Estudos apontam que a tensão cresce 75% em geral nesta época, sendo ainda mais desafiadora para quem perdeu alguém querido
Legenda: Gravuras
em metal sobre papel da artista plástica Juliane Fuganti, da série
Jardins Possíveis, de 2018: obras estão no Memorial Luto Curitiba, cujo
acervo foi criado para proporcionar momentos de paz e contemplação durante as cerimônias fúnebres. Foto de Flávio Ribeiro
Não
está sozinho quem sente aumentar a ansiedade ao chegar dezembro, o mês
das festas que celebram Natal e fim de ano. Estudos da International
Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR) apontam que a tensão
aumenta 75% nesse período. Para quem está vivendo o luto pela perda de
alguém querido, essa sensação tende a ser ainda mais profunda e
desafiadora.
“Não
é fácil elaborar a própria dor numa época em que tudo remete à festa e
felicidade, desde a decoração dos ambientes até às tradições familiares.
O contraste entre alegria
e dor exacerba a sensação de isolamento. Ao mesmo tempo, as festas
trazem lembranças dolorosas de momentos compartilhados com a pessoa
falecida, amplificando o sentimento de vazio”, observa a psicóloga Ruth
Miranda, que considera este momento do ano especialmente difícil.
O
desafio também existe para quem está ao lado de pessoas enlutadas. É
preciso ser sensível e reconhecer que o luto é um processo individual e
complexo. Presença e acolhimento ajudam a validar as emoções, oferecendo
apoio emocional sem julgamento, acrescenta.
Aceitar
os próprios sentimentos, permitindo-se sentir dor, tristeza ou raiva, é
um passo importante para que a pessoa enfrente seu sofrimento. Mas
buscar apoio de amigos, familiares e profissionais de saúde mental é
fundamental para evitar quadros depressivos graves e perigosos, alerta a
médica psiquiatra Giulianna Simonetti Baptista.
“Chorar
é preciso, mas também há outras maneiras de viver o luto honrando a
memória de quem perdemos. Uma possibilidade é criar uma nova tradição
que homenageie a pessoa que partiu com uma atividade significativa”, diz
ela, citando exemplos como uma doação, um voluntariado, uma pequena
viagem ou mesmo um novo hobby. Aquilo que fizer mais sentido e que traga
conforto. Cuidar da saúde física, com alimentação balanceada, sono
adequado e exercícios regulares, também é vital e uma forma de dar novo
significado à dor.
Há
mais a fazer para que o luto ganhe significado além da tristeza e se
torne um período de homenagem a quem foi importante nas nossas vidas,
acrescenta Giulianna. “É importante que a pessoa que sofre se perdoe,
não se culpe diante da perda. Que pratique gratidão, registrando
diariamente coisas positivas do legado. E se possível que se conecte a
grupos de apoio ou de amigos que entendam seu luto.”
Ambiente acolhedor desde o primeiro momento
A
noção de que o acolhimento carinhoso de quem sofre é parte do processo
do luto já deixou o consultório de médicos e terapeutas e ganhou o
ambiente das despedidas fúnebres. Essa sensibilidade aumentou durante a
pandemia da Covid-19, entre 2020 e 2022, quando o grande número de
mortes tornou o processo do luto mais público e compartilhado do que
antes disso.
A
ideia de criar novas tradições para ressifignificar o luto chegou
inclusive a algumas empresas do setor. “Pesquisamos muito, no Brasil e
em outros países, para projetar um espaço que proporcione uma
experiência ímpar de acolhimento, combinando aconchego e atendimento
humanizado”, diz Luis Henrique Kuminek, diretor da Luto Curitiba, uma
das maiores empresas do setor no país.
O
Memorial Luto Curitiba tem características únicas no Brasil e nasceu
dessa ideia de fazer com que as cerimônias de despedida ocorram em
ambiente marcado por conforto físico e espiritual, sem os símbolos
tradicionais que ligam a morte à tristeza e escuridão.
Parte
desse conforto é proporcionada pela presença de inúmeras obras de arte
de artistas premiados, feitas com diferentes técnicas e imagens
abstratas que versam sobre a existência, o efêmero e a espiritualidade,
criando uma narrativa que favorece a contemplação. As salas de velório
têm mobiliário confortável e moderno, além de áreas de sol privativas.
“A
experiência nos diz que o luto é individual e válido. Não há prazo para
superar a dor e buscar ajuda é sinal de força. Por isso nós somos o
primeiro abraço de quem enfrenta este sofrimento”, diz Kuminek.
Fugir ou não de reuniões familiares?
Para
a psicóloga Ruth Miranda, passado o primeiro impacto da perda e da
cerimônia fúnebre, as festas de Natal e Ano-Novo tendem a ser o momento
de mais tristeza para as pessoas enlutadas. Nessas horas, a comunicação é
muito importante. Ela cita algumas providências a adotar:
- Comunique-se:
avise familiares sobre seus limites emocionais. O primeiro Natal ou Ano
Novo sem a pessoa falecida pode ser especialmente difícil.
- Perda recente: A perda recente pode tornar as festas mais dolorosas.
- Estabeleça limites: não se sinta obrigado a participar de todas as atividades.
- Crie um "plano de fuga": tenha uma desculpa para sair se necessário.
- Leve um apoio emocional: amigo, familiar ou profissional.
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