A luta de classes promovida pela esquerda passou para as questões identitárias. Os liberais não se podem abster desta discussão refugiando-se num preguiçoso “nem woke nem anti-woke”. Diogo Prates para o Observador:
Ao
olharmos para o panorama político nacional e estrangeiro, depressa
constatamos que o liberalismo se encontra “encurralado” por três outras
correntes de pensamento político, sendo elas o socialismo, a
social-democracia e o nacionalismo. Destas, o liberalismo é para mim
aquela que está mais perto de conseguir um modo de vida em sociedade que
melhor garante um equilíbrio entre o Estado e a liberdade individual e
colectiva dos seus membros. Importa então perguntar como é que o
liberalismo se pode, definitivamente, afirmar no panorama político
nacional, aumentado a sua influência, não só no governo, mas e até mais
importante que isso, na cultura do país. Eu identifico três grandes
conceitos onde os liberais podem e devem fazer a diferença: coragem,
verdade e afirmação de valores.
Coragem.
Perante os tempos imprevisíveis em que vivemos, onde a guerra sucede à
pandemia, muitos tenderão a procurar num Estado cada vez mais forte,
controlador e omnipresente a resposta para a sua busca de protecção e
salvaguarda. Caberá aos liberais, mais uma vez, recentrar e relembrar o
papel do Estado como garante da segurança interna e externa, com forças
de segurança com os meios necessários ao exercício das suas funções, mas
que nunca poderão perder de vista o essencial. Estas forças servem para
proteger a liberdade dos cidadãos e não para as pôr em causa, nunca
para as limitar, como aconteceu na pandemia com a limitação de
circulação, entre concelhos entre outros exemplos de má memória. Os
liberais deverão ter a coragem de colocar a liberdade sempre acima de
qualquer pulsão controladora do Estado.
Verdade.
Hoje, mais do que nunca, os portugueses exigem a verdade, estão
cansados de truques contabilísticos e de linguagem; a política é
demasiadas vezes terreno fértil para a ilusão. Seja do lado do governo,
seja da oposição, todos procuram adaptar a realidade às respectivas
narrativas e apresentar propostas extirpadas de qualquer desvantagem. O
resultado da ilusão é a desilusão, o ressentimento e a desconfiança.
Promessas não cumpridas são meio caminho andado para a erosão da
democracia.
Afirmação de valores.
É confortável aos liberais assentarem o discurso político na vertente
económica. Em Portugal, com a actual asfixia fiscal e com os erros
cometidos, nomeadamente em investimentos ruinosos como a TAP, torna-se
impossível de ignorar que o socialismo falha clamorosamente nesta área.
Porém, apesar de ser inevitável que a economia ocupe um lugar central do
léxico liberal, é fundamental que o discurso não se esgote aí. Valores
como a solidariedade, patriotismo e tolerância não podem ser ignorados
pelos liberais, até porque dessa forma são apropriados por outros. Sobre
a tolerância permitam-me salientar que hoje a maior ameaça a este valor
vem daqueles que, à esquerda, se escondem atrás do politicamente
correcto (ou “wokismo”) para a partir daí implementarem as suas agendas.
Seja convictamente ou para desviar a atenção de outros assuntos
inconvenientes, a luta de classes promovida pela esquerda passou para as
questões identitárias, os “wokes” procuram dividir a sociedade, agora
não em capitalistas e a classe operária, mas através da orientação
sexual ou pela cor da pele. É por isso que para mim os liberais não se
podem abster desta discussão refugiando-se num preguiçoso “nem woke nem
anti-woke”, pelo simples facto de que o “wokismo” de hoje limita a
liberdade e não tem respeito pela memória. Deixem-me ilustrar com um
exemplo concreto. Nos EUA uma instituição de ensino chamada Evergreen
State College comemora desde os anos 70 o chamado “Day of Absence”, dia
em que os alunos Afroamericanos saem do campus voluntariamente para
chamar a atenção para a sua importância no contexto universitário. No
entanto em 2017 os alunos pretenderam mudar as regras, tentando proibir a
entrada no espaço do campus de professores e alunos brancos com o
argumento de que estes deveriam sentir o que é o “privilégio de ser
branco”. Durante anos milhares de negros e brancos lutaram nos EUA pelo
fim da segregação dos Afroamericanos na sociedade americana, muitos
morreram a tentá-lo. É nosso dever preservar a sua memória e o seu
legado, evitando de todas as forma qualquer tipo de segregação imposta
por outros, seja por quem for.
Não
existe meio termo neste assunto, o meio da ponte é lugar de ninguém, só
a luta contra o politicamente correcto, contra o “wokismo” preserverá a
liberdade e a tolerância, valores fundamentais e inalienáveis para
qualquer liberal.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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