Desde março do ano passado, a equipe tem se dedicado a explorar a interseção entre produção editorial e tecnologia digital
O
Grupo de Estudos sobre Livros Digitais Interativos da PUC-Campinas
completou um ano de existência neste último mês de março. Desde a sua
fundação, a equipe tem se dedicado a explorar a interseção entre
produção editorial e tecnologia digital. Sob a liderança do Prof. Dr.
João Paulo Lopes de Meira Hergesel, o projeto visa desenvolver livros
digitais interativos que promovam a formação de leitores críticos e
engajados na sociedade contemporânea.
O
grupo, concebido em parceria com o Programa de Experiências
Educacionais Inovadoras da PUC-Campinas, o Manacás, foca em discutir e
implementar práticas comunicativas que atendam às demandas do mercado
editorial moderno. Com um enfoque interdisciplinar, o grupo não só
explora as potencialidades dos livros digitais interativos, mas também
busca compreender como a leitura digital pode ser uma ferramenta de
cidadania e desenvolvimento pessoal.
Em
2024, cinco projetos de Iniciação Científica foram iniciados por
estudantes da Faculdade de Letras com o propósito de adaptar obras
literárias clássicas brasileiras para plataformas digitais interativas.
Foram selecionados os seguintes livros: “Casa Velha”, de Machado de
Assis; “Nebulosas”, de Narcisa Amália; “Memórias de Martha”, de Júlia
Lopes de Almeida; “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá”, de Lima
Barreto; e “Opúsculo Humanitário”, de Nísia Floresta.
De
acordo com o professor João Paulo, a realização de projetos
relacionados a livros digitais interativos na PUC-Campinas promove a
inovação e o compromisso social, “valores institucionais centrais que
orientam as atividades da Universidade”. Ele continua dizendo que ao
integrar tecnologias digitais emergentes com práticas culturais, a
PUC-Campinas, por meio do Programa de Desenvolvimento Humano e Integral -
Levanta-te e Anda (PDHI-LA) e do Programa Manacás, aos quais o grupo
está vinculado, “não só se mantém atualizada com as mais recentes
tendências do mercado editorial e da pesquisa interdisciplinar, mas
também contribui para a formação de leitores críticos e engajados,
alinhando-se com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da
Organização das Nações Unidas (ONU). Isso fortalece a reputação da
Instituição como um centro de excelência em pesquisa e extensão,
especialmente nas áreas de comunicação e linguagens”.
Todas
as obras selecionadas para a realização do projeto são de domínio
público ou de cunho autoral. Enquanto que em 2024 as obras trabalhadas
foram de cânones da literatura brasileira, em 2025 o foco será em
escritores de livros infantis que foram esquecidos pelo tempo. Além
disso, os estudantes participantes têm podido trabalhar com obras que
eles mesmos criaram e desenvolveram.
Atualmente,
de acordo com o líder do grupo, estão vinculadas ao projeto duas
bolsistas de iniciação científica financiadas pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ambas começaram a fazer parte
da equipe no ano passado. Agora, o grupo está em busca de conseguir
outras cinco bolsas para os projetos que terão início neste ano.
A formação do grupo
A
ideia de formar o grupo, segundo o seu líder, surgiu da necessidade de,
como visto anteriormente, explorar a interseção entre a produção
editorial e a tecnologia digital, especialmente em um contexto em que a
literatura enfrenta desafios de acesso e engajamento. “Estudos sobre o
leitor contemporâneo revelam que a ubiquidade (a sensação de estar em
vários lugares ao mesmo tempo) torna a inserção de mídias (imagens,
áudios, vídeos, links e afins) uma poderosa aliada para
transformar a leitura em uma experiência mais envolvente e que
possibilite a ampliação do conhecimento e do olhar crítico sobre a obra,
o autor e o contexto de produção e circulação”, esclarece o professor.
No
ano passado, o Grupo de Estudos realizou um estudo teórico abrangente
sobre comunicação literária, produção editorial, mercado editorial,
livros digitais e, mais especificamente, livros digitais interativos e, a
partir de agora, com o apoio de alunos monitores do curso de Design
Digital será iniciada a edição modernizada desta nova série de obras. “O
objetivo é revisar a ortografia dos textos clássicos, sem fazer
alterações que firam os direitos morais dos autores, e incorporar
elementos interativos que tornem o material mais acessível e atraente
para o leitor contemporâneo”, explica o líder do grupo.
