Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais desta quarta-feira:
A
malandragem ocorreu no século passado e tinha um objetivo limitado:
garantir a reeleição de Fernando Henrique. Mas esqueceram de combinar
com os russos que o objetivo seria só esse. A reeleição acabou virando
algo normal e causando consequências imprevistas: ao tomar posse, o
presidente já se preocupa apenas em reeleger-se. E todo seu mandato é
voltado para conquistar outro mandato. Governar direito para que?
Nos
Estados Unidos, com instituições bem mais sólidas, a tentativa de
reeleição de Donald Trump gerou uma crise que põe em risco a
estabilidade democrática. No Brasil, a tentativa de reeleição de
Bolsonaro já provocou despesas de alguns bilhões de reais, que um dia
terão de ser pagos – e já se sabe de onde vai sair a dinheirama. O caro
leitor pode preparar os bolsos.
É
essencial eliminar essa coisa absurda. Mas como eliminar essa coisa
absurda? É dificílimo: atende a toda a politicagem e prejudica apenas a
população. Mas o eleitor é apenas um detalhe.
Faça
uma conta de cabeça: um auxílio de R$ 600,00, válido apenas até as
eleições. Liberação de empréstimo consignado que onera as aposentadorias
por muitos e muitos anos. Intervenção na política de preços e de
distribuição de gigantescos dividendos da Petrobras que pode gerar
processos milionários na Bolsa de Nova York. Mas qual o problema?
Quem ganha não paga, quem paga não ganha.
Sem fantasia
A
bancada bolsonarista obteve ampla maioria tanto na Câmara dos Deputados
quanto no Senado. E se Lula for eleito, como fará para conseguir
governar, tendo contra si as duas casas do Congresso?
A vida como ela é
Não
se preocupe: Lula não terá contra si as duas casas do Congresso. Não é
assim que as coisas funcionam. Em menos de uma semana já estará tudo
acertado. O Centrão inteiro já apoiou Fernando Henrique, Lula, Dilma e
Bolsonaro. Ninguém se sentirá constrangido de mudar de lado mais uma
vez. E, se alguém quiser se explicar, há belas palavras:
governabilidade, interesse público, coalizão, estabilidade
institucional.
Largar o osso, jamais.
Lealdade
Enquanto
os dois candidatos anunciam adesões, o presidente Bolsonaro perde o
apoio de um fiel aliado, o senador Romário, do Rio. Motivo: Bolsonaro
fez campanha por Daniel Silveira, de outro partido – aquele que quebrou a
placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco e desafiou o
Supremo Tribunal Federal, e que é inelegível.
Romário
não fará campanha para Lula, mas não tem a menor intenção de se mexer
por Bolsonaro. O governador do Rio tentou modificar a posição de
Romário, mas não teve êxito.
Por pouco
Bolsonaro
correu o risco de perder o apoio da senadora eleita Tereza Cristina,
sua ex-ministra, por motivo semelhante. Ela apoiava um candidato a
governador, com respaldo de Bolsonaro. De repente, Bolsonaro mudou de
lado. Tereza Cristina interferiu, Bolsonaro voltou atrás. Não houve
sequelas: a campanha continua normalmente.
Voto misto
Dois
políticos paulistas, adversários a vida inteira, fizeram a mesma
declaração de voto: Delfim Netto e José Serra estão com Lula presidente e
Tarcisio governador de São Paulo. Nenhum dos dois é fã de Tarcisio, mas
ambos fazem restrições a Haddad.
Puxando para o centro 1
Lula
continua sem apresentar seu plano de governo, mas tudo indica que
escolherá um ministro ortodoxo na área econômica – alguém como Henrique
Meirelles, que aliás foi seu presidente do Banco Central por oito anos. O
nome pode não ser Meirelles, mas alguém de sua mesma linha.
Puxando para o centro 2
Um
palpite: se Lula for eleito, o vice Alckmin terá papel ativo, e não só o
de ficar na expectativa. Poderia ocupar um ministério ou se encarregar
de missões específicas.
Sigilo
O
Ministério da Defesa conferiu o sistema eletrônico e concluiu que não
houve qualquer irregularidade no primeiro turno. O presidente Bolsonaro,
que defende tese contrária, proibiu a divulgação do relatório. Mas o
ministro da Defesa, general Paulo Sérgio de Oliveira, já tinha divulgado
informações sobre o assunto.
A
questão não está encerrada: o TCU já solicitou ao Ministério da Defesa
uma cópia do relatório oficial. De qualquer forma, é difícil que haja
informações completas antes do segundo turno.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário