O
cenário da inadimplência em 2024 foi marcado por uma escalada
preocupante que afetou diretamente o setor de locação e a vida em
condomínio no Brasil. De um lado, o volume de dívidas disparou; de
outro, síndicos e administradoras correm para minimizar os prejuízos e
manter os serviços essenciais funcionando.
De
acordo com o Instituto de Estudos de Protesto de Títulos do Brasil
(IEPTB), as dívidas condominiais levadas aos cartórios bateram recorde:
saltaram de 4.885 casos em 2020 para 15.320 em 2024, um crescimento de
mais de 200% em apenas cinco anos. E a tendência é de que esse número
siga subindo, já que, só nos três primeiros meses de 2025, já foram
registrados 6.266 novos protestos.
A
estratégia de protestar as dívidas se tornou cada vez mais comum entre
síndicos e administradoras, atraídos pela alta taxa de recuperação: em
2024, dos R$ 29,6 milhões em débitos protestados, R$ 7 milhões foram
pagos, gerando um índice de efetividade de 25,2%.
Locação também sofre com inadimplência em alta
O
impacto da inadimplência não ficou restrito aos condomínios. No mercado
de locação, o Índice de Inadimplência Locatícia da Superlógica revelou
que a taxa nacional passou de 3,20% em novembro para 3,46% em dezembro
de 2024, a maior marca registrada no segundo semestre, embora ainda
inferior aos picos de 3,86% vistos em fevereiro e abril.
A
região Norte puxou a fila da inadimplência, com 7,05%, seguida por
Nordeste (5,02%), Centro-Oeste (3,67%), Sudeste (3,13%) e Sul (2,73%).
Quando o recorte é estadual, a Paraíba apresentou o maior índice:
impressionantes 15,77%. Já Santa Catarina ficou na ponta oposta, com
1,97%.
Imóveis
com aluguéis mais baixos foram os mais afetados. Nas residências com
aluguéis de até R$ 1.000, a inadimplência chegou a 5,43%, enquanto nos
imóveis comerciais da mesma faixa, a taxa foi ainda maior: 6,75%. No
Ceará, o ano fechou com uma inadimplência de 4,11%, acima da média
nacional.
Para
Luciana Lima, CEO da Gestart Condomínios, essa situação é reflexo
direto da dificuldade das famílias, principalmente as de renda mais
baixa, em manter os compromissos básicos. “O aluguel dificilmente é o
primeiro gasto a ser cortado. Por isso, o aumento da inadimplência
revela uma fragilidade financeira grave que atinge a sociedade de forma
ampla”, analisa.
Condomínios sob pressão
Nos
condomínios, os efeitos da inadimplência são ainda mais imediatos e
coletivos. Segundo o Grupo Superlógica, a falta de pagamento das taxas
condominiais provocou um prejuízo anual estimado em R$ 7 bilhões em
2024. O levantamento, feito com cerca de 300 mil condomínios de todo o
país, o equivalente a mais de 4,2 milhões de imóveis — revelou que, em
março de 2025, a inadimplência das taxas chegou a 6,80%, o maior índice
dos últimos dez meses.
Luciana
explica que a taxa condominial funciona como um rateio para bancar as
despesas do prédio, desde salários até manutenção e segurança. “Quando
muitos deixam de pagar, os adimplentes acabam arcando com as
consequências: aumento nas taxas ou cortes de serviços”, alerta.
Caminhos possíveis
O
avanço da inadimplência força os condomínios a buscarem medidas mais
enérgicas, como o protesto da dívida ou até ações judiciais que podem
culminar em penhora e leilão do imóvel. Mas, segundo Luciana, é
importante priorizar soluções que evitem o agravamento da situação.
“Negociações mais humanas e flexíveis são fundamentais. Propor acordos e
parcelamentos, por exemplo, pode ajudar a evitar que o morador acumule
dívidas impagáveis e manter a saúde financeira do condomínio”, sugere.
Diante
desse cenário, o recado é claro: a inadimplência não é um problema
isolado, mas coletivo, com impactos que reverberam não só na vida
financeira, mas também na qualidade de vida dentro dos condomínios. A
mobilização de todos os envolvidos — síndicos, administradoras e
moradores — é essencial para atravessar essa crise e garantir a
sustentabilidade dos empreendimentos residenciais e comerciais no país.
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