Parceria com o curso de Design Digital
Neste
primeiro semestre de 2025, a equipe celebrou uma parceria com o curso
de Design Digital através do projeto “Histórias Mágicas”, um trabalho
desenvolvido no contexto do componente curricular “Projeto Integrador:
Produto Digital Interativo”. O projeto envolve os estudantes no
desenvolvimento de pré-livros (livros sem textos) digitais interativos,
inspirados nos conceitos de leitura interativa e sensorial, destinados a
crianças em fase de alfabetização. Para o professor João Paulo, essa
colaboração tende a enriquecer a formação dos estudantes, oferecendo uma
experiência prática de trabalho colaborativo e interdisciplinar que
alia inovação tecnológica e responsabilidade social.
“Por
meio dessa parceria, novos projetos de iniciação científica estão
nascendo, desta vez focados no resgate e na revitalização de livros
antigos e esquecidos da literatura infantil e juvenil, utilizando
tecnologia digital e recursos de inteligência artificial. Cinco projetos
estão em avaliação por agências de fomento, tendo como objetos de
estudo os livros ‘Contos Infantis’, de Adelina A. Lopes Vieira e Júlia
Lopes de Almeida; ‘O Coração’, de Zalina Rolim; ‘Theatro Infantil’, de
Olavo Bilac e Coelho Neto; ‘Páginas Infantis’, de Presciliana Duarte de
Almeida; e ‘Histórias de Meninos na Rua e na Escola’, de João Köpke”,
explica o professor.
Ele
diz ainda que “esses projetos visam não apenas preservar o legado
cultural desses autores e autoras, mas também engajar novos públicos por
meio de experiências de leitura mais dinâmicas e acessíveis,
alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU,
especialmente nos quesitos de inovação e redução de desigualdades. Com
essa base sólida de inovação e colaboração, a PUC-Campinas reafirma o
seu compromisso com a excelência acadêmica e a promoção de práticas
educacionais inclusivas e transformadoras”.
O que são os pré-livros?
O
conceito de pré-livro foi criado pelo designer italiano Bruno Munari
(1907-1998) e consiste em um livro sem palavras, que realiza a sua
comunicação apenas por meio de imagens. A proposta é que as crianças, ao
interagirem com esse material, aprendam a “ler” as mensagens
baseando-se nas formas e texturas, “entretanto, ainda que esse conceito
seja trabalhado pelos professores de Design Digital no projeto
integrador do curso, em nosso grupo de estudos, nós não o utilizamos,
pois a nossa proposta inclui o uso de texto verbal, além das imagens”,
comenta o professor João Paulo.
Diferenças entre livros tradicionais e interativos
Além
dos pré-livros, é necessário também entender a diferença entre livros
tradicionais e livros interativos. Enquanto os livros tradicionais são
predominantemente estáticos, contendo texto e ilustrações fixas, os
livros interativos incorporam elementos que permitem ao leitor interagir
com o conteúdo. Nos livros físicos, a interatividade pode se manifestar
por meio de botões de som, páginas de tecido, tiras recortadas que
alteram a linearidade da leitura, imagens em pop-up que saltam à
vista do leitor, entre outros recursos materiais que a criatividade
venha permitir. Já os livros digitais interativos realizados pelo Grupo
de Estudos podem incluir animações, vídeos, jogos e outras
funcionalidades que enriquecem a experiência de leitura e incentivam a
participação ativa do leitor.
Alinhamento com os ODS da ONU
Os
projetos do Grupo de Estudos, como mencionado anteriormente, estão
alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU,
especialmente os de número 4 (Educação de Qualidade), 9 (Indústria,
Inovação e Infraestrutura) e 10 (Redução das Desigualdades). “Ao
democratizar o acesso à literatura e promover o desenvolvimento humano e
a transformação social, o trabalho com estas obras visam não apenas
melhorar as práticas culturais, mas também garantir que pessoas em
situação de vulnerabilidade tenham acesso a recursos culturais que
promovam o seu desenvolvimento integral, além de familiarizar-se com as
inovações da indústria criativa, especialmente no setor editorial”,
encerra o professor João Paulo.
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