De
Argentina a Manaus, passando pela Bahia, oito artistas de diferentes
trajetórias e territórios, agora se encontram nas ruas de São Paulo. A
produtora de artes Gentilização inaugura um novo museu de arte urbana à
céu aberto em bairros centrais e periféricos da cidade, visando um
acesso direto à arte, por meio da arte pública.
As
oito obras abordam a inclusão, a ancestralidade, a espiritualidade, o
acolhimento, entre outros diálogos, que levam mais cor, leveza,
diversidade e conexão para o olhar sob o concreto das ruas. O projeto é
financiado pelo MAR (Museu de Arte de SP) da Secretaria Municipal de
Cultura.
Artes cheias de significados
Em
tempos tão doloridos de nossa história recente, o propósito do artista
Felipe Yung, (Flip), é acolher. O desenho foi desenvolvido entre o
artista e seu filho Bento, um menino autista. Com as cores do arco-íris,
a arte representa um acolhimento à diversidade e à aceitação, além do
acolhimento entre pai e filho. “Essa obra, vem como um manifesto a nossa
tão dolorida sociedade neste Século 21, que clama por abrigo,
pertencimento e amor”, conta o artista. O muro pode ser visto na Zona
Leste, no Céu José Bonifácio - Jardim São Pedro.
Mural do artista Flip | Foto: Chu Juke
A
relação familiar também é vista na obra da argentina Lela Monsegur,
muralista e artista visual com artes espalhadas pelos muros da Europa e
da América Latina. A obra de Lela, chamada "Bordado de Memórias" faz
menção ao bordado como uma tradição artesanal, que se ancora na passagem
de conhecimentos entre as gerações, principalmente entre as mulheres.
"Na arte, a bordadeira idosa, matriarca, elabora uma manta calmamente,
numa ação quase meditativa, símbolo da transmissão de conhecimento que
acontece no presente, enquanto a menina alinhava a linha na agulha, como
símbolo de conexão e de continuidade", explica a artista. Alinhada à
luta pela preservação do meio ambiente, a artista utiliza tintas
ecológicas no mural.
Mural da artista Lela | Foto: Valmir Rodrigues
A
relação entre as mulheres também é vista na obra “Ancestralidade”, da
paulista Mimura Rodriguez. A arte traz a representação dos aprendizados
trocados através do cuidado. “Falar
sobre ancestralidade é algo que nos remete ao passado mas pra mim é
também tecnologia para criarmos futuro. Nossa existência é circular e
honrar a luta de nossas mais velhas é vivermos de forma plena por nós e
pelas nossas mais novas”, conta a muralista. A obra foi estampada no
CEU Butantã.
Mural da artista Mimura | Foto: Lucas camaleão
Para
o baiano Ógbá, as raízes também são importantes. Nascido em Ipiaú, uma
cidade baiana banhada por rios, recentemente, o artista mergulhou nas
memórias familiares em suas obras. Por meio de um resgate ancestral,
Ógbá mescla as influências africanas e baianas com o cotidiano de São
Paulo, cidade onde reside atualmente, para retratar o protagonismo
negro. Em sua nova arte, chamada “A Trabalhadora”, ele viabiliza os profissionais da reciclagem. “A
arte tem como objetivos dar visibilidade ao trabalho já realizado pelos
catadores e catadoras de materiais recicláveis e ajudar a promover a
superação de preconceitos que impedem o reconhecimento da profissão”,
diz o artista.
Mural do artista Obgá | Foto: Valmir Rodrigues
No
CEU Butatã também está a obra “Real”, do artista Pegge, que retrata a
representatividade de heróis negros no basquete mundial e como essa
representatividade ajuda a criar sonhos e protagonismo nas crianças
pretas que também querem jogar. “Com a arte, elas podem ver astros que
se pareçam com elas serem aclamados”, conta.
A negritude também está presente nas obras da Nazura, da Zona Leste de São Paulo. Em “A Força que a Voz tem”,
a artista representa a conexão feminina negra com as energias de
mudanças necessárias para existir e resistir em ambientes violentos e
coloniais. “A serpente representa dentro de suas simbologias, a
transmutação, a mudança, a fortificação espiritual. Dentro do conceito
da ilustração, remete à força negra feminina”, diz. A arte está na Rua
Jaceguay, 581 - Bexiga.
Diretamente
de Manaus, a indígena Auá assina a obra “Ãgawara-itá mukatúru: As
encantadas protegem”. A arte mergulha na espiritualidade dos povos
originários para representar a proteção da grande Deusa. “É uma arte
sobre conexão, demarcação, respeito, proteção. É para que eu nunca me
esqueça de tudo que foi feito para que eu estivesse viva, ontem, hoje e
sempre”.
Nas
imediações de Guarulhos e São Miguel Paulista, a arte de Carolina Itzá
fala sobre a atuação das mulheres em territórios periféricos. A artista,
de ascendência amarela, traz também para o mural a perspectiva do
ideograma chinês “Jing – O caldeirão”, que tem, entre seus significados,
o alimento material e espiritual. A ideia da arte é ser um registro
sensível da história da organização das mulheres em associações de
bairro, nas lutas por moradia e creche, entre outras importantes
conquistas que estruturaram as periferias urbanas. A arte está na Rua
Papiro do Egito, 1984 - Ermelino Matarazzo.
Mural da artista Carolina | Foto: Valmir Rodrigues
Endereço das empenas:
Murais da Nazura e Auá Mendes: Rua Jaceguay, 518 - Bixiga
Carolina itza: Rua Papiro do Egito, 1834, Jardim Nair, Ermelino Matarazzo
Leila Monsegur: Céu Butantã
Pegge: Céu Butantã
Mimura: céu Butantã
Ogba: Céu Parque Novo Mundo
Flip e Bento: Céu São Pedro José Bonifácio
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