A
campanha Abril Verde, dedicada à conscientização sobre a segurança e
saúde no trabalho, serve como um importante alerta para empresas,
trabalhadores e todos os envolvidos na construção de ambientes laborais
mais seguros. O mês foi escolhido em alusão ao 28 de abril, data em que
se celebra o Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho e também se
homenageia o Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças
do Trabalho.
Os
números são alarmantes: em 2023, o INSS registrou 603.825 acidentes e
2.694 óbitos relacionados ao trabalho no Brasil, enquanto o sistema
eSocial, do Ministério do Trabalho e Emprego, contabilizou
aproximadamente 2.888 acidentes fatais. Entre 2011 e 2022, foram
notificados mais de 7,5 milhões de acidentes de trabalho no país.
A
médica do trabalho e supervisora dos Serviços Especializados em
Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) da Uniube,
Dra. Naiara Cabral, destaca os principais desafios e avanços da área,
reforçando sua importância para o bem-estar dos trabalhadores.
Segundo
a especialista, um avanço significativo entra em vigor no próximo mês
no Brasil: a implantação do Risco Psicossocial. A medida representa um
marco na valorização da saúde integral do trabalhador, permitindo uma
abordagem mais ampla e humana — que considera não apenas o corpo, mas
também a mente e o contexto social de cada colaborador.
“Com isso, abre-se espaço para novas oportunidades de promoção da saúde e prevenção dentro do ambiente laboral”, destaca.
Qual a importância do Abril Verde para a conscientização sobre a saúde e segurança no trabalho?
A
campanha do Abril Verde é primordial para trabalharmos a
conscientização dos empregadores, colaboradores e da população como um
todo sobre a importância da segurança no trabalho. Tornar os ambientes
de trabalho mais seguros e saudáveis e estimular as ações de cuidado,
além de incentivar os colaboradores a adotarem hábitos de saúde e
segurança na rotina diária, são os principais objetivos desse mês.
Quais são as doenças ocupacionais mais comuns e como podem ser prevenidas?
Uma
das maiores preocupações da atualidade é, sem dúvida, a saúde mental.
Por isso, as principais doenças ocupacionais que estão no radar são:
estresse, depressão, ansiedade, enxaqueca e burnout. Tais distúrbios são
desencadeados em ambientes onde existem altos índices de cobrança,
desgaste e pressão. Para evitar essas doenças ocupacionais, é preciso
investir em boas lideranças, comunicação interna e num RH acolhedor, o
qual apoia e valoriza as ações da equipe de saúde ocupacional.
Também
é comum vivenciarmos as doenças osteomusculares, as quais podem ser
evitadas com uso adequado das ferramentas ergonômicas, com adequação dos
postos de trabalho, orientação técnica e planejamento das atividades
laborais.
Como a prevenção de acidentes de trabalho impacta a qualidade de vida dos trabalhadores e a produtividade das empresas?
O
acidente de trabalho gera grandes prejuízos tanto para o colaborador
quanto para a empresa. Por isso é importante ter ações que permitam
manter a integridade física, mental e emocional da equipe, promover um
ambiente de trabalho saudável e produtivo, aumentando assim a satisfação
e o bem-estar dos trabalhadores, reduzindo o absenteísmo e a
rotatividade do time, gerando economia e maior produtividade.
Qual o papel da ergonomia na prevenção de doenças ocupacionais?
A
ergonomia é fundamental para gerar aumento da produtividade e dos
resultados da empresa, melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores,
prevenir problemas de saúde e também reduzir as chances de
desenvolvimento de doenças psicossociais. O principal objetivo da
ergonomia é promover a saúde, o conforto e a segurança dos trabalhadores
no ambiente laboral.
Quais
são as boas práticas que trabalhadores e empregadores podem adotar para
prevenir o desenvolvimento de Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e
Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT)?
