A
maior caixa preta que existe no Brasil é essa. Entre aquilo que está
declarado na lei, mais de R$ 400 bilhões em renúncias, há aquilo que na
prática são ralos de mais de R$ 100 bilhões. Dá mais de R$ 600 bilhões
que a união perde em nome de meia dúzia que fazem lobby no Congresso e
no Judiciário", disse.
O
ministro da Fazenda e sua equipe batem cabeça para fechar a conta de um
arcabouço que ainda nem foi aprovado mais já parece insustentável.
Como
número redondo, os tais 600 bilhões são uma soma impressionante e que
tendem a chamar a atenção dos eleitores. Presume-se que basta dar uma
ordem para devolver parte desses recursos aos cofres públicos e, voilà, a
conta do tal arcabouço fiscal fica no azul. Mas isso não passa de
mágica de circo chinfrim.
Se
colocados sob uma lupa, os valores das desonerações impactam em setores
sensíveis. A começar pela agricultura, que tem uma desoneração de R$ 53
bilhões. Haddad pretende dar uma tesourada ali, diminuindo a
competitividade dos produtores e aumentando o custo do alimento na mesa
dos brasileiros? E as entidades sem fins lucrativos, incluindo a redes
hospitalares? Estas consomem R$ 40 bilhões. O Simples Nacional, por sua
vez, tem um subsídio de R$ 118 bilhões. Vai tirar o benefício das micro e
pequenas empresas que estão num regime tributário diferenciado? Topa
arcar com o custo social disso? Não parece que Lula seja esse tipo de
político.
É
importante lembrar que foi Dilma Rousseff a campeã das desonerações.
Usou esse instrumento de maneira a retardar e maquiar as condições da
economia brasileira quando esta já tinha ido para o vinagre no último
mandato do PT. Também faltam estudos para embasar tais cortes. Quais
dessas desonerações foram positivas? Quais foram ineficazes? Só com
dados é possível determinar o que se encerra, o que se diminui e o que
se mantém.
Da
forma como Haddad colocou, até parece que o Estado está sendo vítima de
empresários inescrupulosos que sugam as verbas públicas em nome de seus
interesses. A fala os trata como criminosos saqueadores do erário. Não o
são, ainda que desonerações possam e devam ser analisadas com cuidado. O
problema, por óbvio, é apelar ao discurso fácil e fazer demagogia em
cima de uma questão tão complexa.
Outro
problema que já se observa é a dificuldade em atingir um ritmo
equilibrado entre o crescimento da despesa e o crescimento da receita.
Ainda que o governo obtenha novas fontes de recursos para compensar os
gastos gerados, quem garante que serão suficientes? Até aqui as novas
despesas criadas não foram compensadas em igual medida por novas fontes
de financiamento.
Enquanto
Lula continua com sua guerrinha oportunista contra o Banco Central e a
base no Congresso Nacional permanece desarticulada e pouco interessada
em aderir à agenda do Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda e sua
equipe batem cabeça para fechar a conta de um arcabouço que ainda nem
foi aprovado mais já parece insustentável. A matemática é como é: exata e
implacável. Já a desejada por Lula é impossível, e aprofunda o abismo
econômico.
Postado há 2 days ago por Orlando Tambosi

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