Renato Alban
A TARDEProfissionais como René e Diva se tornaram mais comuns em Salvador nos últimos dez anos. De 2003 para 2013, o percentual de pessoas com mais de 50 anos ativas subiu de 13,8% para 22% na capital e região metropolitana, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. O fenômeno foi motivado pelo descompasso entre o crescimento econômico do Brasil e o volume de mão de obra qualificada. "O mercado usou duas boas estratégias: a manutenção de funcionários de mais idade e a contratação de pessoas nesse perfil para novas vagas", diz o coordenador regional do IBGE, Joilson Rodrigues.
"Na construção civil, por exemplo, teve muita gente madura que foi convocada a retornar ao mercado pela carência de profissionais". Esse foi o caso de René, que recebeu da atual empresa a oportunidade de trabalhar em casa. Diferentemente da situação do gerente e corretor, métodos para reter funcionários mais experientes, como redução de carga horária e home office, não são comuns no País. Apenas três em cada dez empresas oferecem a possibilidade de profissionais trabalharem meio período e 43% das companhias não permitem o home office. Os dados são de pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) com a PwC com gestores de 108 empresas.
"O olhar da sociedade brasileira ainda é muito voltado para o jovem, como promessa e solução", diz o coordenador regional do IBGE. Entre os pontos positivos dos profissionais mais velhos indicados no estudo estão a maior expertise, tanto do ponto de vista técnico quanto comportamental, o comprometimento e o senso de responsabilidade com o trabalho.
Para Rodrigues, o empresariado ainda não considera a tendência ao envelhecimento do Brasil. A estimativa do IBGE é que o número de brasileiros com mais de 65 anos seja quatro vezes maior em 2060. O aumento da expectativa de vida é um dos fatores que atrasam a saída dos idosos do mercado. O técnico eletricista Jurandir Melo, 71, já está aposentado há 20 anos, mas nem cogita largar o trabalho. "É aquela velha história. Na minha idade, se a pessoa parar, enferruja", brinca.
Os idosos, diz Rodrigues, são o caminho para manter o equilíbrio da economia. "Temos que sobrequalificar esses profissionais e criar cargos para eles". Esse pensamento ainda não é unânime no País, que ficou na 68ª posição no ranking da ONG HelpAge International no quesito emprego e educação para idosos. A lista, com 91 nações, foi divulgada na semana passada, quando o Estatuto do Idoso completou dez anos. Promulgado no Dia Mundial do Idoso, 1º de outubro, o documento proíbe a discriminação por idade no trabalho e a possibilidade da fixação de limite máximo de idade em processos seletivos.
Para a gerente de consultoria da Performance, Melina Bastos, algumas empresas já enxergam o potencial de seus profissionais mais experientes, colocando-os em postos de liderança. É o caso de Artur Borges Filho, 70. Há 56 anos no varejo de materiais elétricos, ele continua trabalhando como gerente e usa o salário para complementar a aposentadoria. "Eu pagava sobre seis salários e hoje recebo de dois a três", lamenta.
Apesar da iniciativa de algumas companhias em ter idosos na equipe, elas são minoria. Apenas 20% das empresas contratam profissionais aposentados, segundo levantamento da consultoria Hays. Além disso, Milena afirma que elas exploram pouco os profissionais mais velhos na função de tutor. De acordo com a pesquisa da FGV e PwC, seis em cada dez empresas não têm atividades recorrentes de integração entre profissionais mais velhos e mais jovens. Com 58 anos de experiência, René revela que o contato com os recém-chegados foi uma de suas contribuições às empresas por onde passou. "Muitos já aprenderam a trabalhar comigo e são gratos por isso".
Como continuar no mercado
Tecnologia - A dificuldade em lidar com novas tecnologias é apontada por 80% das empresas como ponto negativo de profissionais mais velhos, segundo estudo da FGV e PwC. Fazer um curso na área pode ser um diferencialIdiomas - Saber outros idiomas é pré-requisito em algumas empresas, o que não era tão comum no passado. Para tirar o atraso, os idosos podem fazer cursos de línguas
Flexibilidade - Compreender e se adaptar a mudanças da empresa é fundamental, mas, em contrapartida, as companhias devem ser flexíveis, oferecendo a possibilidade de home office ou de redução da carga de trabalho aos mais experientes
Nenhum comentário:
Postar um comentário