BLOG ORLANDO TAMBOSI
O Encontro na Argentina mostra que o tiranete venezuelano tem dificuldades para sair da lista dos párias e reentrar pela porta da frente da diplomacia. Vilma Gryzinski:
“Qualquer
venezuelano conta como o regime se sustentou com o narcotráfico depois
da queda dos preços do petróleo”, rugiu Patricia Bullrich, líder
política argentina que compra brigas o tempo todo.
Patricia,
do partido Proposta Republicana (PRO), integrante da frente de
oposição, quer ser presidente e aproveitou a chance da vergonhosa visita
de Nicolás Maduro
à Argentina para agitar as águas, sugerindo ao DEA, o departamento de
combate às drogas dos Estados Unidos, que aproveitasse para pedir a
prisão e extradição do tiranete venezuelano.
“Já
que existe um pedido de captura por participação no Cartel dos Sóis”,
espicaçou, referindo-se à organização de tráfico de drogas, ouro e
pedras preciosas comandada por altas patentes do Exército venezuelano –
no caso, o sol é o emblema que brilha nos ombros dos generais de brigada
que venderam a alma e a honra.
Estar na lista de procurados e sancionados já tirou Maduro da posse do presidente Lula
– ironicamente, por não poder reabastecer o avião, sob pena de punição
dos Estados Unidos a empresas que o fizessem, o que faz o homem no
controle das maiores reservas de petróleo do mundo não poder parar num
posto de gasolina quando no exterior. Agora, passou mais um carão,
inventando um “plano para agredi-lo”.
Assustado com atitudes como a de Patricia Bullrich, Maduro amarelou.
A viagem frustrada não elimina o fato de que está em marcha uma vergonhosa operação para reabilitar Nicolás Maduro.
Os salamaleques do fracassado governo de Alberto Fernández
a ditadores como o déspota venezuelano e o cubano Miguel Díaz Canel não
eram tão ostensivos quando ele iniciou seu mandato, procurando manter
uma imagem menos escrachada do que a dos Kirchner, beneficiados com as
infames sacolas de dinheiro vivo provenientes de Caracas, e uma postura
de defesa dos valores democráticos, independentemente da tendência
ideológica.
Durou
pouco. A esquerda está se sentindo poderosa com o novo presidente do
Brasil e o novo presidente está indo mais ainda para a esquerda. Abraçar
Nicolás Maduro logo na sua primeira viagem ao exterior seria o ato
simbólico da reabilitação do pária.
O
abraço vai acabar acontecendo, de uma maneira ou de outra, um vexame
por qualquer critério que se utilize. A conexão com o narcotráfico eleva
o déspota venezuelano vários degraus acima do infelizmente habitual
prontuário de total desrespeito aos direitos humanos e às instituições
democráticas dos ditadores de turno. Não que esse seja desprezível: ele é
acusados de crimes de lesa humanidade, com uma lista de mais de nove
mil execuções extrajudiciais. A título de comparação: a Comissão
Nacional da Verdade apurou 434 mortos pela ditadura brasileira.
O
novo governo brasileiro poderia retomar as relações diplomáticas, de
acordo com suas propostas e sua orientação ideológica, sem encontros
diretos e outros gestos diretamente dirigidos aos Estados Unidos.
Abraçar Maduro é, literalmente, endossar tudo o que ele representa. Numa
declaração torpe, o novo presidente tentou estabelecer um paralelo
entre um crime internacional com as dimensões da invasão da Ucrânia e as
sanções contra o bolivariano. Suas palavras: “Da mesma forma que eu sou
contra a ocupação territorial, como a Rússia fez à Ucrânia, sou contra
muita ingerência no processo da Venezuela”.
Outro
sinal de hostilidade aos Estados Unidos: os dois navios de guerra do
Irã que vão aportar proximamente no Rio de Janeiro. As embarcações estão
participando de uma extensa missão que as levará, pioneiramente, ao
Canal do Panamá. A meta foi bem explicitada pela agência oficial de
notícias: “Uma viagem histórica com o objetivo de mostrar o crescente
poderio militar e naval da República Islâmica do Irã”.
Reabilitar
Maduro e abrir os portos ao Irã não são sinais de política externa
independente, mas de política externa histriônica, com o ridículo que
tais gestos revelam: impulsos raivosos que certamente não farão a
diplomacia americana perder o sono.
Fortalecer
o comércio com os latino-americanos é um objetivo positivo e até a
moeda comum com a Argentina, se conduzida de maneira inteligente e não
autodestrutiva, poderia trazer vantagens.
Se
ficar na esfera do antiamericanismo infantil, pode cair na comédia,
como o famoso plano made in Brazil que iria colocar o Irã fora da rota
das armas nucleares.
Ninguém
quer que a moeda sul-americana se inspire na posição geográfica de
nosso continente e na economia mais forte da região e seja chamada de
surreal.
E
nem uma única pessoa coerente com os ideais de esquerda pode endossar
as cortesias dirigidas a Nicolás Maduro e o que ele representa em
matéria de corrupção, narcotráfico, abusos contra os direitos humanos e
extensiva destruição do próprio país.
O
“plano elaborado no interior da direita neofascista com o objetivo de
realizar uma série de agressões contra nossa delegação” é o que em
países normais se chama de manifestações oposicionistas de protesto
contra a presença de uma persona extremamente non grata, mesmo que os
dirigentes nacionais se desdobrem em gentilezas diante dele.
Muito bem, argentinos.
Postado há 12 hours ago por Orlando Tambosi
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