Coluna de William Waack para o Estadão:
Há setores do mercado que vivem no curtíssimo prazo e que pulam de Bolsonaro para Lula
e vice-versa com a rapidez com que se especula por resultados
imediatos. Os setores com horizontes mais distantes não enxergam
diferenças significativas entre os dois líderes das pesquisas.
Mais
de um grande fundo já disse isso aos cotistas. O mais recente foi o
respeitado Verde, para o qual Lula e Bolsonaro “são irmãos gêmeos,
separados no nascimento”. Ambos, diz carta redigida pelo fundo, recorrem
ao mesmo “populismo eleitoreiro barato totalmente irresponsável”.
Essa
afirmação resultou da análise “técnica” (levando em conta apenas
modelos econômicos) dos instrumentos pelos quais o governo Bolsonaro
pensa conseguir baixar preços de energia em geral e combustíveis em
particular. Conclusão similar ao alerta feito pelo próprio Banco
Central, segundo o qual a maneira pela qual o Planalto quer baixar
preços e inflação arrisca a produzir o resultado contrário – obrigando o
BC a subir mais ainda os juros.
Populismo
eleitoreiro não é fenômeno restrito a personagens como Lula e Bolsonaro
nem ao sistema político brasileiro. É generalizado mesmo em democracias
liberais “estáveis” por toda a Europa. A questão para o Brasil, porém, é
muito mais abrangente por causa do consenso amplo na sociedade
brasileira de que a prioridade não é combater desigualdade, mas, sim,
promover o crescimento dos gastos públicos, dos quais grupos privados e
corporativistas extraem renda.
Esse
tipo de “escolha” não é racional nem deliberada, e resulta de longo
processo histórico e cultural – portanto, político. A composição do
Parlamento brasileiro, com suas atuais inéditas prerrogativas de poder,
espelha exatamente esse consenso. Uma amorfa massa “central” de
deputados e senadores luta apenas por seus interesses paroquiais ou
setoriais, acomodando-os à custa dos cofres públicos, sem diferenças
ideológicas significativas.
O
que mais impressiona quando se olha para o Brasil de uma perspectiva
ampla é o longo tempo em que está preso à armadilha de renda média.
Situação agravada de forma dramática pelas severas perdas sociais
causadas pela pandemia na saúde, educação e renda. Esse “plano geral” – o
das verdadeiras questões de fundo – não transparece no atual debate
político-partidário.
Que se concentra em quem vai apoiar quem em troca de quê. O Centrão
segue a lógica do sistema e tem como prioridade formar bancadas. Muito
antes dos fundos sofisticados de investimento já havia demonstrado não
ver diferenças significativas entre Lula e Bolsonaro. O resto é briga de
irmãos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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