BLOG ORLANDO TAMBOSI
Complô armado contra o Estado, com explosões para interditar o aeroporto de Brasília e impedir posse de Lula, foi organizado em área sob jurisdição militar. José Casado para a Veja:
Brasília
tem um bairro militar, onde se encontra o Quartel-General e a maior
parte das organizações da hierarquia do Exército. No entorno ajardinado
do QG vivem cerca de mil famílias de militares, abrigadas em 800
residências.
A
vida no Setor Militar Urbano mudou desde o fim da eleição presidencial,
em outubro, quando uma população flutuante de quase duas mil pessoas se
instalou diante do Quartel-General, em manifestação organizada e
financiada para apelar a uma intervenção armada que impeça a posse do
presidente eleito, Lula.
Jair
Bolsonaro, o vice Hamilton Mourão, o ministro da Defesa e comandantes
militares atravessaram os últimos 55 dias defendendo, em declarações e
notas públicas, o direito de manifestação e a liberdade de expressão dos
“patriotas” — é como se autoproclamaram.
O
local do acampamento dos bolsonaristas radicais não foi escolhido ao
acaso: o bairro do Quartel-General do Exército integra o mapa da
jurisdição do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados da 11ª
Região Militar, assim como a sede da presidência, o Palácio do Planalto,
e a residência presidencial, o Palácio da Alvorada.
Nessas
áreas, a competência ou capacidade para atuação é exclusivamente do
Exército. Qualquer iniciativa policial, por exemplo, precisa de
combinação prévia.
Um
mês antes da eleição a 11ª Região Militar passou ao comando do general
de brigada Ricardo de Castro Trovizo. No organograma da caserna ele está
subordinado ao comandante militar do Planalto, general de divisão
Gustavo Henrique Dutra de Menezes.
Na
noite de Natal, sábado (24), a polícia prendeu e indiciou George
Washington Oliveira Sousa, 54 anos, como responsável pela tentativa de
explodir um caminhão-tanque de querosene de aviação no aeroporto de
Brasília.
No início de novembro ele subiu numa camionete, saiu de Xinguara, no sudoeste do Pará, viajou 1,2 mil quilômetros até Brasília.
Na
bagagem trouxe armas, munições e uniformes militares de camuflagem.
Alugou um apartamento no entorno do QG do Exército e passou a frequentar
o acampamento de bolsonaristas radicais.
Entre
a segunda quinzena de novembro e o início de dezembro, ele recebeu de
aliados — ainda não se sabe se do Pará ou de Brasília —um conjunto de
seis explosivos, do tipo emulsão, que necessitam de acessórios para
detonação remota. Têm alguma sofisticação tecnológica e são usados na
mineração.
Na
noite de segunda-feira 12, dia em que a Justiça Eleitoral certificou a
eleição de Lula e do vice Geraldo Alckmin, um dos radicais saiu da
Palácio da Alvorada e voltava para o acampamento diante do QG quando foi
preso, por ordem judicial. Um grupo de manifestantes saiu da área do
QG, tentou invadir a sede da Polícia Federal, incendiou meia dúzia de
ônibus e destruiu propriedades no centro de Brasília.
Dez
dias depois, confessou George Washington à polícia, houve uma reunião
no acampamento e decidiu-se realizar atentados numa subestação de
energia e no aeroporto de Brasília “durante a madrugada”. O plano era
iniciar um apagão na cidade interditar toda a área do aeroporto,
eventualmente com bombas na áreas internas, de embarque e desembarque.
Não
importavam eventuais vítimas. A explosão de um caminhão-tanque de
combustível (o explosivo chegou a ser acionado mas “falhou”, segundo
versões policiais) tinha o objetivo, segundo a confissão, de provocar
caos e levar à “decretação de estado de sítio”. Interditaria a capital,
com óbvias consequências sobre a posse do novo governo, cuja lista de
convidados tem 43 representantes estrangeiros.
George
Washington deixou claro que não estava só. Além da reunião no
acampamento diante do Quartel-General, do “investimento” em armas e
uniformes (R$ 160 mil), e da cumplicidade nos explosivos, contou à
polícia que havia “entrado em contato com um importante general do
Exército”. A esse personagem, cujo nome não foi divulgado, teria avisado
sobre “um grande derramamento de sangue se nada fosse feito” contra a
posse de Lula e Alckmin.
As
investigações prosseguem, agora com George Washington em prisão
preventiva. Mais armas e explosivos foram apreendidos no domingo na
periferia de Brasília.
O
repórter Alceu Castilho, do Blog Gerson Nogueira, de Xinguara, mapeou
negócios dele e familiares: figuram como sócios numa complexa rede de
empresas controladoras de postos de combustíveis no Pará, Maranhão,
Roraima e Tocantins.
Também
são donos de transportadoras no mercado do Arco do Desmatamento, onde
proliferam a grilagem de terras públicas e os garimpos ilegais
financiados por máfias do crime organizado de São Paulo e do Rio.
George
Washington integra um grupo de empresários-ativistas do sul do Pará
cujos interesses têm sido defendidos pela bancada do garimpo e do
desmatamento na Câmara e no Senado. A maioria desses parlamentares atuou
na campanha presidencial. Alguns, se mantém alinhados a Bolsonaro e
contribuem na organização de apoio logístico e financeiro aos radicais
acampados diante do QG, em Brasília.
George
Washington se identificou à polícia como um ex-paraquedista.
Justificou-se com a necessidade de “impedir a instauração do comunismo”.
O
nome disso é terrorismo, um complô armado contra o Estado organizado
dentro de uma área urbana sob jurisdição militar. Para realizar um
atentado, ele conseguiu infiltrar armas, munição, uniformes e explosivos
na zona supostamente mais protegida de Brasília, a do Quartel-General
do Exército.
Numa
ironia, o Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados da 11ª Região
Militar mantém emoldurado o seguinte slogan: “Você pode confiar!”
Postado há 11 minutes ago por Orlando Tambosi
Nenhum comentário:
Postar um comentário