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Dar poder e autoridade a meia dúzia de pessoas só causará mais problemas. Tiago Morelli para a Gazeta do Povo:
Estamos
assistindo e participando de um importante capítulo da história do
mundo, o início da Era da Inteligência Artificial. As próximas gerações
estudarão este exato momento como estudávamos sobre a Era do Ferro, Era
Industrial etc. Se antes era achismo, agora é fato: a inteligência
artificial está substituindo pessoas no trabalho, e os profissionais e
empresas que não usarem a IA no dia-a-dia perderão espaço a qualquer
momento.
Por
qual razão digo isso? A IA é capaz de executar tarefas de baixa e alta
complexidade com apenas poucas instruções e em uma velocidade e
qualidade invejável a qualquer profissional e time especialista no
setor. O que antes demorava horas ou dias, além da necessidade de se ter
ótimos profissionais para planejar e executar, agora leva-se apenas
alguns minutos ou segundos para se obter, como planejamento de
marketing, criação de um plano de pesquisa, criação e correção de
provas, ideias de conteúdos, criação e correção de textos acadêmicos,
publicações em redes sociais, blogs e jornais, criação de cursos
completos sobre qualquer assunto, resumo de artigos e sites, criação de
código e até mesmo a criação de imagens, geralmente usadas para posts em
redes sociais e também para propagação de fake news, como acompanhamos
recentemente com um falso casaco estiloso para o papa Francisco e a
falsa prisão de Donald Trump em Wall Street.
A
evolução rápida da inteligência artificial e a inevitabilidade de uma
ruptura nas capacidades profissionais que conhecemos hoje, ocasionando
em demissões em massa, exemplo o caso do BuzzFeed que demitiu 12% dos
colaboradores de marketing por poucos profissionais que sabem usar a IA
no dia-a-dia, levou mais de 100 especialistas e líderes no setor de
tecnologia a assinarem uma carta aberta solicitando uma pausa de seis
meses no desenvolvimento de inteligências artificiais avançadas,
incluindo nomes como Steve Wozniack e Elon Musk. A carta cita o GPT-4,
lançamento da OpenAI, e pede, em ar apocalíptico, a pausa da evolução de
modelos até que a sociedade tenha uma clara ideia dos riscos e que haja
mecanismos de governança e proteção legal às consequências da
tecnologia.
Segundo
a carta, há uma corrida descontrolada para desenvolver e implantar
"cérebros artificiais" cada vez mais poderosos e mais inteligentes do
que qualquer ser humano. No texto, os líderes da iniciativa chegam a
perguntar se devemos arriscar perder o controle de nossa civilização.
Convenhamos, o discurso é fácil de abraçar e muitos que apoiam tal
abaixo assinado possuem verdadeira preocupação com o que está por vir.
Mas vamos dar um passo para trás, suponha que o abaixo assinado se
concretize, você realmente acha que os desenvolvedores e pesquisadores
ao redor de cada canto do mundo, como Rússia, China, Irã dentre todos os
países, vão parar de evoluir os modelos? É muita ingenuidade.
Ingenuidade ou interesse escuso. Afinal, o que está por trás da
"tentativa" de pausar a IA?
Desde
esta notícia, venho tentando entender a motivação por trás de tal
iniciativa, partindo da premissa a impossibilidade do desejo exposto no
abaixo assinado se concretizar na prática, já que há uma variedade de
códigos abertos e uma corrida empresarial e política atrelada à evolução
da IA. Assim sendo, sinceramente, acredito que haja um interesse
obscuro de tais líderes em criar uma entidade central e internacional,
similar a uma ONU, OMS e FMI, só que voltada à inteligência artificial,
ditando regras e ganhando aval a tomar ações extremas, talvez que até
justifiquem guerra, "em nome da inteligência artificial humanizada".
Como
um defensor do princípio da subsidiariedade, ou seja, acreditar ser
mais eficiente que decisões devam ser tomadas pelas pessoas mais
próximas ao problema e não distante dele, sou contra qualquer entidade
centralizadora e global que queira dar seus pitacos e tenha autoridade
para interferir nas decisões do interior da Paraíba, por exemplo.
