“A
poesia pode servir de ferramenta cultural para ressignificar memórias e
experiências. Memórias são as lembranças dos acontecimentos de ontem
trazidos pela mente para o hoje. Experiências são os conhecimentos
adquiridos fruto das vivências ao longo da vida.”
Por Eduardo Barchiesi*
A
escrita poética pode se tornar uma atividade relevante para a terceira
idade pela sua exigência de criatividade e estímulo à atividade mental.
Através da leitura de bons textos, se usufrui de momentos instigantes de
alegria, tristeza e reflexão. Da sua feitura, a vivência dessa
empreitada. São situações que contribuem para uma melhor qualidade de
vida não só de idosos, mas de pessoas de qualquer idade.
A
poesia, em específico, é uma forma de expressão cultural do ser humano,
como tantas outras. Criá-la e recepcioná-la é uma forma de contribuição
para essa espécie aprimorar sua humanidade. Escrever estimula o cérebro
a exercer uma função, dentre outras, para a qual se desenvolveu —
pensar.
Outra
contribuição importante é que a poesia pode servir de ferramenta
cultural para ressignificar memórias e experiências. Memórias são as
lembranças dos acontecimentos de ontem trazidos pela mente para o hoje.
Experiências são os conhecimentos adquiridos fruto das vivências ao
longo da vida. A ressignificação ocorre, por exemplo, pela contraposição
histórica de comportamentos, situações, contextos, tentar captar se a
vida evolui para cima ou para baixo. Para o sublime ou para o grotesco.
Ou se segue a lesma lerda.
Para
a pessoa idosa, como para qualquer pessoa, a escrita poética pode
ajudar a refletir sobre sua própria vida e trajetória. Em relação ao meu
percurso como poeta, quando comecei meu trabalho tinha um caráter mais
personalista, egocêntrico; era mais irônico e mordaz. Agora minha visão
tem estado voltada mais para o entorno, a ironia abrandou e a
mordacidade desapareceu. E isso, entendo hoje como crescimento pessoal.
O
processo é diário. Há que se vencer o desafio para capturar inspiração,
sentir prazer quando a caça é apreendida, frustração quando não. E a
melhor recompensa é, por meio de uma manifestação artística, poder
participar com dignidade da vida.
Um
fator que deve ser considerado é que na atualidade a realidade está
substancialmente virtualizada. A mocidade de hoje não encontra
dificuldade nessa situação. Para a pessoa idosa, pode ser um problema
lidar com essa inexorável e avassaladora internetização.
Ao
entrar no mundo da escrita, em particular no caso da poesia, participar
de saraus, grupos de poesia, feiras e bienais literários ajuda a
encontrar novas amizades, fortalecer laços sociais, enfim, proporcionar
uma maior convivência social e abrir portas para novas oportunidades e
vivências. Entre os grupos de poesia existentes, faço parte da equipe de
poetas do portal Fazia Poesia, no Medium.
Aos
companheiros e companheiras dessa fase da vida, se forem escritores e
quiserem começar a escrever poesia na terceira idade com vera vontade,
não esperem pela quarta, vão logo em frente. Mas não leiam bula de
remédio apenas como bula. Sabendo bulir com a bula pode eboluir algum
poeminha. A ordem é botar a cuca pra ebulir. Aos que não forem
escritores, sempre é tempo de começar.
*Eduardo Barchiesi (@eduardo_barchiesi),
de 81 anos, é nascido paulistano (SP) em 4/4/44. Vive hoje em Vinhedo,
no interior paulista. Engenheiro, mestre e doutor em metalurgia
(Politécnica USP), além de bacharel em letras (português-latim FFLCH
USP), exerceu a profissão de professor e engenheiro no campo de suas
especializações. Começou a escrever textos literários publicamente em
2004, mas somente a partir de 2008 passou a se dedicar à poesia, sendo
hoje parte da equipe de poetas da Fazia Poesia. Sua
estreia literária se deu com o romance Demanda Furibunda (Edições
Inteligentes, 2005) e foi sucedida por outras treze publicações, entre
romance, conto, infantil e poesia. Bestiário da Saúde (Chiado, 2021) é
seu livro mais recente.
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