BLOG ORLANDO T6AMBOSI
Seria, obviamente, retirada pelo Serviço Secreto e talvez enfrentasse consequências legais; mas como foi mulher trans, saiu coberta de elogios. Vilma Gryzinski:
Dois
seios, duas medidas. Num país de origem puritana como os Estados
Unidos, mamilos são estritamente controlados em todas as publicações e
redes sociais. Mas Rose Montoya tem passe livre: conversou com o
presidente Joe Biden,
fez movimentos de dança erótica e acabou baixando a frente do vestido
branco, mostrando os seios artificiais que massageou vigorosamente. De
cada lado dela, dois homens trans também sacudiram os peitorais, mas
para ressaltar que haviam sido amputados, como mostram as cicatrizes de
mastectomia dupla.
Biden
saudou algumas das “pessoas mais corajosas e mais inspiradoras que já
conheci” durante o evento “orgulho gay” feito no jardim central da Casa
Branca, onde gente hétero enfrentaria a mão pesada da segurança se
fizesse algo remotamente parecido.
Eventos
com trans, drags e outras variações — embora não necessariamente gays,
categoria que engloba uma vasta gama de comportamentos, incluindo os
tímidos e não exibicionistas — sempre têm uma margem a mais de
liberalidade pela própria exuberância com que se apresentam.
Mas
não é implicância esperar que todas as pessoas, de qualquer orientação
ou variação que seja, se comportem de acordo com o lugar onde estão. Em
parada gay ou show de drag, todo mundo sabe o que esperar. Assiste quem
quer.
Vários
órgãos da imprensa liberal entraram em surto quando Bill O’Reilly,
então apresentador da Fox, fez uma entrevista em que cobrou respostas
diretas de Barack Obama, interrompendo-o várias vezes, com seu jeito
durão. Foi considerado quebra de protocolo e falta de respeito — embora
Obama soubesse se defender muito bem, com a inteligência habitual. O que
estão dizendo agora dos trans que sacudiram os seios, de silicone ou
amputados?
Nadinha de nada. São os conservadores que apontam as quebras, não só de protocolo, mas das regras comuns de mínima civilidade.
Todos
têm algum interesse em jogo. A direita quer o voto dos que se revoltam
com atitudes assim e Biden quer se firmar, na disputa presidencial que
pretende disputar no ano que vem, como um porto seguro para as questões
identitárias ou causas liberais, como o aborto em todas as instâncias e
tratamento precoce para crianças que se declaram ou são declaradas
trans.
Não
são questões resolvidas para a parte da população que vota em Biden de
qualquer maneira, mesmo que esteja com 350 anos, ou para os que têm
dúvidas. Uma pesquisa feita em maio na Califórnia mostra o seguintes
resultados para a pergunta “Quando uma criança deve receber medicação
que altera seus hormônios, podendo provocar infertilidade?”: 43%
disseram “nunca”. Sobre cirurgias de redesignação sexual para menores, a
rejeição subiu para 49%. Só 29% disseram que um menor de 16 anos tem
maturidade suficiente para decidir seu gênero.
Note-se
que o eleitorado californiano é tão liberal que pode aprovar, em
votação, uma lei que proíbe a funcionários de pontos comerciais chamar a
segurança quando alguém está furtando mercadorias. O estado já não
processa pessoas que furtam produtos no valor de até 950 dólares por
dia.
Nem
é preciso dizer os efeitos deletérios dessa legalização, na prática, do
roubo, incluindo o fechamento de lojas conhecidas nos pontos mais
afetados. Um exemplo: a loja do grupo de supermercados Wholefoods que
fechou no centro de São Francisco fez 560 ligações de emergência durante
os treze meses em que ficou aberta, enfrentando, além de furtos
constantes, incluindo os 250 carrinhos de compras, agressões a
funcionários, defecações em áreas comuns, uso de drogas nos banheiros e
até um caso de overdose fatal.
Obviamente,
tudo que acontece nos Estados Unidos acaba se refletindo em outros
países, inclusive os que nunca atingiram o nível de riqueza luxuriante
que ameniza absurdos imbecis como as leis californianas sobre furtos em
lojas ou, muito mais grave, a ideologização da questão dos transgêneros.
É
possível que seja certo tratar como uma doença a dismorfia corporal —
em geral, pessoas que se acham gordas demais ou fracas demais,
levando-as, em determinados casos, a problemas graves como a anorexia ou
a obsessão doentia por exercícios físicos — e vetar tratamento
psicológico para quem tem dismorfia de gênero, uma condição que deve ser
admitida pelos profissionais de saúde sem questionamentos?
É
possível que médicos sejam aconselhados a não receitar testosterona
para homens adultos que querem aumentar os músculos e fortemente
incentivados a dar o mesmo hormônio para meninas adolescentes que dizem
querer ser meninos?
É
possível desmanchar todo o próprio fundamento do esporte — a competição
com a maior quantidade alcançável de igualdade de condições — para
permitir que mulheres trans, com todas as vantagens biológicas de seus
corpos masculinos, disputem categorias femininas?
É
possível, como aconteceu na semana passada no estado de Washington,
proibir um spa do tipo coreano, com piscinas com jatos d’água onde os
clientes separados por sexo ficam nus, de vetar a entrada de uma pessoa
que se declara mulher trans e desfila com toda a genitália masculina à
vista das frequentadoras?
Evidentemente,
há muito foram transpostos os limites da justa luta por direitos iguais
para todas as pessoas, de qualquer variedade que sejam, e o movimento
entrou numa esfera em que são desrespeitados os direitos de mulheres e
crianças em nome da equanimidade de tratamento.
Existem
países em que o direito dos não homossexuais são efetivamente
afrontados, como as penas pesadas de Uganda a relações com o mesmo sexo e
até a Turquia, onde as paradas gay foram proibidas e uma solução
interessante, como a criação de um terceiro tipo de banheiro, para os
gêneros alternativos, num shopping de Istambul, teve que ser revertida.
Fazer
um banheiro queer parece ser a salvação da pátria para um dilema
complicado: poupar mulheres e crianças dos degenerados que se passam por
trans para invadir sua intimidade e criar um espaço seguro para os
gêneros alternativos que podem correr risco se forem obrigados a usar os
espaços masculinos. É caro e nem sempre factível, mas cria uma
alternativa.
Sobre
os seios sacudidos no gramado da Casa Branca, o prejuízo maior é para
quem luta pela inserção das pessoas trans e para que não sejam vistas
como seres degenerados que fazem absurdos como chacoalhar atributos
sexuais numa recepção oferecida pelo presidente dos Estados Unidos. Se
fosse mulher biológica, Rose Montoya seria execrada como oportunista e
exibicionista. Além de detida, claro.
“Tive
zero intenção de ser vulgar ou profana, estava simplesmente sendo
alegre”, disse Montoya. É de dar risada — inclusive pelo problema
desnecessário que criou para Biden. Seria melhor para o presidente ter
toda a imprensa amiga focada nos 365 milhões de anos a que Donald Trump
será condenado, como dizem os jornalistas antitrumpistas, pelo caso dos
documentos sigilosos guardados ilegalmente. Os amigos não decepcionaram,
mas foi chato dividir espaço com balangandãs de silicone tremelicando
ao ar no jardim da Casa Branca.
Ah, sim, a Casa Branca disse que não vai mais convidar Montoya para nenhum evento.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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