Coluna de Carlos Brickmann, a ser publicada nos jornais de quarta-feira, 18 de maio:
Em
política há certas verdades evidentes por si sós, indesmentíveis. Por
exemplo, o Congresso é quase um retrato do país. Lá há pessoas honestas,
há ladrões, há cultos e incultos, tolerantes e intolerantes, descrentes
e crentes, antipáticos, simpáticos. Só não há burros, porque burro não
chega lá.
Bolsonaro
foi deputado por quase 30 anos – logo, burro não é. Montou um bom
esquema para colocar os filhos mais velhos nas diversas casas
legislativas, garantindo o futuro de todos. Pode-se dizer dele o que se
quiser, grosseiro, inepto, prepotente, demagogo. Mas definitivamente não
é burro.
Então
vale estudar com cuidado sua iniciativa de demitir o almirante Bento
Albuquerque do Ministério de Minas e Energia. Há a evidente pitada de
demagogia, de fingir combater a alta de preços dos combustíveis. Mas há
também outro fator: o imenso gasoduto do Nordeste, que deve custar R$
100 bilhões em dinheiro público para beneficiar empresários privados.
Destes, o mais visível é Carlos Suarez (que era o S da OAS), dono de
oito concessões para distribuição de gás no Nordeste. Mas há muito mais
gente a ganhar com a obra – que, hoje, é a grande reivindicação do
Centrão. A empresa de Suarez leva o gás pelo Centrãoduto até cada
região, onde há empresários que fazem a distribuição a varejo. Há as
obras, há de tudo.
Há
oportunidades imensas, o que é ótimo – mas só se investe dinheiro
público, em princípio da PPSA, a Pré-Sal Petróleo, comandada pelo
Ministério de Minas e Energia.
E o almirante?
Bento
Albuquerque não quis pagar o gasoduto. Por que os empresários não
investem, se irão lucrar? O almirante foi secretário de Ciência,
Tecnologia e Inovação e diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e
Tecnológico da Marinha.
Se é para investir, por que não nos submarinos?
Bolsonaro com Putin
Os
investimentos nos submarinos (oito convencionais e um de propulsão
nuclear) se ligam com a visita de Bolsonaro a Putin, dias antes da
invasão da Ucrânia. A ocasião errada levou Bolsonaro a falar bobagem.
Mas o objetivo real era obter dos russos algo essencial ao submarino
nuclear, e que os EUA nos têm negado: como transformar a energia do
reator em propulsão.
Um
só submarino de propulsão nuclear multiplica o poderio do país. Podendo
ficar submerso por longos períodos, não é detectável, e pode retaliar,
com armas convencionais, quem quer que ataque o Brasil. O almirante
prefere que o investimento que o Centrão quer no gasoduto seja feito no
submarino. No nuclear ou nos convencionais, que também estão sem verbas.
Esperando
O
primeiro submarino convencional aqui construído está quase pronto. Já
navega e deveria ser entregue no começo do ano. Mas faltaram detalhes
(que, aliás, continuam faltando: o principal é o sistema de ancoragem).
Faltam verbas. A entrega está prevista, agora, para a segunda quinzena
de junho.
Deve
ser desagradável para Bolsonaro ter no Ministério um almirante de alta
qualificação querendo desenvolver nosso poder naval e atrapalhando os
projetos do Centrão de desenvolver seu poder eleitoral. Pense no pessoal
do Centrão. Pense agora na festa que fariam com cem bilhões de reais.
Festa e campanha
Lula
e Rosângela, Janja, se casam hoje em São Paulo, com festa para 200
pessoas. É casamento, mas faz parte da campanha: como ele mesmo disse no
lançamento de sua chapa com Alckmin, “um cara que tem 76 anos e está
apaixonado, que está querendo casar, só pode fazer o bem para este
país”. E nas redes sociais postou mensagens eleitorais e de amor.
Exemplo: “Estou apaixonado e vou casar para mostrar minha confiança no futuro deste país”.
O véu dos noivos
Lula
tenta, na medida do possível, garantir certa privacidade em seu
casamento – como se isso fosse possível com 200 convidados, como se isso
fosse possível quando o noivo é o ídolo de boa parte da população do
país. Pede, por exemplo, que ninguém entre na festa com celulares; não
divulgou o lugar em que ocorrerão cerimônia e festa; não divulgou o que
será servido aos convidados.
Resultado:
já há versões circulando na Internet com marcas de bons espumantes
espanhóis, uísques, onze mesas de alimentos, divididas por origem:
árabe, nordestina, japonesa, chinesa, frutos do mar, etc. Se a versão
correta não vazar, vai prevalecer a versão dada por quem não esteve lá. E
nesta versão, por exemplo, só há bebidas caras: nem se fala na marvada.
Acredite se quiser
A
Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprovou
projeto de lei apresentado pela então deputada e pastora Flordelis dos
Santos Souza, que institui o 15 de Maio como Dia Nacional do
Apadrinhamento Afetivo. Flordelis está presa, acusada do assassínio
triplamente qualificado de seu marido, o pastor Anderson do Carmo. (Ver
mais no excelente site jurídico Espaço Vital - www.espacovital.com.br).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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