Infectologista da Unimed Araxá discute o retorno de doenças já controladas por falta de vacinação
A
vacinação é uma das maiores conquistas da saúde pública. Graças a ela,
conseguimos erradicar doenças como a varíola e controlar outras muito
perigosas, como o sarampo, a poliomielite e a difteria. No entanto,
infelizmente, nos últimos anos, o mundo inteiro — inclusive o Brasil —
tem testemunhado uma queda preocupante no número de pessoas vacinadas.
Essa situação é extremamente preocupante, pois pode fazer com que
doenças já controladas voltem a circular, colocando muitas vidas em
risco [1, 2, 4].
Essa redução na cobertura vacinal tem diversas causas. Algumas pessoas acreditam em fake news
(notícias falsas) que disseminam mentiras sobre vacinas. Também existem
grupos contrários à vacinação, além das dificuldades que muitas
famílias enfrentam para chegar aos postos de saúde. No Brasil, mesmo
tendo tido programas de vacinação altamente eficazes no passado,
atualmente enfrentamos desafios como a redução nas campanhas de
informação, a baixa adesão ao calendário vacinal e problemas na
distribuição de doses em regiões mais carentes ou afastadas [5, 2].
A
baixa adesão é considerada um problema grave de saúde pública, pois
leva ao aumento da mortalidade por causas evitáveis, especialmente entre
crianças, idosos, gestantes e pessoas com doenças crônicas. Esses são
grupos mais suscetíveis às formas graves de doenças imunopreveníveis.
Como consequência, enfermidades que haviam desaparecido estão
reaparecendo. É o caso do sarampo e da poliomielite. O sarampo, por
exemplo, havia sido eliminado no Brasil em 2016, mas voltou a causar
surtos a partir de 2018, com milhares de casos e diversas mortes [3].
Outro
ponto crítico é a perda da imunidade coletiva (ou imunidade de
rebanho). Quando menos pessoas se vacinam, a proteção geral da
comunidade diminui, permitindo que o agente infeccioso volte a circular.
Isso coloca em risco até mesmo aqueles que não podem ser vacinados por
motivos médicos, como recém-nascidos ou pessoas imunossuprimidas [1]. Há
também a possibilidade de aumento de surtos e epidemias, especialmente
em regiões onde a cobertura vacinal é mais baixa e a população vive em
situação de maior vulnerabilidade social. A vacinação em massa é
essencial para impedir a circulação de vírus e bactérias e, quando não
ocorre, a propagação se torna muito mais rápida e perigosa [5].
No
plano econômico, os efeitos também são significativos. A ocorrência de
surtos e epidemias acarreta elevados custos para o Estado, uma vez que
exige gastos com tratamento, hospitalizações, campanhas públicas e queda
de produtividade da população afetada [4].
Entre
2012 e 2022, a cobertura vacinal caiu significativamente no Brasil. A
vacinação contra a poliomielite, por exemplo, reduziu-se de 96,5% para
77%. E o sarampo voltou a reaparecer: em 2022, apenas 53% da população
foi vacinada, número muito abaixo dos 95% necessários para garantir a
imunidade coletiva [6, 2, 7].
Outro
aspecto relevante é a vacinação contra a influenza (gripe), que deve
ser feita anualmente. Isso porque o vírus da gripe sofre mutações
frequentes, exigindo a atualização periódica da vacina. Embora muitas
vezes seja considerada uma doença simples, a gripe pode causar
complicações graves, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG),
especialmente em crianças pequenas, idosos, gestantes e pessoas com
doenças crônicas. A vacinação anual ajuda a reduzir hospitalizações e
mortes por gripe, além de aliviar a pressão sobre o sistema de saúde,
particularmente durante o outono e o inverno [9].
Apesar
de avanços pontuais nos últimos tempos, o problema ainda é grave e
precisa ser enfrentado com urgência. É fundamental que a população
recupere a confiança nas vacinas, que a desinformação seja combatida com
informação de qualidade e que o Sistema Único de Saúde (SUS) se
mantenha fortalecido. A vacinação deve ser uma prioridade nacional e uma
responsabilidade de todos [5, 2, 8].
Dr. Jeronimo C. Menezes
infectologista
Referências
[1]
WHO – World Health Organization. Immunization coverage, 2021.
Disponível em:
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/immunization-coverage
[2] Ministério da Saúde. Painel de Monitoramento das Coberturas Vacinais, 2022. Disponível em: https://tabnet.datasus.gov.br
[3] Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico do Sarampo – 2023. Brasília: Governo Federal.
[4] PAHO – Pan American Health Organization. Vaccination in the Americas, 2022. Disponível em: https://www.paho.org
[5]
OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde. Vacinação nas Américas:
desafios e estratégias para 2023. Disponível em: https://www.paho.org/pt
[6]
UFSM – Universidade Federal de Santa Maria. Volta de doenças
controladas. Revista Arco, 2023. Disponível em:
https://www.ufsm.br/midias/arco/volta-de-doencas-controladas
[7]
UNICEF Brasil. Cenário das coberturas vacinais no Brasil: um alerta
para a infância, 2023. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil
[8]
SBIm – Sociedade Brasileira de Imunizações. Desinformação e hesitação
vacinal: estratégias de enfrentamento, 2022. Disponível em:
https://sbim.org.br
[9] Ministério da Saúde.
Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza 2024. Brasília:
Governo Federal. Disponível em:
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2024/abril. Acesso em:
19 maio 2025.
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