Pedro do Coutto
Numa entrevista a Anna Virginia Balloussier, Folha de S. Paulo desta quarta-feira, o cardeal arcebispo de S.Paulo, Dom Odilo Scherer, afirmou que candidatos se arriscam a levar rasteira por não darem atenção ao eleitorado católico.
Os evangélicos, frisou, talvez não cheguem a 30% do eleitorado do país. “É preciso ter cuidado os que não dão atenção ao outro lado, pois o eleitorado católico, em geral, é tido como o mais tranquilo, enquanto o evangélico tem posição tomada. O eleitor católico é vasto e pluralista”, disse.
RESPOSTA – Sem dúvida, as afirmações de Dom Odilo Scherer são uma resposta tanto indireta quanto direta à movimentação de candidatos pelos eleitores e eleitores protestantes. Inclusive, digo, uma das diferenças essenciais que separam o pensamento católico do pensamento protestante encontra-se na adoração de santos, o que não existe nas correntes protestantes, entre estas, os luteranos, presbiterianos, batistas e integrantes da Assembleia de Deus.
Esse aspecto pode gerar contrastes quanto à presença do presidente Bolsonaro nas comemorações do Círio de Nazaré e de Nossa Senhora da Aparecida. Na entrevista a Anna Virginia Balloussier, Dom Odilo Scherer acentuou que onde há fanatismo perde-se a lucidez, e o mesmo se aplica às posições extremadas. “Estamos precisando justamente acalmar os ânimos e não entrar nesse jogo”, afirmou.
CNBB – A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ,em documento divulgado na tarde de terça-feira, condenou o uso da campanha eleitoral na tentativa de exploração da fé para ganhar votos.
“Lamentamos, neste momento de campanha eleitoral, a intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno. Momentos especificamente religiosos não podem ser usados por candidatos para apresentarem suas propostas de campanha e demais assuntos relacionados às eleições. Desse modo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lamenta e reprova tais ações e comportamentos.”
Por seu turno, Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida, manifestou-se citando diretamente o presidente Jair Bolsonaro cuja presença fora anunciada para a consagração de Nossa Senhora Aparecida, o que levou o arcebispo a afirmar que o evento paralelo à consagração não é organizado pelo Santuário nacional e nem tem a anuência dele próprio, arcebispo.
SEM VÍNCULO – Reportagem de Jéssica Marques, O Globo, focaliza o assunto e informa que o evento fora do Santuário é promovido pelo Centro Dom Bosco, um grupo sem vínculo com a Arquidiocese. A Prefeitura de Aparecida informou sobre a presença do presidente da República.
No sábado, Bolsonaro esteve nos festejos do Círio de Nazaré e sua presença em celebrações importantes do calendário da Igreja Católica, acrescenta Jéssica Marques, tem causado incômodo na cúpula do episcopado que identifica tentativa de uso político. Os bispos da CNBB afirmam que a manipulação religiosa desvirtua valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que precisam ser debatidos e enfrentados no país.
O documento da CNBB acrescenta que momentos especificamente religiosos não podem ser usados por candidatos para apresentarem suas propostas de campanha e demais assuntos relacionados à eleição. A CNBB condena veementemente o uso da religião por todo e qualquer candidato como ferramenta de sua campanha eleitoral.
PESQUISA – A pesquisa do Datafolha, que deve ser divulgada no final da tarde desta quinta-feira, não deve abranger os reflexos das manifestações da CNBB e de Dom Odilo Scherer,, já que não houve espaço de tempo para uma medição atenta das consequências e dos reflexos. De qualquer forma, a entrevista de Dom Odilo Scherer, deve ter repercutido entre os católicos, sobretudo em face do avanço na política dos evangélicos protestantes.
A palavra evangélico, na minha opinião, refere-se ao documento de Mateus, Lucas, Marcos e João, base do Novo Testamento, cujos princípios são tão católicos quanto o protestantismo evangélico. Este é outro ponto de atrito entre o catolicismo e o protestantismo que surgiu como Martinho Lutero em 1520, portanto há mais de 500 anos.
O documento dos quatro evangelistas já existia há 1500 anos. Vamos aguardar, como disse há pouco, os desdobramentos do choque que foi levado a primeiro plano entre as posições dos evangélicos e do catolicismo.
INVESTIDA – Na Folha de S. Paulo, edição de ontem, Matheus Teixeira, Júlia Chaib, Daniel Brand e Caue Fonseca, publicaram reportagem revelando que diante das reações contrárias até por parte de aliados seus, o presidente Jair Bolsonaro resolveu recuar sobre o que afirmou há poucos dias a respeito do Supremo Tribunal Federal e as alterações que propôs caso seja reeleito.
Agora é tarde, em matéria de votos perdidos, pois o recuo, está claro, é apenas tático. O que Bolsonaro pensa e pretende propor, se reeleito, ao Congresso Nacional é o que verdadeiramente fará se obtiver um novo mandato. A reforma do STF, conforme já escrevi, abrange a abala todo sistema judiciário do país.
DEFLAÇÃO – O IBGE conseguiu no início desta semana registrar a terceira deflação seguida no país, desta vez apontando uma queda de preços de 0,29%. O instituto prefere basear seus cálculos no preço da gasolina e não leva em conta a subida de preços dos alimentos.
Fica clara esta engrenagem na reportagem de Carolina Nalin, O Globo, e também na matéria de Daniela Amorim e Cícero Cotrim, o Estado de S.Paulo. Provavelmente, acentuo, o IBGE deve antecipar para 30 de outubro, pelo menos, a prévia da inflação a ser registrada neste mês.
O IBGE conseguiu, inclusive, diminuir a taxa inflacionária dos últimos 12 meses que estava batendo em 11% para 7,1%, um verdadeiro “milagre brasileiro”. Deflação só poderia ocorrer se houvesse recuo em relação ao primeiro mês do período em confronto nos últimos 12 meses.
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