A esmagadora maioria dos que enchem a boca com "o fascismo" nunca leram um livro de história sobre os tão falados anos 20. Não sabem minimamente quem foi Hitler, Mussolini. São puros ignorantes. Artigo de Luís Rosa, redator chefe do Observador:
1 Ponto
prévio: entre Bolsonaro e Lula venha o diabo e escolha. De um lado
temos um presidente autoritário, claramente militarista e com muitas
falhas democráticas, enquanto o concorrente é um ex-presidente que foi
investigado em 11 processos por suspeitas de corrupção e outros crimes
graves mas que beneficiou de absolvições (duas) e de prescrições para se
ver livre das suspeitas.
Certo
é que os resultados da primeira volta, conhecidos esta madrugada,
criaram uma espécie de sentimento anticlímax. Se olharmos para os
jornais nos últimos dias, a vitória de Lula da Silva com mais de metade
dos votos à primeira volta encerrava o tema.
Por
isso mesmo, quase que aposto que vamos assistir nos próximos dias ao
regresso da velha novela favorita da esquerda portuguesa: “O fascismo
vai regressar!”
2
É uma espécie de questão sazonal. Sempre que alguém de direita diz algo
fora da caixa, algo que vai contra o politicamente correto, é
automaticamente apelidado de fascista. Sempre que um partido de direita
chega a um Governo europeu, a probabilidade de o fascismo regressar é
óbvia e inevitável.
É
verdade que a esmagadora maioria dos que enchem a boca com “o fascismo”
e a invetiva “fascista” não sabe do que fala. Nunca leram um livro de
história sobre os tão falados anos 20 do século passado, não sabem
sequer caracterizar o que foi o nazismo alemão ou o fascismo italiano e
espanhol. Não sabem minimamente quem foi Hitler, Mussolini ou Franco.
São ignorantes puros e duros.
Daí que confundam Meloni com Mussolini (leiam o André Abrantes Amaral,
sff) e, em vez de o ignorarem, queiram fazer de André Ventura uma
espécie de Salazar dos pequeninos — o que o líder do Chega agradece.
O José Manuel Fernandes, o Rui Ramos, o João Marques Almeida
já descreveram o objetivo dessa estratégia do PS: focar a agenda em
André Ventura para ajudar o Chega a subir nas sondagens. Quanto mais o
Chega subir, menos hipóteses terá o centro-direita de formar uma
alternativa, o que fará com que o PS seja o verdadeiro e único centro da
vida política portuguesa.
O
objetivo da estratégia da banalização do ‘fascismo’ é fazer com que o
PS seja verdadeiramente indispensável para qualquer Governo. Tão simples
como isso.
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Os principais dirigentes do PS de ignorantes não têm nada. Têm
objetivos políticos misturados com ambições pessoais que, aliados à gula
e à ganância do poder, fazem com que a sua estratégia de banalizar o
fascismo seja perigosa para a democracia.
Veja-se
o caso de Augusto Santos Silva. É cada vez mais claro que quer
concorrer a Belém em 2026 e elegeu o Chega como uma espécie de
passaporte para essa candidatura presidencial. Daí que utilize todas as
oportunidades no Parlamento para entrar em conflito com André Ventura,
arvorando-se em grande defensor da liberdade e da democracia.
Pouco
interessa se com essa estratégia está a dar palco às patetices de
Ventura e a favorecer a sua vitimização. O que interessa a Augusto
Santos Silva é que as televisões e a comunicação social o filmem a tirar
a palavra a Ventura, perante a histeria dos aplausos da esquerda e da
extrema-esquerda parlamentar.
É difícil ser mais oportunista do que isto mas é o que Santos Silva gosta de fazer.
Depois há outros casos, como o do deputado Pedro Delgado Alves. Há uns dias no Twitter,
apelava ao “centro-direita” e aos “democratas liberais de direita” a
uma poupança no uso de “detergente” para que não se classificasse dessa
forma (de “centro-direita”) uma “coligação que inclui Meloni e Salvini”.
Está claro que tem de ser obrigatório o uso da denominação
“extrema-direita” — outra expressão tão banalizada como o “fascismo” que
quase perdeu a sua utilidade.
Aliás,
o tema do Chega e da banalização do que é o fascismo parece uma
especialidade de Delgado Alves. Basta consultar a sua página no Twitter
para percebermos que o deputado interiorizou muito bem as ordens
recebidas.
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Obviamente que o apelo retórico de Delgado Alves (e outros semelhantes
feitas pelas esquerda) não passam de um exemplo sonsice política.
Deduz-se, seguindo o seu raciocínio, que Delgado Alves tenha usado uns
bons litros de detergente quando o PS se aliou com o último partido
comunista relevante da Europa Ocidental.
Onde
estavam as suas preocupações com os valores da democracia e da
liberdade quando o seu partido formou governo com o apoio parlamentar de
uma organização política que apoia às claras ditaduras com a da Coreia
Norte ou de Cuba? Será que Delgado Alves terá sentido a sua militância
em crise quando o PS se aliou a um partido que nunca reconheceu os
crimes do comunismo, nem a ditadura, a tragédia e os diferentes
genocídios representados pela União Soviética?
Onde
estava Delgado Alves quando o seu partido, em nome da conquista
utilitária do poder, se aliou a um partido marxista com o Bloco de
Esquerda? Onde se ouviram as suas críticas ao facto de o PS se coligar
com um partido que combate o sistema capitalista, que sempre elogiou a
Venezuela de Hugo Chavez e que quer construir um sistema alternativo que
nem sabe explicar qual é (mas que não deverá andar longe da Venezuela
atual)?
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Certamente que estava do ‘lado certo’ da força, com umas boas doses de
detergente por perto, apoiando a conquista do poder pelo poder, custasse
o que custasse. Tudo em nome da teoria do ‘derrube do muro’.
Sendo
coerente com uma prática de “custe o que custar” (e certamente
influenciado pelo nível do debate da campanha eleitoral no Brasil),
Pedro Delgado Alves esqueceu-se da sua qualidade de deputado e de
vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS e não achou nada melhor do
que apelidar o presidente brasileiro legitimamente eleito (Jair
Bolsonaro) como um dos “filhos da puta” que não devia ser eleito.
É verdade, como Delgado Alves deixa subentendido, que Bolsonaro elogiou
em 2019 um militar que foi condenado pelo crime de tortura praticado no
tempo de Ditadura. E, repito, algumas das posições de Bolsonaro estão
nos antípodas de um democrata.
Agora,
classificar um Chefe de Estado de um país irmão como “filho da puta” é
de uma violência verbal próxima (ou igual) dos extremistas que Delgado
Alves quer criticar do que de um deputado de um partido moderado como é o
PS. Na prática, Delgado Alves está a ser um bolsonarista.
Depois de ter pedido desculpa pela atitude da deputada ‘‘lápis azul’ Isabel Guerreiro, esperemos que Pedro Delgado Alves não tenha que repetir as declarações em nome próprio.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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