BLOG ORLANDO TAMBOSI
O número de processos abertos na justiça na Grã-Bretanha dá um retrato: são dezenove por morte e 364 por sequelas graves. Vilma Gryzinski:
A
questão é tão politicamente explosiva que todas as respostas podem
induzir a erro. A turma que ficou contra a vacina fala, nos Estados
Unidos, em muitos milhares e até milhões de mortes. Do lado oposto, um
site médico sustenta que, com 270 milhões de americanos vacinados, houve
apenas três mortes – uma hipótese improvável que tornaria as vacinas
contra a Covid-19 as mais seguras da história.
Talvez
um dos indicadores esteja na Grã-Bretanha, onde foi maciça a vacinação
com a fórmula desenvolvida pioneiramente pela universidade de Oxford em
colaboração com o laboratório anglo-sueco AstraZeneca: o número de
processos de famílias que pedem indenização por parentes que morreram ou
sofreram sequelas graves e cujos casos foram admitidos pela justiça.
São dezenove no primeiro caso e 364 no segundo.
É
um número muito baixo, considerando-se que a vacinação cortou
radicalmente os índices de letalidade e permitiu a reabertura do país,
diminuindo assim as terríveis consequências para outros tratamentos de
saúde e os prejuízos materiais e emocionais sofridos por famílias sem
contato, crianças sem aula, empresas sem atividade e enorme distribuição
de dinheiro feita pelo governo para evitar a derrocada geral, mas que
agora se reflete em inflação e endividamento, um fenômeno generalizado.
Quando
se sai da frieza dos números para sua face humana, como fez o jornal
Daily Mail, é de cortar o coração. A “face” mais conhecida é a de Lisa
Shaw, apresentadora da rádio BBC em Newcastle. Ela morreu em maio de
2021, deixando um filhinho hoje com oito anos. Seu marido, Gareth Eve,
diz que não é contra vacinas, mas também não quer deixar a história da
mulher passar em branco.
Eve
tem o atestado de internação do hospital onde Lisa deu entrada com
“trombocitopenia trombótica induzida por vacina”. Lisa passou por uma
cirurgia no cérebro para aliviar a pressão provocada pelos coágulos
sanguíneos, mas acabou morrendo aos 44 anos. O atestado de óbito cita
especificamente a vacina da AstraZeneca.
Coágulos
sanguíneos de consequências letais também causaram a morte de Tom
Dudley, de 31 anos. Ele teve múltiplos trombos e morreu três dias depois
de ser internado. Os coágulos cerebrais sofridos por Jack Hurn, de 26
anos, foram qualificados de “catastróficos”. Kelly Deunley, de 38 anos,
sofreu trombose venal profunda. Oli Akram Hoque estava com dores de
cabeça alucinantes e vomitando sangue quando foi internado. Morreu um
mês antes de completar 27 anos. Alpa Taylor tinha 35 anos quando morreu,
também de AVC.
A
juventude das vítimas mostra como pessoas jovens foram
desproporcionalmente afetadas pelos coágulos, o que acabou levando as
autoridades sanitárias a não recomendar a AstraZeneca numa faixa etária
mais baixa.
A
“vacina de Oxford”, como era conhecida no começo, é um imunizante
“clássico”, sem interferir nos mecanismos do DNA, feita com vírus de
resfriado extraído de chimpanzés e modificado em laboratório para
“parecer” com as proteínas do coronavírus causador da covid-19,
induzindo uma resposta imunológica que fica guardada na memória celular
caso a doença real seja contraída.
O
que pode dar errado? O vírus modificado atrai uma proteína chamada
fator plaquetário 4 e, em um em dez mil casos, o sistema imunológico
confunde-o com o vírus real, atacando-o. Os anticorpos se aglutinam
anormalmente no fator plaquetário, desencadeando os trombos.
Outra
sequela: a síndrome de Guillain-Barré, uma doença neurológica grave que
começa com a paralisação dos membros inferiores e vai subindo, chegando
em alguns casos a interferir no processo respiratório. E mais uma, a
paralisia de Bell, que afeta um lado da musculatura facial.
Atestar
a causa da morte relacionada com a vacina é um primeiro passo para
entrar com processo por indenização. Os eventuais pagamentos serão de
responsabilidade do governo britânico por causa do acordo feito com os
laboratórios, da mesma forma que nos Estados Unidos: por causa da
extrema emergência e da corrida que abreviou o tradicional processo de
testes, eles foram eximidos de responsabilidade indenizatória.
Esse
acordo, obviamente, não cobre a atual briga de produtores de vacina: a
Moderna está processando a americana Pfizer e sua parceira alemã
BioNTech, sob a acusação de que copiaram uma tecnologia que lhe
pertencia e havia sido desenvolvida em anos de pesquisas, a do mRNA.
A
emergência ainda está viva em nossa memória – embora os seres humanos
tendam a apagar mais rapidamente experiências ruins. Não só nós, o
público comum, não sabíamos exatamente o que estávamos enfrentando, como
também os governos e até as autoridades médicas. Foram cometidos erros
tanto na parte dos pró como dos antivacinas.
Pecar
por excesso foi uma reação normal, mas Marty Makary, cirurgião e
professor da Johns Hopkins, defendeu recentemente, perante uma
subcomissão da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, que o governo
americano foi “o maior perpetrador de desinformação durante a pandemia”.
“Desinformação
dizendo que a Covid se propagava através de superfícies contaminadas,
que a imunidade dos vacinados era muito maior do que a natural, que as
máscaras funcionavam, que a miocardite era mais comum depois da infecção
do que da vacina, que pessoas jovens se beneficiam da dose de reforço”.
“Isso
nunca foi fundamentado, é por isso que o Centro de Controle de Doenças
nunca revelou os índices de hospitalização de pessoas abaixo dos 50 anos
que receberam a dose de reforço”.
Obviamente, Makary não faz o raciocínio oposto: onde estaríamos se não fosse pela vacinação em massa?
Analisar
de maneira objetiva todos os dados é obrigação de quem quer – e precisa
– aprender com as experiências tão extremas que a Covid-19 desencadeou.
Os respectivos exageros foram tão grandes que a Califórnia chegou a
aprovar uma lei que previa reprimendas a médicos como Marty Makary, que
discordam das posições dominantes do “consenso científico”.
Felizmente,
um juiz suspendeu o atentado à liberdade de discordar e de propor
teorias alternativas, sem a qual a ciência se afunda.
Em
todos os países onde a vacinação foi disponibilizada, as populações
escolheram, em massa, ser imunizadas. Mesmo quem tinha consciência de
que estava correndo algum risco concluiu que a doença era um perigo
muito maior.
Só não vale esquecer as que fizeram o mesmo cálculo e, mesmo em pequeno número, pagaram o preço máximo.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi

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