Coluna diária de Alexandre Garcia, publicada pela Gazeta do Povo:
Anos atrás, quando visitei São Petersburgo, contratei um guia,
chamado Sergei, para me mostrar a cidade e me ajudar – porque não falo
russo. Enquanto visitávamos a orla do Mar Báltico, lá pelas tantas
apareceu um estaleiro, no meio daquelas belezas imperiais russas. Foi
quando Sergei me disse: “Eu adoro o Putin. Gosto muito do nosso Putin.
Mas condeno o que ele está fazendo: aqui dentro desse estaleiro, estão
construindo submarinos para aquele comunista do Chávez” – foi assim que
ele mesmo me disse.
Então, quando as pessoas falam que chegaram soldados russos à
Venezuela, eu explico que não: chegaram militares russos técnicos,
acompanhando o armamento que a Rússia vendeu para a Venezuela, que é um
bom freguês. Agora, a Rússia não vai dar nenhum apoio militar nesse caso
interno da Venezuela.
Nem a Rússia, nem ninguém. Tem gente ingênua dizendo que os Estados
Unidos estão preocupados com o petróleo da Venezuela. Gente, os Estados
Unidos têm petróleo de reserva. Eles guardam petróleo para quando esse
recurso fizer escasso, se ainda houver uso para ele – há hoje toda a
produção de energia vinda do sol e dos ventos. Enfim, as pessoas se
enganam.
Temos um regime totalitário na Venezuela – o tal socialismo
latino-americano, que não tem nada a ver com o socialismo escandinavo. É
aquele socialismo fajuto do Equador, da Bolívia, de Cuba, da Nicarágua.
Não dá certo. No Mediterrâneo já não deu certo, como na Grécia e na
Espanha. Na União Soviética, com todos os seus poderes divinos, não
funcionou. E, no entanto, é um regime que é o sonho de muitos
brasileiros. Se alguém duvidar, é só olhar as notas oficiais de partidos
políticos de esquerda – não chamo nem de extrema-esquerda, ao contrário
deles, para quem não existe direita, apenas extrema-direita e
ultradireita. Esses partidos apoiam o ditador Maduro. É uma coisa
incrível. Fazem isso através de notas, é claro – não sei por que não vão
lá se oferecer como voluntários.
Enfim, tirem da cabeça que a Rússia – ou o Brasil ou a Colômbia –
possam interferir na Venezuela. A menos que, para desviar as atenções,
Maduro invada a Guiana, que tem um território disputado com a Venezuela,
Essequibo. Mas ele não vai fazer isso, porque já tem muito problema
interno. E Maduro só se mantém porque inventou dois mil generais – a
cúpula desses quatro-estrelas está envolvida com ele e sabe que, se
Maduro cair, eles caem também, e caem feio. É isso que segura a
situação. Aliás, o que segura é a relação entre os generais e as suas
tropas. Na hora em que as tropas se dispersarem – não sei nem se isso
está acontecendo neste momento – o cenário será outro.
E Roraima?
No Brasil, Roraima tem prejuízo agora com a situação da Venezuela,
mas a longo prazo terá vantagem. É que a questão venezuelana chamou a
atenção do governo federal para o estado. Por exemplo, o linhão de
energia elétrica está indo para lá, porque já não há a energia fornecida
pela Venezuela. Vai se abrir a possibilidade de fazer parcerias com a
Guiana para a construção de hidrelétricas.
A Guiana vai passar por um período de crescimento muito grande nesses
próximos três anos. A Venezuela está com 10.000.000% de inflação. É um
horror, uma tragédia. Pobre do povo venezuelano. Vamos esperar para ver o
que vai dar do embate entre o presidente interino, Juan Guaidó, e o
ditador Maduro. A Venezuela está com dois Legislativos, dois
Judiciários, dois Executivos e aí há um perigo terrível de guerra civil –
e de derramamento de sangue.
Salvação nacional
Mudando de assunto. Que interessante: quase não vi nos jornais – tem
umas notinhas pequenas – a notícia mais importante desde que o Real
surgiu nos anos noventa. É a medida provisória 881, que praticamente
tira o Estado e a burocracia de cima das pessoas que querem virar
empresárias de uma hora para a outra sem precisar de papel. A medida
provisória prevê isso: você pode começar uma empresa sem depender de
cartório, de registro, de carimbo, de alvará, de nada! Vá em frente. Dê
uma olhada nessa medida. Não foi notícia. Parece que a turma dos
masoquistas, que querem o pior para o país, não festejou isso – e é de
se festejar. Claro, admito que ainda não saiu do papel, mas na hora em
que isso entrar em prática, será a salvação nacional, como foi o Plano
Real.
Atrasados
Para encerrar, queria falar do mundo digital de novo. Vi uma
exposição de tecnologia e pensei: “Meu Deus do céu, a gente tá muito
atrasado”. Tem moto que anda sozinha, tem carro que muda de cor. Imagine
só esse novo mundo que está aí e nós ainda estamos discutindo se um
aluno pode ou não pode gravar uma aula da professora, que no fundo não é
aula – não ensina sequer gramática, tudo o que quer é ensinar
ideologia: doutrinas ideológicas lá de 1917. Pobre país.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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