A
análise, pelo Congresso Nacional, do arcabouço fiscal proposto pelo
governo é um dos passos mais importantes para o controle dos gastos
públicos e, consequentemente, para a estabilidade macroeconômica. Com a
apresentação do relatório do deputado Cláudio Cajado (PP-BA) e a
expectativa de que o texto seja colocado rapidamente em votação, os
agentes econômicos poderão calibrar melhor as expectativas para a
economia para os próximos anos e estimar cenários mais realistas.
“É
fundamental ter uma norma clara e robusta, que seja capaz de organizar e
dar previsibilidade para os gastos públicos”, diz José Maurício
Caldeira, sócio-acionista da Asperbras, grupo que atua em diversos
setores da indústria e do agronegócio. A ideia do novo regime fiscal é
estabilizar a relação dívida/PIB, evitando uma trajetória explosiva da
dívida.
Se
isso acontecer, os benefícios vão além. “Será uma contribuição
importante para que as taxas de juros caiam, o que é vital para uma
retomada vigorosa da atividade econômica”, afirma José Maurício
Caldeira.
As
taxas de juros estão elevadas desde o ano passado, quando o Banco
Central fixou a Selic em 13,75%. Atualmente, os juros reais no Brasil
estão na casa de 8% ao ano. Taxas neste patamar inibem a venda de bens
duráveis, deixam as famílias endividadas e desestimulam os
investimentos.
Um
novo arcabouço se faz necessário em função do esgotamento do modelo do
teto de gastos que entrou em vigor em 2016 e foi furado várias vezes nos
últimos anos. O novo regramento é mais flexível e adaptável aos ciclos
econômicos.
O
projeto do novo marco fiscal estabelece que o governo deve se
comprometer a eliminar o déficit público da União no ano que vem, gerar
um superávit primário de 0,5% do PIB em 2025 e, no ano seguinte, um
superávit de 1%. Para este ano, está previsto um déficit de 0,5% do PIB.
Porém,
isso pressupõe uma arrecadação adicional entre R$ 100 bilhões e R$ 150
bilhões para fazer frente às metas estabelecidas. O ministério da
fazenda, está analisando alternativas para obter esses recursos
excedentes e cobrir as despesas, como taxação de jogos online, por
exemplo.
Para
alguns analistas econômicos, o desafio pode ser ainda maior e, para o
arcabouço se sustentar, seria necessário haver aumento de arrecadação.
Além disso, há críticas de que, no texto, não há mais punição quando a
meta é descumprida, ao contrário do que é previsto na Lei de
Responsabilidade Fiscal. “Para fechar a conta é preciso arrecadar mais e
cortar gastos”, enfatiza José Maurício Caldeira.
Há
algumas exceções ao novo regime fiscal, mas a maioria já era prevista
na lei do Teto de Gastos ou definidas na Constituição. Entre eles estão:
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), piso
da enfermagem, despesas com projetos socioambientais, transferências
constitucionais e despesas com universidades públicas.
“Os
projetos sempre podem e devem ser aprimorados pelo Parlamento, isso é
da democracia”, diz José Maurício Caldeira. “O importante é termos uma
regra fiscal que cumpra o objetivo de estabilizar a relação entre dívida
e PIB.”
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