Julgar se a maneira como um homem está olhando para você é assédio sexual ou um aceno amigável está nos olhos de quem vê. Joana Williams, da Spiked, para a revisa Oeste:
Um
dos aspectos mais preocupantes da pandemia da covid-19 foi a prontidão
com que muitas pessoas aceitaram ficar em casa, usar máscara e fazer
distanciamento social. Mais preocupante ainda foi a relutância com que
elas abandonaram essas práticas quando o vírus deixou de representar um
risco. Claro, os idosos e os clinicamente vulneráveis estavam ansiosos
para não ficar doentes. Mas as pessoas mais entusiasmadas com o uso de
máscaras, face shields e em manter distância dos demais cidadãos com
frequência eram profissionais saudáveis e abastados.
Vamos
pensar em qualquer evento badalado de 2021 — as imagens de todas as
celebridades glamorosas sendo atendidas por empregados usando máscaras. E
os professores que queriam que seus estudantes borrifassem desinfetante
antes de ousar entrar na sala de aula. Eles foram apoiados por líderes
sindicalistas que descreveram as crianças como disseminadores de germes
“imundos”, que “assoam o nariz na calça e no vestido”.
A
chegada das vacinas apenas deu respaldo a esse desejo elitista de
manter a plebe à distância. Líderes mundiais discutiram abertamente a
necessidade de criar uma “sociedade de duas camadas”, para que os
vacinados nunca precisassem correr o risco de encontrar um
“negacionista”. O medo da covid-19 pode ter oferecido o ímpeto inicial
de isolamento, mas o esnobismo logo assumiu como a principal força
motriz. A pandemia deu às elites sociais permissão para verbalizar seu
desprezo pelas massas e exigir a segregação delas.

Então
o que acontece agora? Bem, as mulheres de fino trato logo encontraram
outra desculpa para exigir espaços públicos higienizados e segregados — a
saber, o espectro da misoginia.
No
transporte público, anúncios que incentivam o uso de máscaras foram
substituídos da noite para o dia por pôsteres pedindo que os homens não
encarem as mulheres. Cartazes exigindo distanciamento social foram
substituídos por alerta sobre toques não apropriados. Assim como a
propaganda política do lockdown, esses pôsteres atendem a um propósito
duplo. Eles dizem aos “disseminadores” — de um vírus ou da misoginia —
como se comportar. Não respire perto de outras pessoas. Não faça contato
visual com as mulheres. Mas eles também espalham uma mensagem de medo,
fazendo lembrar às figuras incautas que elas também podem ser vítimas.

Placa com os dizeres “Olhar intrusivo de natureza sexual é assédio sexual e não é tolerado”
Esse
tipo fraudulento de feminismo é anterior à pandemia. Mas, depois do
lockdown, a histeria em relação aos homens que se comportam mal nas
redes ou nas ruas deu um salto. No começo de fevereiro, foi anunciado
mais uma alteração no Projeto de Lei de Segurança On-line do Reino
Unido. Alguns membros do Parlamento querem que as empresas de rede
social sejam responsabilizadas pela misoginia em suas plataformas. Eles
argumentam que as mulheres precisam ser melhor protegidas do “ódio
on-line”. A mensagem que isso transmite é que a misoginia é uma força
maligna onipresente.
E
se isso não fosse suficientemente ruim, a deputada do Partido
Trabalhista britânico Stella Creasy está tentando aprovar uma emenda às
novas leis propostas sobre assédio nas ruas. Essa é a mesma política que
acha que algumas mulheres nascem com pênis e que é “loucura” que os
homens que querem ser legalmente reconhecidos como mulheres não possam
fazer isso apenas por meio da autodeclaração. Infelizmente, Creasy não
caiu em si e se deu conta de que os homens, incluindo estupradores que
se identificam como mulheres, deveriam ser mantidos fora dos espaços
exclusivos para mulheres. As mudanças propostas à legislação de assédio
feitas pela deputada não são uma objeção aos homens que querem ser
mulheres. Na verdade, o problema dela é com os homens que às vezes
tentam flertar ou conversar com as mulheres em público. As alterações
propostas impediriam que homens desajeitados afirmem que estavam
brincando ou fazendo um elogio como uma forma de defesa contra acusações
de assédio. São esses os homens que Creasy quer criminalizar e prender.

Stella Creasy, deputada do Partido Trabalhista britânico
Stella
Creasy e seus muitos apoiadores da elite — de Liz Truss até Nimco Ali, a
babá que se tornou melhor amiga de Boris e Carrie Johnson — precisam de
um choque de realidade. As mulheres são capazes de rejeitar um
adolescente espinhento de 17 anos. Mulheres adultas não precisam de
novas lei para ser protegidas dos homens cafajestes num trem. Mas elas
precisam ser protegidas de predadores que entram em espaços
exclusivamente femininos.
Afinal,
são as mulheres nas prisões, nos hospitais e nos provadores de lojas
que estão vulneráveis. Elas não podem simplesmente ir embora nessas
situações. E uma bela reprimenda não vai anular a ameaça imposta por um
homem de vestido que é visto como alguém que tem o direito de estar
naquele espaço. O Parlamento precisa enfrentar a misoginia que afirma
que essa situação não é apenas aceitável, ela também está acima de
qualquer crítica. Por outro lado, os encontros raros, mas aleatórios,
das mulheres com idiotas socialmente inadequados deveriam estar muito
mais embaixo na lista de prioridades.
Pior
ainda, as infrações que Creasy e companhia querem criminalizar também
são totalmente subjetivas. E é aqui que entra a arrogância dessa cruzada
contra a misoginia. Determinar se uma interação é considerada “abuso”
ou “flerte” com frequência tem menos a ver com o que é dito do que com a
percepção de quem diz. Julgar se a maneira como um homem está olhando
para você é assédio sexual ou um aceno amigável está nos olhos de quem
vê.
Uma
lei como essa inevitavelmente seria um alvará de esnobismo. Os
preconceitos de algumas mulheres terão rédea solta. No fim das contas,
essas leis podem possibilitar que as mulheres de classe alta habitem um
mundo segregado dos homens que não conhecem o seu lugar. Não mais
mascarados e atrás das telas, esses trabalhadores terão de servir em
silêncio e com os olhos para baixo.
Em
2020 e 2021, a aversão e o desdém das elites foram direcionados para os
sem-máscara e sem-vacina. Em 2023, eles estão sendo direcionados para
os homens que demorarem muito para piscar. Em ambos os casos, a
arrogância está mobilizando a criação de uma sociedade cada vez mais
fragmentada e temerosa. E isso é terrível para homens e mulheres.
Joanna Williams é colunista da Spiked e autora do livro How Woke Won(2022)
Postado há Yesterday por Orlando Tambosi


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