BLOG ORLANDO TAMBOSI
A ideia de Forças Armadas atuantes como poder moderador é apenas uma perversão autoritária que ganhou corpo difundida durante o governo de Jair Bolsonaro. Guilherme Macalossi para a Gazeta do Povo:
É
de Samuel P. Hungtinton a melhor teoria política sobre o papel das
Forças Armadas nas democracias ocidentais. Segundo o filósofo
conservador americano, militares não contam votos, não participam da
vida político-partidária, não opinam sobre os rumos do país, muito menos
tutelam a vida nacional como uma sombra a pairar sobre tanques.
Protegem as fronteiras, guardam a integridade do território e da
população, defendem os poderes constituídos e obedecem a Constituição.
Hungtinton estabeleceu essa linha de corte para advogar em favor da
maximização do controle civil.
A
ideia de Forças Armadas atuantes como poder moderador é apenas uma
perversão autoritária que ganhou escopo difundida durante o governo de
Jair Bolsonaro. O ex-presidente contribuiu para criar tal percepção
dando a quadros da corporação cargos e posições políticas dentro da
estrutura de Estado. Mas não apenas isso. Em mais de uma ocasião ele
mesmo as tratou como detentoras de uma atribuição que jamais tiveram,
incluindo o crivo sobre a segurança do processo eleitoral.
Muitos
oficiais estrelados passaram achar que lhes cabia, se não a palavra
final sobre a legitimidade do resultado da eleição e posse de um novo
governo, ao menos uma autoridade paralela de maneira a emparedar quem
tomasse posse. E foi assim que chegamos à troca do comando do Exército
ocorrida no final de semana.
A
demissão do general Júlio César de Arruda é resultante de uma crescente
desconfiança do novo presidente em relação à atuação da corporação
antes, durante e, principalmente, depois dos atos antidemocráticos que
culminaram na depredação da sede dos Três Poderes.
Arruda
parecia criar empecilhos para que o acampamento na frente do
quartel-general do Exército em Brasília fosse desmanchado. Foi pouco
prestativo na punição de militares envolvidos nos ataques. Também se
envolveu em uma dura discussão com Flávio Dino, ministro da Justiça,
sobre a prisão dos militantes envolvidos nos atos do dia 8. A gota final
foi sua recusa em cumprir a ordem de Lula para que o tenente-coronel
Mauro Cid, ex-ajudante de Bolsonaro, fosse designado para uma unidade
das Operações Especiais. Com isso, o clima que já era difícil se tornou
insustentável.
Lula
atuou para restabelecer a hierarquia e conter a insubordinação. No
lugar de Arruda colocou o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, que estava
à frente do Comando Militar do Sudeste. Essa semana, o novo responsável
pelo Exército viralizou com um discurso no Quartel-General Integrado,
em São Paulo. Falando para a tropa, conclamou seus subordinados a
respeitarem o resultado das urnas e lembrar que sua instituição é do
Estado.
É
bem provável o general Paiva tenha lido Hungtinton, ou ao menos não o
despreze. Mas isso é o de menos. O que importa é que sua manifestação
altiva em favor dos marcos da democracia representa a oxigenação na
conduta dos altos oficiais das Forças Armadas. Que ele sinalize
positivamente em favor de suas reais funções, atue para depurar quadros
transgressores, e, principalmente, conscientize seus comandados que, no
momento, a grande missão patriótica dos militares é voltar para a
caserna.
Postado há 23 hours ago por Orlando Tambosi
Nenhum comentário:
Postar um comentário