A
alta de 4,83% do IPCA e toda sua dinâmica em 2024, ao lado das
projeções da inflação para 2025 e 2026, confirmam as expectativas de que
a inflação ainda está muito distante do centro da meta. Os dados
demonstram que fará toda a diferença o Banco Central manter-se diligente
e firme para reancorar as expectativas e se alcançar a necessária
convergência da inflação para a meta de 3%.
O
resultado de 2024 foi particularmente afetado pelos alimentos
consumidos no domicílio. Neste caso, pesaram questões relacionadas à
oferta do produto e ao aumento da demanda, especialmente externa.
Contudo,
o IPCA do ano passado também mostrou continuidade das pressões vindas
dos preços dos serviços, principalmente daqueles que o BC entende terem
maior relação com a atividade econômica e o mercado de trabalho.
Fica
claro, portanto, que a aceleração da inflação em 2024 não pode ser
creditada apenas a questões relacionadas à oferta. Particularmente,
quando analisamos outras métricas, que buscam captar a tendência da
inflação, como a média dos núcleos, que excluem os itens mais voláteis, e
registraram alta de 4,34% em 2024, acima da meta de inflação (3%) e se
aproximando do limite de tolerância do regime.
A
dinâmica da inflação de 2024 reflete o atual cenário econômico
brasileiro, caracterizado pelo nível de atividade surpreendente,
especialmente a demanda interna (consumo e investimento), que tem
mostrado um forte dinamismo, muito provavelmente acima da nossa
capacidade produtiva, além da forte depreciação recente do real.
Tais
fatores têm aumentado a preocupação com a trajetória futura da
inflação. Não à toa, temos visto uma constante revisão para cima das
projeções para este e os próximos anos. Para 2025, o consenso do mercado
já espera um IPCA de 5,0%, o que também levaria ao estouro do teto da
meta.
O cenário não é de
descontrole, embora preocupante, e a autoridade monetária tem feito um
trabalho muito diligente. Mas para enfrentarmos esse quando
inflacionário, demandará muita cautela e a ação coordenada da política
monetária e da política fiscal.
O
BC já voltou a elevar a taxa Selic, com claras indicações de novas
altas no início deste ano, para controlar os vetores de maior pressão
inflacionária.
Se o BC tiver que
realizar esse trabalho sem a coordenação com a política econômica, o
choque de juros terá que ser muito elevado e pode comprometer o bom
desempenho da atividade que temos visto até o momento. Neste sentido, é
importante que a política fiscal também continue dando sua contribuição.
O Ministério da Fazenda, aliás,
já começou a fazer sua parte no fim do ano passado, ao encaminhar
medidas adicionais de redução dos gastos. Mas, não podemos parar por aí.
Precisamos avançar com essa pauta, considerando inclusive as condições
ainda bem adversas e incertas do cenário internacional, que tem se
mostrado cada vez menos benigno para os países emergentes.
Com um fiscal interno mais robusto, evitaremos uma piora mais aguda da inflação e do poder de compra da população, sem comprometer demasiadamente a economia.
Isaac Sidney
Presidente da Febraban
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