A “linguagem neutra” tem as mesmas possibilidades de sucesso que o esperanto e demais tentativas de se criar línguas artificiais. O que impressiona, mesmo, é o tamanho da farsa. J. R. Guzzo para a Gazeta do Povo:
A
linguagem “neutra”, que tanto encanta burocratas de RH, gerentes de
marketing inclusivos e demais devotos de “pautas” definidas por eles
mesmos como “progressistas”, é um tipo de estupidez francamente incomum.
Em geral, esse tipo de anomalia germina nos lixões mentais onde se
cultivam e se colhem as ideias vadias. No caso, porém, a mania de
eliminar o feminino e o masculino da gramática portuguesa vem de onde se
espera que venha justamente o contrário – as escolas secundárias e as
universidades, cujo dever perante a sociedade é promover o avanço do
conhecimento, da cultura e da lógica. É para isso que são pagas. Se for
para propagar o erro e a ignorância, elas perdem o sentido. É o que está
acontecendo.
A
linguagem do “todes” e do “iles”, que tanto prospera hoje em dia nas
cerimônias de formatura de universidades e no credo ideológico de
escolas de gente rica, é antes de tudo um erro de português – seria mais
o menos como ensinar, na aritmética, que 2 + 2 são 22, ou que o ângulo
reto ferve a 90 graus. Não há, realmente, como sair disso: usar o
feminino e o masculino é um requisito fundamental do português, idioma
oficial do Brasil e, mais do que tudo, a língua que o povo brasileiro
fala no seu dia a dia, de maneira livre, natural e sem nenhuma imposição
vinda de cima ou de fora.
O
cidadão fala o português da maneira como aprende em casa, como lhe vem à
cabeça e como está acostumado a falar em sua vida: não pode,
simplesmente, ser obrigado a falar de um modo diferente. Querer impor o
contrário é uma violência. Acima de tudo, é contra a lógica. Nossos
catedráticos e outros altos pedagogos querem que os bebês sejam chamados
de ”menines”. Tudo bem: mas é menino ou menina? Xeque-mate.
Fica,
desde logo, um problema insolúvel: por acaso as escolas e as
universidades vão passar a reprovar, nos exames, os alunos que
escreverem ou falarem o português correto? Os devotos da “abolição de
gêneros” não admitem que se chame uma mulher de “ela” e um homem de
“ele”, mas nos manuais de gramática portuguesa está escrito que é isso,
exatamente isso, o que as pessoas devem fazer, se quiserem se expressar
no idioma nacional.
Como
é que fica, então? Os militantes da “linguagem neutra” vão chamar o
Ministério Público para processar criminalmente os infratores por atos
contra a democracia, o igualitarismo e as “causas identitárias”? Ou,
pior ainda, por “homofobia” – crime “equivalente ao racismo”? Será que
vão apresentar um projeto de lei no Congresso para impor a sua nova
língua à população?
Tudo
isso é um completo absurdo, mas é assim que os responsáveis pelas
universidades e escolas secundárias querem que seja. Não vão conseguir, é
claro. O que chama a atenção, nessa história toda, não é o efeito
concreto da fantasia que querem impor; ninguém vai começar a falar
“ile”, “bem vinde” e outras cretinices do mesmo tipo, porque ninguém
consegue obrigar um povo a falar uma língua que não é a sua.
Língua
não é produto de alguma cerebração intelectual processada em agências
de publicidade, e sim da vontade, da prática e da inclinação da
população em falar de uma determinada maneira. A “linguagem neutra”,
nesse sentido, tem as mesmas possibilidades de sucesso que o esperanto, e
demais tentativas de se criar línguas artificiais. O que impressiona,
mesmo, é o tamanho da farsa.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário