Ação do governo federal é vista como tímida diante da emergência setorial, que já se reflete em fechamento de fábricas e desemprego
O
setor florestal da Região Sul é um dos mais prejudicados pela tarifa de
50% aplicada pelo governo norte-americano. A Associação Sul Brasileira
de Empresas Florestais (ASBR), formada pela Associação Paranaense de
Empresas de Base Florestal (APRE Florestas), a Associação Catarinense de
Empresas Florestais (ACR) e a Associação Gaúcha de Empresas Florestais
(Ageflor), promoveu um encontro em Campo Alegre (SC) no dia 21 de agosto
para compartilhar experiências e buscar soluções conjuntas. O consenso é
de que as empresas estão reagindo e se adaptando, mas precisam de ação
diplomática do Brasil para mitigar os prejuízos trazidos pela nova
tarifa dos Estados Unidos.
Os
estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul representaram
86,5% do total exportado pelo Brasil aos Estados Unidos em 2024 pelo
setor florestal. Juntos, os três estados do Sul exportaram US$ 1,37
bilhão em produtos de madeira, conforme dados da Câmara Americana de
Comércio para o Brasil (Amcham).
O
presidente da APRE, Fabio Brun, afirmou que as três associações da
Região Sul já trabalham juntas em várias dimensões, principalmente na
defesa do setor florestal. “Essa foi uma oportunidade de unir as três
associações numa reunião mais técnica, discutindo não apenas a questão
da tarifação dos Estados Unidos, mas de ouvir o representante da ASBR em
Brasília e sua atuação, bem como as principais dificuldades que o setor
vai enfrentar daqui em diante.”
As
três associações da Região Sul convergiram que a única forma de
enfrentar o problema da super tarifa é por ação do governo federal.
“Ainda não existem indicadores desse esforço. O que está claro é que as
empresas estão reagindo e se adaptando para buscar soluções de mercado,
que não passem apenas pelo enxugamento de pessoal”, afirma Brun.
O
presidente da ACR, José Mario Ferreira, destacou temas prioritários
para Santa Catarina, com possíveis reflexos nos estados vizinhos: “No
campo geopolítico, a Região Sul já começa a sentir os efeitos das
tarifas de importação dos EUA, com fechamentos de fábricas e demissões. A
incerteza ainda persiste em relação ao futuro. Nosso foco permanece na
defesa do Código Florestal de Santa Catarina e do Código Florestal
Federal. Apesar de estarem consolidados há mais de 13 anos, ambos seguem
sob constantes ataques, gerando insegurança jurídica para a
silvicultura catarinense.
Já
o presidente da Ageflor, Daniel Chies, disse que o encontro foi uma
reafirmação do compromisso e união das três associações, fortalecendo
institucionalmente a ASBR. “Essa reunião demonstrou, sobretudo, a
importância e a necessidade de juntarmos esforços institucionais e
políticos na defesa dos interesses e das pautas prioritárias para o
setor de base florestal”, assinalou.
Fernando
Castanheira Neto, consultor da ASBR em Brasília, tem desempenhado papel
estratégico. Com a missão de conectar os interesses regionais às
decisões que se desenrolam no Congresso e no Executivo, levou as pautas
que impactam diretamente o setor no Sul do país para a capital federal .
“Sou
responsável por fazer essa ponte entre a defesa do interesse do setor e
a agenda de Brasília. A maior parte do que acontece nos estados decorre
de orientações federais, seja por legislação, seja por decisões
judiciais”, explicou Castanheira.
Segundo
ele, a união das três associações regionais fortalece a
representatividade e amplia a capacidade de diálogo com o poder público,
principalmente em nível federal.
Um
dos principais pontos de atenção em Brasília tem sido o chamado
“tarifaço” imposto pelos Estados Unidos, que atinge fortemente os
produtos florestais brasileiros. Castanheira critica a postura do
governo federal diante do tema. “Vemos pouca reação do governo
brasileiro. Não há uma negociação clara com os norte-americanos, e isso
tem impacto direto no setor. Defendemos que cada segmento seja tratado
de forma específica em mesas de negociação, mas não vemos essa
mobilização por parte de Brasília”, ressaltou.
Nesse
sentido, a ASBR conseguiu aprovar uma proposta de moção na Câmara
Setorial de Florestas Plantadas do Ministério da Agricultura e Pecuária,
solicitando ao governo federal que apresente as ações que o ministério,
responsável pela condução da política agrícola para florestas
plantadas, está fazendo com relação ao setor.
Segundo
ele, a ausência de articulação coloca o setor florestal em posição de
fragilidade, mesmo sendo um dos mais afetados pela medida. Daí a
importância da articulação realizada durante o encontro. “A reunião foi
importante porque retomou uma discussão consistente sobre o
fortalecimento da Associação Sul Brasileira. O setor precisa se
organizar, especialmente diante das particularidades do Sul, como o
plantio de pinus, a expansão do eucalipto e as dificuldades de
licenciamento”, afirmou.
FOTO/LEGENDA: Presidentes Daniel Chies (Ageflor), Jose Mario Ferreira (ACR) e Fabio Brun (APRE)
Crédito: Divulgação
Sobre a APRE Florestas
A
Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE Florestas)
representa aproximadamente metade da área total de plantios comerciais
no estado. As principais organizações de ensino e pesquisa formam o
conselho científico da APRE, conferindo à entidade representatividade e
embasamento técnico para o desenvolvimento das ações em prol do setor
florestal. Desde 1968, a atuação política, apartidária, faz da APRE a
porta-voz do setor no diálogo com as esferas públicas, organizações
setoriais, formadores de opinião e sociedade no desafio de promover e
fortalecer ações produtivas do setor florestal paranaense.
Mais informações em https://apreflorestas.com.br/
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