Quando se abrirem os currais da pandemia estaremos na arrancada das
eleições de novembro. No curto prazo, esse voto é nossa principal arma
para proteger nossa cultura, nossos valores e nossa fé da corrosão a que
foram submetidos durante tanto tempo. Percival Puggina:
Sempre me chamou a atenção o modo como tantos analistas observam as
posições do governo federal e de seus membros mais falantes e os acusam
de serem “petistas com sinal trocado”. Verdade que durante as últimas
duas décadas o vaivém do balanço da política emperrou do lado esquerdo.
Subiu e manteve no alto seus tripulantes. Fernando Henrique e Lula, quem
não sabia ficou sabendo, eram “inimigos” íntimos e a rivalidade entre
seus torcedores, uma construção engenhosa e embusteira.
As relações entre os dois principais líderes da política brasileira
no período produziriam excelente conteúdo para um drama recheado de
conflitos shakespearianos. Lula gostaria de ter sido FHC e este gostaria
de ter sido Lula. Aquele nutre indisfarçável sentimento de
inferioridade em relação ao tucano. Este gostaria de posar como líder
popular. No entanto, ambos convergem na destruição do conservadorismo,
inimigo comum que tinham como totalmente derrotado por WO na guerra
cultural.
Para que parcela significativa da população compreendesse a
transformação a que fora submetida, foi necessário que o “progressismo”
da esquerda operasse no poder durante duas décadas e produzisse terrível
estrago nas relações em sociedade e na ordem social. Por fim, foi
necessário que se despisse inteiro ante os olhos de todos e ensaiasse os
próximos passos em propostas legislativas ainda mais perniciosas.
Desde o começo do novo governo, qualquer passo na direção desejada
pela maioria do eleitorado, como por exemplo a substituição de alguns
donos das posições de mando, natural à alternância do poder político,
era atacado como radicalismo e intolerância. A vitória dos conservadores
era aceitável, desde que tudo ficasse como estava. Acusava-se o novo
governo de fazer o que fora eleito para fazer.
O conjunto de siglas partidárias, a miríade de organizações da
sociedade, o imenso aparelho esquerdista nos poderes de Estado, e boa
parte dos grandes meios de comunicação, passaram a agir com um roteiro
bem definido: guerra total aos conservadores e à penetração do
conservadorismo na sociedade.
O coronavírus abriu enorme espaço para o autoritarismo e para a
concentração de poder político. Governadores, prefeitos, presidentes de
legislativos e órgãos colegiados foram favorecidos pelos plenários
vazios, pelos conchavos “in vitro” e reuniões “em vídeo”. Ele também
desacelerou uma agenda em desenvolvimento havia alguns meses no sentido
de iniciar a formação de um movimento conservador no Brasil. As “lives”,
hoje em voga, não substituem os plenários e auditórios porque não
proporcionam as mesmas possibilidades de agregação e articulação dos
colóquios, encontros, congressos.
Quando se abrirem os currais da pandemia estaremos na arrancada das
eleições de novembro. No curto prazo, esse voto é nossa principal arma
para proteger nossa cultura, nossos valores e nossa fé da corrosão a
que foram submetidos durante tanto tempo. Hoje são vulneráveis à
intolerância das estruturas de poder preexistentes, mediante
intimidações, censura, demissões e prisão.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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