MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 6 de maio de 2023

Lula precisa dar força aos ministros e evitar novas disputas internas e atos contraditórios

 



Lula sobre Janja: “Essa mulher salvou minha vida” | VEJA

Para imporessionarJanja, Lua está cada vez mais centralizador

 

Thomas Traumann
Veja

Passados quatro meses, o governo Lula é um paradoxo. Por um lado, há um presidente mais centralizador, menos acessível e muito mais impaciente do que nos dois mandatos anteriores. Só que isso não se reflete em um governo com uma direção única. Os ministros operam sem coordenação, muitos deles com agendas pessoais e contraditórias com outros interesses do governo.

Em abril, o mercado e o Congresso se assustaram com um decreto mudando as regras do setor de saneamento. A mudança com efeito em todo o País teve como único propósito resolver uma pendência na Bahia, estado do ministro da Casa Civil, Rui Costa. O ministro brigou com o seu padrinho político, Jaques Wagner, por questões familiares e agora Lula tem seu principal ministro sem falar com o líder no Senado.

DINO LIVRE DEMAIS – O Ministro da Justiça, Flávio Dino, tem uma agenda de entrevistas e posicionamento político sem conversa prévia com os colegas, inclusive o presidente. Por meses, ele impediu a nomeação de juízes federais para não dividir as escolhas com outros ministros. Na semana passada, Dino tentava influir na indicação dos membros do PSD e PSB da CPI do 8 de Janeiro sem avisar os líderes do governo.

Na Educação, Camilo Santana anunciou a suspensão da implantação do Novo Ensino Médio sem uma mensagem de WhatsApp ao Planalto.

Tanto Rui Costa, quanto Flávio Dino e Camilo Santana foram governadores por oito anos e sua ação autônoma poderia ser tomada como apenas um traço de quem está desacostumado a obedecer. Mas os exemplos seguem aumentando.

PRESSÃO PARA DEMITIR – A demissão do general Gonçalves Dias, do Gabinete de Segurança Institucional, foi por pressão de Flávio Dino, Paulo Pimenta e Janja da Silva. Meses antes do fato ser exibido pela CNN, o Planalto sabia que GDias estivera no palácio no 8 de Janeiro,

Outros exemplos: no Ministério da Defesa, José Múcio tenta recolocar os militares nos quartéis sob artilharia de Flávio Dino e Paulo Pimenta. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, do PSD, conspira a céu aberto para derrubar o presidente da Petrobras, o petista Jean-Paul Prates.

E o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que tem tanto prestígio no setor que sequer consegue ser convidado para a maior feira agrícola de São Paulo, comparou as invasões de terra pelo MST com a tentativa de golpe de 8 de janeiro — contrariando todos os discursos de Lula.

NADA A FAZER – Sem conseguir coordenar as falas do chefe, da primeira-dama e dos colegas, o ministro de Comunicação Social, Paulo Pimenta, transformou seu gabinete num comitê para sua promoção política no Rio Grande do Sul.

Semana sim, semana também, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, anuncia que vai acabar com o uso do FGTS como garantia de crédito bancário, modelo que permite uma das taxas de empréstimos mais baixas do mercado.

Acabar com a garantia do FGTS vai empurrar milhares de trabalhadores para empréstimos mais caros, uma contradição com uma das promessas da campanha de ajudar o eleitor a renegociar suas dívidas.

DANIELA DO WAGUINHO – Eleita deputada pelo União Brasil, a ministra do Turismo, Daniela do Waguinho, rompeu com o partido e se ofereceu para o Republicanos sem combinar com o ministro da Articulação Política, Alexandre Padilha.

Sem cargo, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, se posicionou por dois meses como se fosse alter ego do presidente Lula nas redes sociais, até que uma aliança de Fernando Haddad, Alexandre Padilha e Rui Costa a retirou do centro das decisões. Mesmo assim, Hoffmann segue sendo um fator de pressão para dar feições mais à esquerda para o governo.

O caso do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é um pouco distinto dos demais, mas confirma a regra. O Ministério da Fazenda opera em completa independência do resto do governo, seja na formulação de políticas fiscais, seja até nos acordos para aprovação de medidas no Congresso.

CONFLITOS INTERNOS – Quando fez o Arcabouço Fiscal, Fernando Haddad fez questão de só detalhar o projeto verbalmente para Rui Costa e Esther Dweck horas antes de fazer uma apresentação para Lula. A diferença de Haddad com os demais é que ele combinou seus projetos antes com Lula, apenas não divide a informação.

É nítido que as relações de Haddad com Luiz Marinho e Gleisi Hoffmann são ruins e não muito boas com Rui Costa. Isolado, o ministro da Fazenda parece se coordenar melhor com Simone Tebet e Geraldo Alckmin do que com os ministros do PT.

Não há casos de deslealdade de ministros com o presidente, apenas um laissez faire, como um reino da Idade Média no qual ninguém contesta a autoridade do rei, mas cada nobre opera pensando apenas no seu feudo. Nesses quatro meses de Lula 3, cada um faz o que quer, contanto que não aborreça o presidente.

TUDO MUDOU – Nos governos Lula 1 e 2 nada disso seria possível. Primeiro, porque Lula despachava mais vezes individualmente com os ministros. Segundo, porque os chefes da Casa Civil — José Dirceu e Dilma Rousseff — eram figuras fortes. Terceiro, havia uma preocupação de dar um rosto ao governo, mesmo fosse pela amplitude de ter um ministro da Agricultura como Roberto Rodrigues e uma do Meio Ambiente como Marina Silva.

Em Lula 1 e 2, haver divergência entre ministros fazia parte do pluralismo. Em Lula 3, os dois símbolos da frente ampla que elegeu Lula — o vice Geraldo Alckmin e a ministra Simone Tebet — são coadjuvantes.

Governos descoordenados não são uma novidade no Brasil. O governo Itamar Franco era uma nau sem rumo até FHC assumir a Fazenda, o segundo mandato de Dilma Rousseff foi caótico e o mandato de Jair Bolsonaro uma coletânea de tuítes raivosos e bravatas sobre chamar o “meu Exército”. Lula 3 não está perto de nenhum desses três casos, mas o tempo para um freio de arrumação é curto.

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