Obviamente
me preocupo com um possível crash global, ainda mais atrelado à
desconfiança mundial no sistema financeiro e nas moedas até então
estáveis, como o dólar, sem contar a forçação de barra da ONU e
principalmente do World Economic Forum em alcançar o tal do "Great
Reset", conforme o fundador da instituição – obviamente centralizada e
global, por sinal – Klaus Schwab deixa bem exposto no livro Covid-19:
The Great Reset. Para mim, tal medida defendida no abaixo assinado só
trará mais problemas e, dada a força da notícia e das lideranças,
acredito que, infelizmente, em breve veremos uma instituição manda-chuva
global – mais uma, para a nossa alegria – sobre o tema.
Como
empreendedor no mundo da inteligência artificial, entendo ser utópico
impedir os avanços da inteligência artificial e acredito que qualquer
tentativa do tipo só trará mais problemas. Para tentar extrair algo bom
disso tudo, acredito que as pessoas devam dominar a IA, e só vejo isso
sendo possível se as pessoas usarem a IA a favor delas no dia-a-dia,
fazendo a IA trabalhar para elas, não o contrário.
Tenho
um ar esperançoso no sentido de ver que as pessoas são curiosas e
buscam usar a tecnologia. Por exemplo, em dois meses de ZapGPT, mais de
150 mil pessoas já a usaram e trocaram, aproximadamente, 5 milhões de
mensagens. Os dados mostram que os estudantes são os que mais usam, via
de regra usando para fornecer assistência e orientação em suas tarefas,
respondendo a perguntas e fornecendo explicações quando necessário, e
isso me dá ânimo, pois é uma geração que já nasce criando o costume de
utilizar a IA no dia-a-dia.
E
sabe o que é mais curioso? Os estudantes nos conheceram através dos
professores, que estão em segundo na lista de heavy users, o que também
dá ânimo pois mostra a capacidade e celeridade de adaptação das pessoas.
Vemos também advogados, médicos, empresários e até mesmo pais usando,
para ajudar os filhos a aprender novos idiomas, fornecendo-lhes práticas
de conversação e feedback, por exemplo. Ainda é só o começo e todos
nós, empreendedores e usuários, estamos aprendendo como usar a IA a
nosso favor.
Por
fim, retornando ao tema do momento, vamos supor que acatem a esse
abaixo-assinado e passe a existir um tratado universal sobre IA. Agora
vamos supor que todos os pesquisadores, empresas e desenvolvedores ao
redor do mundo, mesmo com códigos open-source, resolvam respeitar o
tratado e parem de evoluir os modelos durante seis meses. Vamos supor
que, em seis meses, foram definidas as regras, um protocolo de
governança e entidades para cuidar do tema. Agora vamos supor que todos
sigam essas regras e quem não siga seja punido pelas entidades. Vamos
supor que essas entidades não sejam corruptas e que essas entidades
saibam discernir o que é certo do errado, mesmo não conhecendo a
realidade de cada canto do mundo.
Quando
isso deu certo? Quem irá conferir o poder de veto a estas pessoas? Esse
abaixo assinado é repleto de boas intenções, mas parece tão utópico
quanto esperar resultados bons e que não sejam autoritários de entidades
internacionais que centralizam as decisões. O ponto é: IA se tornou
algo inevitável, não tem volta. O vício do homem em tentar replicar ou
substituir a criação gerou o que estamos vendo e talvez o que nem
consigamos imaginar nos próximos anos. Acredito que cabe às pessoas, o
quanto antes, usarem e entenderem como podem usar a IA a favor delas. E
apesar de toda preocupação em volta do tema, dar poder e autoridade a
meia dúzia de pessoas só causará mais problemas. Algo é certo: quem não
dominar a IA, será dominado por ela.
Tiago Morelli é fundador da Enablers DAO e ZapGPT.
Postado há 5 days ago por Orlando Tambosi
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