Por Renato Machado | Folhapress
A
declaração do novo chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional),
general Marcos Antonio Amaro, de que seu órgão deve retomar a
responsabilidade pela segurança imediata do presidente da República
causou mal-estar na Polícia Federal. A PF é a responsável pela tarefa
desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e
vem investindo na formação e capacitação de pessoal. A corporação
pretende manter a atribuição, prevista inicialmente para terminar no dia
30 de junho.
Além disso, setores do governo avaliam que seria um retrocesso que a
segurança presidencial retorne para o comando dos militares, modelo que
dizem não ser usado em grandes países democráticos.
Em entrevista à Folha, o general Marcos Antonio Amaro afirmou que o
retorno da segurança imediata do presidente da República "praticamente
está decidido".
"Em relação à segurança imediata, [o presidente] já sinalizou,
praticamente está decidido que retomará para o GSI. Esses subsistemas
aqui, segurança afastada, aproximada, formam um sistema e tem de haver
entendimento muito rápido e fácil. Doutrina de emprego, linguagem,
sistema rádio tem que ser comum", afirmou o novo chefe do GSI, ao
comentar o esvaziamento do órgão, que perdeu a segurança aproximada do
presidente e também o comando da Abin (Agência Brasileira de
Inteligência).
De acordo com integrantes do governo Lula, não há discussão no
Palácio do Planalto sobre a volta da segurança presidencial para o GSI. A
afirmação do general veio a público no seu segundo dia no cargo, em um
momento em que Lula estava fora do país. O presidente foi a Londres,
para a cerimônia de coração do Rei Charles 3º.
A Presidência da República foi questionada sobre a fala do general
Amaro e sobre haver definição sobre a segurança presidencial, mas não
houve resposta até a publicação da reportagem.
A Polícia Federal assumiu a segurança de Lula no início de janeiro,
com a criação da Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata.
Acabou-se assim com exclusividade do GSI na execução da tarefa,
reduzindo suas atribuições.
A Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata deveria atuar de
maneira temporária até o dia 30 de junho, mas já havia conversas dentro
do governo para que ela fosse tornada permanente.
As reuniões definitivas sobre o assunto, no entanto, não estavam
previstas para um futuro próximo, considerando que a data limite para
sua atuação temporária ainda está dois meses adiante.
Atualmente, a Polícia Federal mantém mais de 300 agentes atuando na
segurança do presidente Lula. Por enquanto, os recursos para essa tarefa
e atividades de capacitação estão saindo da própria PF, tendo em vista
que a Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata ainda não é uma
unidade gestora, com recursos próprios no orçamento.
A cúpula da PF esperava que essa questão fosse definida com a
proximidade da data limite da legislação que criou a secretaria. A
corporação também vem trabalhando nos bastidores com integrantes do
governo para garantir que essa secretaria se torne permanente.
Há menos de duas semanas, a PF ainda realizou um seminário de três
dias com representantes de 10 países, como Alemanha, Reino Unido e
Portugal, para tratar de segurança presidencial em países democráticos.
As manifestações dos presentes foi na linha de que a proteção da
maior autoridade do país deve estar sob controle civil e que cabe aos
militares se ocupar da defesa externa da nação, atuando, sob demanda, no
apoio logístico para o deslocamento aéreo e acesso a áreas remotas.
A decisão de retirar a segurança presidencial do GSI havia sido
tomada ainda durante a atuação do gabinete de transição e levou em conta
a chamada "bolsonarização" do órgão nos últimos anos. A imagem e
atuação do órgão tornou-se muito atrelada ao ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL), com o órgão sendo aparelhado pelo então ministro Augusto
Heleno e seus aliados.
As desconfianças foram aumentadas com os atos golpistas de 8 de
janeiro, quando militantes bolsonaristas invadiram e depredaram o
Palácio do Planalto --e também o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal
Federal.
Mais recentemente, a divulgação de imagens do circuito interno de
segurança do Palácio do Planalto levou à queda do então ministro
Gonçalves Dias. As imagens mostram o então ministro dentro do palácio,
enquanto os invasores depredam outros andares. Agentes do GSI também
aparecem interagindo com os invasores e oferecendo água para eles.
Durante o período de transição, antes da posse de Amaro, com a atuação do interino Ricardo Cappelli, o governo promoveu dezenas de exonerações de agentes do GSI.

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