O Brasil está tão acostumado à discussão teórica que nossa esquerda recebeu de braços abertos Glenn Greenwald, de quem eu manteria distância justamente por causa de sua relação com grupos neonazistas. Bruna Frascolla via Gazeta do Povo:
A crermos no noticiário, em 2018 uma onda de neonazismo varreu o país. Neonazistas riscavam suásticas nas portas de banheiros nas universidades federais. Neonazistas agarraram uma militante feminista e fizeram, bem fininho, uma suástica com uma gilete na barriga dela, que deve ter ficado parada, quietinha, para o desenho não entortar. Neonazistas picharam suásticas numa igreja em Nova Friburgo… antes de serem flagrados pichando “Ele não” em outras áreas da cidade. É tudo uma palhaçada. Palhaçada eleitoreira, que não funcionou em 2018.
Falando
em igreja, foi uma coisa feia à beça aquela profanação da Igreja Nossa
Senhora do Rosário dos Homens Pretos, movida por um vereador do PT e seu
séquito de camisas vermelhas ignorantes. Segundo eles, aquela Igreja
dos Pretos é coisa de branco, e isso lhes dava direito de invadir o
local, interromper a missa e xingar todo mundo de nazista e racista.
Santa Tabata, protetora dos judeus
No dia seguinte, estava a Dona Tabata falando de nazismo. Tabata é católica, foi coroinha e deve à Igreja o seu interesse pela educação. Não deu um pio sobre o episódio de Curitiba. Nem ela, nem a CNBB.
No
podcast do Flow (e assim eu descobri que Flow e Monark são coisas
diferentes), a brilhante (ou não) aluna de Harvard resolveu falar de
nazismo em meio a uma discussão sobre o papel da política na evolução da
humanidade. Monark achava que cultura e tecnologia eram importantes. A
nobre deputada, querendo dizer que não, argumentou assim:
“Como mundo, ser humano, a gente tem duas histórias: uma é a da
democracia, que é lenta, negociação, etc, a outra é a do autoritarismo, e
aí você pode falar de União Soviética ou você pode falar do nazismo.
Milhões morreram nos dois, sabe.” Sem monarquias nem repúblicas
positivistas, Tabata acha que a humanidade é a mesma coisa que a Europa
entre a I e a II Guerra Mundial.
Monark
aceita esse despautério, mas manifesta seu ceticismo quanto à
democracia brasileira. A nobre deputada diz que no Brasil há liberdade
para dizer o que se pensa. Monark outra vez manifesta seu ceticismo e
ela diz que ele próprio, falando o que pensa, é a prova da existência
dessa liberdade. Melhor não comentar.
Bom, a parte do podcast que ficou famosa foi esta aqui,
em que Tabata diz que a existência de um partido nazista fere a
existência de judeus. O pensamento social dela é decalcado de um slogan
de internet dos anos 10: “Se fere minha existência, serei resistência.”
Monark jamais disse que ele próprio era favorável aos nazistas; disse
que é favorável à liberdade de associação. Como Tabata colocou o debate
nos termos de “ou democracia, ou comunismo e nazismo”, é natural que,
numa democracia, ou a criminalização do comunismo ou a descriminalização
do nazismo venham à tona. Quem igualou ambos primeiro foi Tabata. Eu
queria saber se ela defende a criminalização do comunismo, mas o podcast
completo tem mais de quatro horas e eu não vou ver tudo.
Algumas
respostas foram dadas, seja no Twitter ou nos artigos. Uma bastante
despretensiosa, que vou reproduzir mesmo assim, é a seguinte: “Se o
Thomas Nagel viesse ao Braza defender o ideal liberal de liberdade de
expressão apresentado em Concealment and exposure and other essays, o
tuiteiro br mandaria prendê-lo. A gente é muito jacu.” Pois é. O tuíte
é de Aluízio Couto, um doutor em filosofia que pesquisou liberdade de
expressão. O objeto da tese dele seria criminalizado pelo Twitter.
Na
verdade, o estado de coisas desejado por Monark é fato nos Estados
Unidos, onde existe uma miríade de partidecos e organizações. Ah,
organização neonazista lá é o que não falta.
Se a Primeira Emenda é neonazista, então é bom a Defensoria Pública da União, Alexandre de Moraes e até Eduardo Bolsonaro clamarem à ONU por providências contra aquele bárbaro país.
No
mais, já que Tabata se considera uma porta-voz dos judeus, devemos
pedir a ela que dê uns cascudos em Gustavo Maultasch, que fez um artigo para a Folha
defendendo Monark e explicando as liberdades dos Estados Unidos (onde,
aliás, Tabata estudou). No artigo ele se declara judeu e neto de
sobreviventes do Holocausto.
Bando de jacu?
Eu
na verdade só discordo do colega Aluízio quando ele diz que nós,
brasileiros, somos uns jacus. Nós estamos acostumadíssimos a pedir pela
descriminalização de coisas que, ora vejam só, são crimes. Pede-se
descriminalização da maconha e do aborto, sem que necessariamente se
incorra na apologia de crimes. A distinção está muito clara em nossas
cabeças. Porém, com a aliança entre as big techs e o jornalismo
tradicional, é possível alterar a percepção do debate público. Querem
nos fazer crer que todo mundo acha que racismo é “relação de poder”, mas não acha.Querem nos fazer crer que o Brasil está às vésperas de uma guerra racial ou religiosa, mas não está. É tudo uma pequena bolha virtual de jornalistas, acadêmicos e burocratas que dizem o que monopolistas do ESG querem.
E
o que mandam agora é que o FECANAPÁ, ou Festival de Cancelamentos que
Assolam o País, tenha uma edição nazista em ano eleitoral. Eu acho
burrice, mas o povo dá milhões a gente como João Santana porque o acham
inteligente. João Santana, o que criou o podcast do #CiroGames e botou o
coronel de moletom.
O
Brasil está tão acostumado à discussão teórica que nossa esquerda
recebeu de braços abertos Glenn Greenwald, de quem eu manteria distância
justamente por causa de sua relação com grupos neonazistas.
Antes
de vir para cá, Greenwald foi um advogado em sua terra natal, os
Estados Unidos. Como exemplo de seu grande compromisso com a liberdade
de expressão, ele costuma citar a defesa pro bono que ele fez de um grupo neonazista chamado National Alliance. Ele trabalhava de graça porque queria muito defender a Primeira Emenda, que dá liberdade de expressão até a neonazistas.
Se
fosse só isso, ele contaria com minha admiração e o meu respeito. Mas
ele foi além e defendeu de um crime de sangue, também pro bono, o
“pontifex maximus” da National Alliance, um homem chamado Matt Hale. Ele terminou condenado por encomendar a morte da juíza Joan Lefkow.
Glenn Greenwald não costuma comentar este fato, mas aqueles que ficam
vigiando tchauzinho e catando nome em lista de abaixo assinado não ligam
para isto.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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