MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 9 de outubro de 2022

Uma fábula eleitoral, com o Brasil que sonhou ser como Portugal, mas acordou na Turquia

 



Bolsonaro e Mourão esticam feriado e têm agenda vazia

Com apoio total de Mourão, Bolsonaro quer controlar o STF

Vinicius Torres Freire
Folha

No domingo do primeiro turno, uma parte bem-pensante do país acordou sonhando que poderia viver em uma espécie de Portugal e sua geringonça social-democrática. Foi dormir temendo que talvez more em um lugar propenso a se tornar uma Turquia autocrática, ao menos dado a votar de modo conservador e religioso.

As pesquisas mais ajustadas de voto no segundo turno e os resultados mais mastigados do primeiro turno delineiam melhor esse quadro descrito aqui com a pena da galhofa: não somos Portugal ou Turquia. Mas deve ter dado para entender a metáfora.

PARA ENTENDER MELHOR – Quem ainda não entendeu, ouça Hamilton Mourão (Republicanos), vice de Bolsonaro. Recém-eleito senador pelo Rio Grande do Sul, defendeu a mudança da composição do Supremo. Jair Bolsonaro (PL) foi na mesma linha. Já reiterou também que quer um STF “cristão”. “Vai vendo”, como diz o povo.

Bolsonaro estava agradando mais do que se imaginava. A nota do seu governo está no nível mais alto da série de pesquisas do Datafolha: 37% de “ótimo/bom”. Era a aprovação que tinha na vigência do auxílio emergencial, no segundo semestre de 2020.

O saldo da avaliação ainda é negativo, pois o governo tem 40% de “ruim/péssimo”. Mas, no trimestre final de 2021, baixara a 53% de “ruim/péssimo”. A miséria explodiu no 2021 sem auxílio e sem emprego, no pior do morticínio da epidemia, essa esquecida.

RECUPERAÇÃO – Com o aumento rápido do número de empregos, no começo deste ano, Bolsonaro se recuperou, bem mais do que se supunha. Mas a economia da vida cotidiana, emprego e inflação, não parece explicar muito desta eleição. Por falar em outros assuntos, registre-se que, neste segundo turno, Bolsonaro bate Lula por 66% a 34% entre os evangélicos.

Entre aqueles que declaram ter renda familiar mensal acima de 2 salários mínimos, Bolsonaro vence a eleição. Essas pessoas são “ricas” apenas na estatística fria de estratificação por renda. Muitas delas querem plano de saúde, não o SUS. Desconfiam do Estado. Querem empreender.

De resto, boa parte do povo parece não ter se importado com as reformas da Previdência ou a trabalhista, cavalos de batalhas perdidas da esquerda. Pelo menos, quase metade vota em quem as defendeu.

OPOSIÇÃO FRACASSA – Lula da Silva (PT) vai até agora barrando um resultado ainda melhor de Bolsonaro, mas outros números mostram o relativo fracasso da oposição.

Esquerda e assemelhados costumam ter algo entre um quarto ou pouco mais dos votos para deputado federal. Em 2018, tiveram 29,1%. Em 2022, baixaram para 26,2%, em particular por causa de PSB e PDT. O PT cresceu, mas de 10,3% para 11,3%. Com Lula puxando voto, com as atrocidades de Bolsonaro, com pobreza enorme, com tudo, cresceu apenas isso.

Claro, faz tempo que a política local é dominada por sublegendas do centrão. A esquerda ou coisa que o valha jamais conseguiu falar com esse Brasil profundo —e nem mesmo o PSDB de tempos melhores o fez. Lula falava, ainda fala. FHC e seu Plano Real conversaram com essas pessoas. Seus partidos, muitíssimo menos.

CENTRÃO REINA – A diferença desta eleição é que as sublegendas do centrão se tornaram protagonistas, são mais direitistas e tiveram ainda mais eleitores. O blocão PL, União Brasil, PP e Republicanos teve 41,4% dos votos para a Câmara, aumento de quase 29% ante 2018.

Como disse Arthur Lira (PP-AL), príncipe do centrão e um dos regentes bolsonarianos, o Congresso eleito “foi feito para a permanência, a manutenção do governo Bolsonaro para os próximos quatro anos”.

Uma vitória de Lula bagunça esse cenário, óbvio. Mas o petista e a esquerda jogariam o restante do campeonato na retranca. Precisam de um novo esquema tático e estratégico.

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