Acordo beneficia manejadores ribeirinhos e indígenas, e amplia o acesso do pirarucu selvagem para consumidores
Para
ampliar o consumo do pirarucu selvagem de manejo sustentável em todo o
Brasil, o Gosto da Amazônia, a Associação dos Produtores Rurais de
Carauari (ASPROC) e o GPA, um dos maiores grupos de varejo alimentar do
Brasil, formalizaram parceria para a comercialização do peixe em lojas
da rede Pão de Açúcar. A iniciativa disponibiliza para venda filés de
pirarucu processado, resultado do trabalho de famílias manejadoras
situadas na região amazônica. Atualmente, 15 lojas do grupo já
comercializam o produto.
A
parceria com o Pão de Açúcar faz parte da estratégia do Gosto da
Amazônia, que tem o objetivo de viabilizar a comercialização conjunta do
pirarucu de manejo para mercados além da Amazônia, por meio de ações de
promoção do produto, relacionamento com chefs, restaurantes, pontos de
venda e apoio à logística de distribuição. A marca coletiva é fruto de
um arranjo comercial inovador liderado pela ASPROC, que garante a
comercialização do pirarucu a um preço justo para os manejadores.
De
acordo com o responsável pela área de marketing do Gosto da Amazônia,
Sérgio Abdon, a nova parceria ajuda a trazer segurança para os
manejadores. “O Pão de Açúcar é uma marca conhecida no mercado,
associada à qualidade e capilaridade, presente em vários lugares, para
uma quantidade significativa de consumidores com poder de compra. Para o
manejador, é uma garantia de que o produto que ele está manejando
estará acessível para consumo. Isso traz para a cadeia um nível de
segurança interessante”, afirma.
“Já
o consumidor se beneficia porque poderá comprar o pirarucu perto de
casa e preparar suas próprias receitas, além dos pratos com o peixe que
já são encontrados em vários restaurantes do país. Assim, conseguimos
encurtar caminhos e fazer com que mais pessoas possam experimentar o
produto e ajudar na conservação da Amazônia”, completa Sérgio.
Para
o diretor financeiro da ASPROC, Manoel Siqueira, a parceria com o GPA é
o resultado da mobilização da rede de manejadores para a valorização e
fortalecimento da cadeia do pirarucu. “O arranjo comercial liderado pela
ASPROC resultou, entre outras iniciativas, no Gosto da Amazônia, que
possibilitou ao nosso produto alcançar mercados além da nossa região.
Por meio desse arranjo, conseguimos comercializar anualmente
aproximadamente 300 toneladas de pirarucu, com preço 60% maior que o
valor médio praticado nos mercados locais. Isso fortalece o trabalho
realizado pelas famílias e traz segurança financeira para quem se dedica
ao manejo sustentável”, informa Manoel.
O
gerente comercial de peixaria do GPA, Marcos Galvão, explica que a
parceria faz parte da estratégia de sustentabilidade da companhia. “O
trabalho foi impulsionado pela elaboração da Política Socioambiental de
Compras de Pescados, lançada pelo grupo, no ano passado, que tem como
objetivo aumentar a participação de produtos provenientes de produção
sustentável dentro do negócio, com dois focos: fomento à pequena
produção sustentável, a partir do modo e da organização que produz,
contribuindo com a conservação da floresta; e a diversificação de
consumo de espécies menos conhecidas, o que reduz o impacto nos recursos
pesqueiros”, diz.
Marcos
acrescenta que o compromisso e protagonismo em ESG (do inglês,
Environmental, Social and Governance) da bandeira Pão de Açúcar são um
grande diferencial e ponto de identificação dos clientes da rede -
fatores que são fortalecidos por meio da parceria de iniciativas como a
Gosto da Amazônia. “A parceria com a Gosto da Amazônia agrega para o
consumidor, já que, além da oferta de um produto de impacto
socioambiental positivo, o filé de pirarucu é uma ótima opção de peixe
versátil, saudável e de sabor excelente. Dessa forma, acreditamos que a novidade, assim, como a parceria, serão bem-recebidas pelos clientes da rede”, finaliza.
Rede de manejadores
A
marca coletiva Gosto da Amazônia foi criada pelo Coletivo do Pirarucu,
uma rede de pescadores indígenas e ribeirinhos manejadores de pirarucu
das bacias dos rios Negro, Solimões, Juruá e Purus, no Amazonas, e seus
parceiros, governamentais e não governamentais. A marca coletiva nasceu
em 2019 para expandir a venda do pirarucu de manejo fora da Amazônia,
com a abertura e consolidação de mercados em cidades como Rio de
Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Recife.
A
iniciativa faz parte do projeto Cadeia de Valor Sustentáveis, fruto de
um acordo de cooperação internacional entre a Agência dos Estados Unidos
para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e o governo brasileiro,
que atua para solucionar os gargalos de quatro produtos extrativistas da
sociobiodiversidade: castanha-da-Amazônia, pirarucu, açaí e madeira de
manejo comunitário.
O
assessor da ASPROC e presidente do Memorial Chico Mendes, Adevaldo Dias
destaca que a marca Gosto da Amazônia foi uma criação das comunidades
extrativistas do manejo do pirarucu que proporciona, principalmente, uma
relação mais justa entre os compradores do pescado e a comunidade.
“Quando
você consome o pirarucu do Gosto da Amazônia, você tem a plena certeza
que está consumindo um produto que não tem relação de trabalho escravo
na cadeia. Porque a própria comunidade ribeirinha ou indígena fez a
pesca, a própria comunidade preserva a sua área e a própria comunidade
vende o seu produto. O segundo aspecto é a questão da conservação do
território. Todo peixe que é comercializado pelo Gosto da Amazônia tem o
acompanhamento dos órgãos responsáveis, como o Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), e é
acompanhado de um documento de origem, garantindo que esse peixe veio da
comunidade e a venda está devidamente autorizada, respeitando a
capacidade de suporte do produto. Além disso, o terceiro aspecto é a
qualidade. O peixe do Gosto da Amazônia tem um padrão de qualidade
diferenciado, isso permite que a gente forneça o pirarucu durante o ano
todo sem perder a qualidade”. Dias, também, participou do processo de
criação e comercialização do pirarucu do Gosto da Amazônia.
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