A
lesão por esforço repetitivo afeta músculos, nervos, ligamentos e
tendões. Esse tipo de lesão pode ser causado por técnica inadequada ou
uso excessivo de uma área em específico. Para evitar essas lesões é
importante que haja reconhecimento dos riscos, orientações técnicas com
treinamentos para as equipes e adequação do ambiente e das ferramentas
de trabalho quando necessário.
Quais são os principais impactos da saúde mental no ambiente de trabalho e como preveni-los dentro da saúde ocupacional?
Os
três pilares da saúde mental são a prevenção, a percepção e o
tratamento. Sendo assim, as ações voltadas para o fortalecimento
emocional e o acolhimento para o melhor direcionamento é fundamental
para gerarmos um ambiente de trabalho saudável. Porém quando já existe o
acometimento emocional de algum colaborador é extremamente relevante
que a liderança tenha a percepção e direcione esse indivíduo para o
setor da medicina do trabalho para que haja uma conduta que permita o
tratamento adequado e reduza os riscos de complicações e afastamentos.
Os
principais impactos do adoecimento mental numa corporação são aumento
do absenteísmo, queda de produtividade, isolamento social,
discriminação, perda de oportunidades no desenvolvimento profissional e
na projeção de carreira.
Quais sinais os trabalhadores devem observar para identificar possíveis problemas de saúde ocupacional?
A
saúde é o nosso maior bem, por isso devemos sempre ressaltar a
importância de conhecermos nosso organismo, ficarmos atentos às mudanças
comportamentais, aos sinais físicos que surgem no início de algumas
patologias e muitas das vezes ignoramos porque temos outras prioridades e
não podemos parar. Ter uma rotina de check-up anual e participar das
campanhas de promoção à saúde também são essenciais. Quando
identificadas no início, as patologias nos permitem maiores
probabilidades de sucesso no tratamento além de reduzir as chances de
complicações. Manter o exame periódico em dia é fundamental para que
esse acompanhamento seja supervisionado por um profissional
especializado.
Como a adoção de programas de saúde ocupacional pode reduzir o absenteísmo e melhorar o desempenho dos colaboradores?
O
programa de saúde ocupacional visa acompanhar, promover e garantir a
saúde dos trabalhadores. Nele contém as principais necessidades do
público monitorado, os riscos e fatores epidemiológicos são
identificados na empresa para que seja conduzido de forma eficaz com
resultados positivos que impactam na vida de todos os envolvidos.
Quais são os desafios e avanços na legislação e políticas de prevenção de acidentes de trabalho no Brasil?
A
prevenção é o maior investimento das empresas para proteção dos
empregados. Acompanhamos números relevantes, que evidenciam a
necessidade ainda urgente de uma atuação preventiva aos riscos inerentes
ao trabalho, e sabemos que através do aprimoramento legal iremos
direcionar ações mais eficazes para impactarmos positivamente a vida dos
trabalhadores.
É
fato que aconteceram avanços expressivos na legislação ao longo do
tempo, após mais de 50 anos da publicação das primeiras portarias que
instituíram o Plano Nacional de Valorização do Trabalhador e tornou
obrigatórios os serviços de medicina e segurança do trabalho nas
empresas, porém ainda é muito desafiador o processo de implantação de
todas as normas exigidas por questões orçamentárias, escassez de
profissionais qualificados e principalmente o reconhecimento do
trabalhador quanto a importância de participarem ativamente dessas
ações.
Precisamos
que as empresas vejam que investir em saúde e segurança é investir em
produtividade, em qualidade e em redução de custas processuais, que a
consequência será colher os frutos da retenção de talentos, a redução do
absenteísmo e melhoria dos resultados, e que os trabalhadores sintam-se
prestigiados por terem uma equipe voltada para o seu bem-estar e
proteção.
A
partir de maio deste ano teremos a implantação do Risco psicossocial,
um grande avanço para que possamos enxergar o ser humano numa visão 360
graus, cuidando ativamente do corpo, mente e social de cada colaborador,
e gerando assim mais oportunidades de saúde e segurança no ambiente de
trabalho.
Daniela Brito
Nenhum comentário:
Postar um comentário